Mais uma sugestão de leitura para as férias. Acabei de ler o livro Peito Grande, Ancas Largas (602 pág., “Ulisseia”) do chinês Mo Yan (nascido a 5 de Março de 1955) que tem sido várias vezes mencionado como candidato ao Nobel da Literatura. Segundo Mo Yan, se quisermos podemos ignorar todos os seus livros, mas é obrigatório que leiamos “Peito Grande, Ancas Largas”, pois é um romance sobre a história, a guerra, a política, a fome, a religião, o amor e o sexo.Quando foi publicado em 1995 este romance causou grande polémica, devido ao teor sexual que percorre todo o livro e por apresentar uma versão da luta de classes diferente da do PC Chinês.
Este é um Romance épico sobre mulheres, num país dominado por homens, cujo expoente máximo é Shangguan Lu, a protagonista. Casa-se com dezassete anos e teve nove filhos. Para sua infelicidade só teve filhas, mas o último (gémeo da oitava) nasceu varão. Nenhum dos filhos é, contudo, do seu marido. O rapaz é inseguro e fraco ao contrário das irmãs. Este romance retrata e percorre a China do século XX. O livro está muito bem escrito e lê-se com bastante agrado. O único senão – aliado à totalidade das páginas – é o tamanho da letra e o espaçamento entre linhas. Nada que não se supere, pois o livro prende-nos a atenção.
O AD LITTERAM deixa aqui um pedacinho da história:
«A minha segunda irmã afastou então as pernas, dobrou-se pela cintura, e largou a correr, descrevendo um círculo completo. Os seus membros eram flexíveis como o ramo do salgueiro, os seus passos serpentes ondulando entre espigas finas. Era uma noite sem vento, porém de um frio penetrante, mas a minha irmã trazia apenas roupa fresca. A Mãe olhava pasmada; o corpo da minha irmã desenvolvera-se depressa depois de ela comer a enguia; tinha os seios como duas peras, graciosamente torneados, e viria a perpetuar, sem dúvida, a tradição gloriosa das mulheres Shangguan, todas com peito grande e anca larga. Depois do círculo completo a correr, nem sequer estava ofegante, mantendo uma postura inalterada».
(José Amaral)