sábado, 27 de maio de 2006

Sobriedade.


SobriedadE

A minha vagamunda vida

tornara-se num “sonhadelo”,

de noite sonho era,

de dia pesadelo.

Os meus dias,

ébrios,

passava-os a sorver um néctar

familiar a Baco.

Agora, este farrapo humano,

caía nos passeios,

dormia nos bancos do jardim,

vomitava entranhas pecaminosas.

A minha condição humana esvaíra-se!

A minha auto-estima ria-se,

descaradamente,

de mim e flagelava-me a cada passo.

Estava ali, eu!?

Outro dia

outra noite

outro copo

outra bebedeira

outro banco do jardim

outra vergonha

outro vómito.

Procurei levantar-me,

mas as raízes da fraqueza

cresciam-me nas ruas.

Aquelas pedras velhas e gastas

eram pedaços de mim.

Socorro!!!

Gritei tão surdamente

que ninguém me ouviu.

A multidão ria-se,

passava a meu lado,

desviava-se, meneando

negativamente

a cabeça.

Chorei!

Lágrimas salgadas,

fermentadas pelo vinho;

lágrimas odorantes,

com odor a vómito.

Tive vergonha!

Quis erguer-me.

Caí.

Já era tarde.

Aquele vício mitológico

levara-me tudo

e destruíra-me para

...sempre.

in “Poder da Díctamo” (José Amaral)

2 comentários:

João A Gonçalves disse...

Olá Zezé! Só para dar 1 abraço amigo.
João Gonçalves

Luís Miguel da Silva Pinho disse...

Excelente!!! Tens de divulgar mais poemas "online" ;)