terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Depois da folia...

Diz o povo, na sua sabedoria popular, que “a vida são dois dias e o Carnaval três”. Com as festas carnavalescas a despedirem-se entramos no tempo da Quaresma. A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma, no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte. A Quaresma ocorre quarenta dias antes da Páscoa. Para os cristãos serve, este dia – quarta-feira de cinzas – para lembrar quão efémera é a vida. “Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris” (Lembra-te homem, que és pó, e em pó te hás de converter).
Aqui fica um poema, retirado do “Poemário do desterro”, da autoria de Henrique Marques Samyn:


Quarta-Feira de Cinzas

E quando a Quarta-Feira enfim chegou
e em cinzas transformou toda a folia,
rasgou, despudorada, a fantasia
que tantos mascarados deslumbrou;

e quando a Quarta-Feira enfim chegou,
fingiu não ver o mais cinzento dia;
e, em meio à rua clara e tão vazia,
cantou marchinhas e canções de amor.

No corpo nu calou toda a tristeza:
deitou-se, doida de melancolia,
na cama de confetes da calçada.

Tigresa, fez da quarta-feira presa:
lançou-se, incontrolável, sobre o dia –
bebeu, sedenta e só, a madrugada.

(José Amaral)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Prosa "alegre"

No seguimento do post anterior, apresento o verso do livro da colecção da “Visão” («Frente e Verso»). O autor é Manuel Alegre e a obra é A Terceira Rosa (138 páginas). Este livro lê-se com muito agrado, numa escrita cuidada e escorreita.
Este romance parece vivido na primeira pessoa, muito antes de as personagens encarnarem os seus feitos. O autor fala da paixão de Xavier e Cláudia, e o enredo desenvolve-se todo em torno da paixão. Em certos momentos, o autor explica cada sentimento de uma maneira própria, parecendo existir uma cumplicidade com a história escrita. Pelo título se consegue entrever o conteúdo do livro: a rosa, símbolo da paixão.
Vale a pena ler este belo livro.

(José Amaral)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Poesia "alegre"

A revista "Visão" está a lançar uma edição denominada «Frente e Verso». De um lado do livro Poesia, do outro Prosa. Autores em Português. O Primeiro livro é dedicado a Manuel Alegre. O livro que hoje apresento é Livro do Português Errante. São 41 poemas, com a mestria a que Alegre nos habituou. Lêem-se com agrado e são mais uma bela sugestão para estes dias de folia.
Aqui vos deixo um desses poemas:




Melancolia




Olhando distraído o armário eu vi
o sol que nele se reflectia.
E comecei: «um quadrado de luz
num rectângulo de sombra.
Ou talvez um quadro
uma equação
um exercício de pura geometria.»
Mas enquanto fazia isto que faço
já o sol no ocidente se escondia
deixando no armário um breve traço
de profunda profunda melancolia.




(José Amaral)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Carnaval


O Carnaval no Olimpo

Resplandece o Olimpo. Júpiter está sentado... no Alto da
Serra, mais fulgurante do que um sol. Mercúrio, Apolo,
Marte, Netuno, Minerva, Plutão, estão sentados mais abaixo, em
atitude respeitosa. Gênios alados correm o cenário,
oferecendo aos deuses copos de caldo de cana e caprade.
Júpiter
Não falta nenhum deus? Estamos todos, não?
Vai começar...
Apolo

...A Inana
Júpiter (severo)
Aquiete-se!... A Sessão!
Como sabeis, aí vem o Carnaval. Vejamos:
Não brincaremos também? Não nos fantasiamos?
Quero, entre os ideais com que me preocupo,
Dar um exemplo ao povo, organizando um grupo.
(...)
Se saíssemos nós sem braços e em salmoura
Para representar o Grupo da Lavoura!
Mas não convém baixar o preço do café...
Tome a palavra alguém! Netuno, por quem é...
Salva esta situação!

Netuno
Lá vou! Estou pensando...
Podíamos sair todos sete... imitando
Uns sete Aquidabãs, como um ar aborrecido
Voltando para o porto... antes de ter saído:
Seria essa a alusão melhor do Carnaval!

Plutão
E o nome do Cordão?

Netuno
Grupo Glória Naval!
(...)

Minerva
Eu já tinha pensado em um grande cordão
Com tudo o que se disse aqui num carroção:
Hidra, Aquidabã, Abel, Lavoura e Notas,
E por cima de tudo um mineiro com botas!
Mas, ó povo! Com essa quebradeira
Por que não pensar em simples zé-pereira,
Com três caixas, um bumbo e o nosso bom humor?
(...)

Coro
Se o Padre Santo soubesse
O gostinho que isto tem,
Vinha de Roma até cá
Tocar zabumba também. (Cai o pano.)


(Olavo Bilac)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Leitura "carnavalesca"

Desta feita, e para ler neste Carnaval, pois lê-se em duas penadas, sugiro Boa Noite, Senhor Soares (Dom Quixote, 93 páginas) de Mário Cláudio. Trata-se do novo livro (uma novela) deste autor já bastante premiado.
O livro relata-nos a história de António. Um rapaz da aldeia. Foi para a cidade; Lisboa, à procura de uma vida melhor. Nesta altura, os heterónimos de Pessoa e o próprio Pessoa andavam pelas ruas da Baixa. António arranjou trabalho num armazém de tecidos e instalou-se em casa da irmã (Florinda) e do brutamontes do cunhado (Gomes).


António foi depois caixeiro, empregado no escritório onde trabalhava o Sr. Soares, um tradutor entre livros de contas e de contabilidade. O senhor Soares era um homem estranho a quem chamavam poeta, que se sabia ser poeta, mas de quem António não conhecia a poesia. António apenas admirava a estranheza da figura e o respeito tutelar que ela lhe impunha. Este livro gira à volta da figura de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, narrador do “Livro do Desassossego”.
É um livro de costumes, mas acima de tudo um livro interior, onde nos apercebemos da existência de um rapaz de sonhos, que se transforma num homem banal, anti-herói de uma ficção que reconstitui uma certa Lisboa, com as suas falas, a gente, as ruas, as coisas que se perderam e outras que permanecem, imutáveis. É um livro um pouco ao jeito de uma “Lisbon revisited”.
Recomendo vivamente este livro, que se lê com redobrado agrado.

(José Amaral)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cinema

Hoje deixo aqui duas belíssimas sugestões, a não perder. Dois excelentes filmes.
O primeiro filme é A Dúvida. Ambientado no ano de 1964, numa escola católica do Bronx, a história gira em torno de uma freira que passa a suspeitar de um padre que vem demonstrando profundo interesse num jovem aluno negro. Para ela, o padre está cometendo abuso sexual. Este animado e carismático sacerdote, padre Flynn, está a tentar acabar com os austeros uniformes escolares que são defendidos ferozmente, há já muito tempo, pela irmã Aloysius Beauvier, a directora com mão de ferro que acredita no poder do medo e da disciplina. Os ventos da mudança política estendem-se pela comunidade e a escola acaba de aceitar o seu primeiro estudante negro, Donald Miller. Mas quando a irmã James, uma inocente optimista, partilha com a irmã Aloysius a sua suspeita de que o padre Flynn presta demasiada atenção a Donald, a directora enceta uma cruzada pessoal para descobrir a verdade e expurgar Flynn da escola. Sem nenhuma prova para além da sua certeza moral, a irmã Aloysius vai entrar numa batalha de força com o padre Flynn que vai dividir a comunidade com consequências irrevogáveis. São quatro os actores deste filme nomeados para o Óscar: Meryl Streep (como actriz principal), Philip Seymor Hoffman (como actor principal) e Viola Davis e Amy Adams (como actrizes secundárias).
O segundo filme é Valquíria, um filme rodado na capital alemã, conta a história de um atentado que podia ter eliminado o 'Fuhrer' (Adolf Hitler). O coronel Claus von Stauffenberg, interpretado por Tom Cruise (numa excelente participação), sem um olho, a mão direita e dois dedos da esquerda participou numa espectacular tentativa de assassinato do ditador alemão. Stauffenberg e outros sete oficiais acreditavam que o regime estava condenado ao fracasso e, no dia 20 de julho de 1944, prepararam uma emboscada dentro do bunker de Hitler, conhecido como Toca do Lobo. Aí, durante uma reunião de militares, Stauffenberg deixou uma pasta que continha explosivos, que detonariam quando ele já estivesse a caminho de Berlim, onde um golpe de Estado era preparado para entrar em acção, logo que fosse confirmada a morte de Hitler. A pasta, no entanto, foi casualmente deslocada do seu local de origem por um dos participantes da reunião. Alguns centímetros que garantiram a sobrevivência de Hitler por mais alguns meses: ele foi protegido da explosão pela pesada mesa ao redor da qual ocorria o encontro, sofrendo escoriações pelo corpo.
São dois filmes que recomendo vivamente que mais não fosse por este belo leque de actores e actrizes.

(José Amaral)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Surreal

André Breton nasceu em Tinchebray, a 19 de Fevereiro de 1896 e faleceu em Paris, a 28 de Setembro de 1966. Foi um escritor francês, poeta e teórico do surrealismo.
Em 1919, Breton funda com Louis Aragon e Philippe Soupault a revista Littérature e entra, também, em contacto com Tristan Tzara (fundador do Dadaismo). Breton publica o Primeiro Manifesto Surrealista, em 1924.
Aqui fica um poema de Breton, numa tradução de António Ramos Rosa e um outro na língua original:

Um homem e uma mulher absolutamente brancos


Lá no fundo do guarda-sol vejo as prostitutas maravilhosas
Com trajes um pouco antiquados do lado da lanterna cor dos bosques
Levam a passear consigo um grande pedaço de papel estampado
Esse papel que não se pode ver sem que o coração se
nos aperte nos andares altos de uma casa em demolição
Ou uma concha de mármore branco caída no caminho
Ou um colar dessas argolas que se confundem atrás delas nos espelhos
O grande instinto da combustão conquista as ruas
onde elas caminham Direitas como flores queimadas
Com os olhos na distância levantando um vento de pedra
Enquanto imóveis se abismam no centro da voragem
Nada se iguala para mim ao sentido do seu pensamento desligado
A frescura do regato onde os sapatinhos delas
banham a sombra dos seus bicos
A realidade daqueles molhos de feno
cortado onde desaparecem
Vejo os seus seios que abrem uma nesga de sol na noite profunda
E que se abaixam e se elevam a um ritmo
que é a única exacta medida da vida
Vejo os seus seios que são estrelas sobre as ondas
Seios onde chove para sempre o invisível leite azul.



Pièce fausse


à Benjamin Péret


Du vase en cristal de bohème
Du vase en cris
Du vase en cris
Du vase en
En cristal
Du vase en cristal de bohême
Bohême
Bohême
Bohême
Hême hême oui bohême
Du vase en cristal de Bo Bo
Du vase en cristal de bohême
Aux bulles qu'enfant tu soufflais
Tu soufflais
Tu soufflais
FlaisFlaisTu soufflais
Qu'enfant tu soufflais
Du vase en cristal de bohême
Aux bulles qu'enfant tu soufflais
Tu soufflais
Tu soufflaisoui qu'enfant tu soufflais
C'est là c'est là tout le poème
Aube éphé
Aube éphé
Aube éphémère de reflets
Aube éphé
Aube éphé
Aube éphémère de reflets



(José Amaral)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Superstição

(Imagem retirada da Internet)

Uma Sexta-feira 13 ou seja, uma Sexta-feira no dia 13 de qualquer mês, é considerada popularmente como um dia de azar.
O número 13 é considerado de má sorte. Na numerologia o número 12 é considerado um número de coisas completas como 12 meses no ano, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus ou os 12 signos do Zodíaco. Já o 13 é considerado um número irregular. A sexta-feira foi o dia em que Jesus foi crucificado e também é considerada um dia de azar. Somando o dia da semana de azar (sexta) com o número de azar (13) temos o mais azarado dos dias.


(José Amaral)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Teatro

Não é meu hábito divulgar aqui textos dramáticos, mas há sempre uma primeira vez. Trata-se de Medeia (Dom Quixote, 51 páginas) de Mário Cláudio. Uma peça muito bem escrita e de agradável leitura. Convém não esquecer que MC é um autor com uma vasta e multifacetada obra. Já foi galardoado com vários prémios dos quais se destacam o “Prémio Pessoa” e o “Prémio Vergílio Ferreira”.
Este texto dramático fala de “Uma actriz que arrasta, ao longo da vida, a obsessão de representar a Medeia, de Eurípedes, e empolgada pela ânsia que se torna matéria da alma, precipita na morte dos que a rodeiam o seu próprio e irredimível aniquilamento”. Como se pode ler na contracapa do livro “Uma célebre actriz de um país pequeno, vivendo o seu fim de carreira através de algumas dificuldades de memorização, contempla o fracasso do seu projecto de produzir a Medeia, de Eurípedes, que desde sempre a acompanhou. Também ela por isso, descomandada pela paixão, e à semelhança da heroína clássica, acabará por assassinar os próprios filhos”.
Na mitologia grega, Medeia era a filha de Eetes, rei da Cólquida (actual Geórgia), mulher de Jasão, de quem teve dois filhos. O rei de Corinto convence Jasão a trair a mulher, para se casar com a filha deste, Glauce. Medeia, ao saber da trama, decide vingar-se matando a rival e os filhos que tinha tido com o marido infiel.
Vale a pena ler e se possível assistir a esta peça.

(José Amaral)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dois grandes escritores

Boris Pasternak nasceu em Moscovo, a 10 de Fevereiro de 1890 e morreu em Peredelkino, 31 de Maio de 1960. Foi um poeta e romancista russo.
Aqui fica um poema da sua autoria:

Um risco maduro de assobio.

O trincar do gelo comprimido.

A noite, a folha sob o granizo.

Rouxinóis num dueto-desafio.

Um doce ervilhal abandonado

A dor do universo numa fava.

Fígaro: das estantes e flautas —

Geada no canteiro, tombado.

Tudo o que para a noite releva

Nas funduras da casa de banho,

Trazer para o jardim uma estrela

Nas palmas húmidas, tiritando.

Mormaço: como pranchas na água,

Mais raso. Céu de bétulas, turvo.
Se dirá que as estrelas gargalham,

E no entanto o universo está surdo.


(Boris Pasternak, in “Definição de poesia”
Trad. de Haroldo de Campos)


Bertolt Brecht nasceu em Augsburg, a 10 de Fevereiro de 1898 e faleceu em Berlim, a 14 de Agosto de 1956. Foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX.
Aqui fica, também, um poema da sua autoria:


General, Your Tank is a Powerful Vehicle

General, your tank
is a powerful vehicle
it smashes down forests
& crushes a hundred men.

but it has one defect:
it needs a driver.

General, your bomber is powerful
it flies faster than a storm&
carries more than an elephant.
but it has one defect:
it needs a mechanic.

General, man is very useful.
He can fly & he can kill.
but he has one defect:
He can think.


(José Amaral)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Poema

Jacques Prévert nasceu em 1900, em Neuilly-sur-Seine, França, a 4 de Fevereiro, onde passou a sua infância. Seu pai, André Prévert, crítico de dramaturgia, leva-o sempre ao teatro e sua mãe, Suzanne Catusse, inicia-o na leitura. Foi um poeta e roteirista francês.
Participa do movimento surrealista, junto com seu grupo, formado por Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Mas Prévert, com seu espírito independente, não consegue permanecer por muito tempo num mesmo grupo, seja ele qual for.
Morre em Omonville-la-Petite aos 77 anos, a 11 de Abril, de cancro do pulmão. Aqui fica um poema que espelha bem a sua mestria.

(Imagem retirada da Internet)


DÉJEUNER DU MATIN

Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec le petit cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a resposé la tasse
Sans me parler
Il a alumé
Une cigarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis des cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur la tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
E moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
E j'ai pleuré.



(José Amaral)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

La chandeleur

Chandeleur é uma palavra francesa que vem do latim “candela”, sendo retomada na expressão festa candelarum, festa das candeias.
Assim, nas igrejas, as tochas são substituídas por círios benzidos que se conservam acesos para transmitir uma mensagem de luz ou para afastar as tempestades, a morte, enfim, tudo o que personifique o mal.
Também pretendem invocar os bons augúrios das sementeiras de Inverno, a fim de estas produzirem fartas colheitas, no Verão.
Em França, é típico, neste dia, 2 de Fevereiro, a confecção de crepes, recheados com açúcar, canela ou, para os mais gulosos, com chocolate e todo o tipo de compotas. Os crepes, diz-se, têm esta forma e a esta cor para evocar o Sol que regressa, finalmente, após uma longa e fria noite de Inverno.
Há, também, muitos provérbios associados a este dia. Eis alguns:

À la Chandeleur, l'hiver se meurt ou prend vigueur.
À la Chandeleur, la neige est à sa hauteur.
À la Chandeleur, le jour croît de deux heures.
À la Chandeleur, le froid fait douleur.
À la Chandeleur, Rose n'en sentira que l'odeur.
Si la chandelle est belle et claire, nous avons l'hiver derrière, si le ciel n'est ni clair ni beau, nous aurons plus de vin que d'eau.


(José Amaral)

Poemas actuais












A Neve


A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar.
Sinto um gozo de animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as acções do mundo.


(Alberto Caeiro - Heterónimo de Fernando Pessoa,
in "Poemas Inconjuntos" )












Comunicado

Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.

(Miguel Torga)