domingo, 31 de janeiro de 2010


No primeiro dia das comemorações do Centenário da República...


XIX


As cores que da Bandeira Portuguesa,
por trinta dinheiros quinadas,
florescem num vivo e odorífero cravo
prenhe de esperança e de sangue
serão a minha mortalha.

Sou o País que se arrasta
num negro fado vestido,
que grita gemidos de guitarra
quando muitos fazem a farra.
Não me reconheço na Revolução
que trouxe para a rua
com promessas de um futuro melhor,
pois vejo um passado já gasto
e um presente-futuro pior.

Matem-me!
Disparem contra mim,
acabem com esta minha triste sina
e descansarei em paz, por fim!




(in "25 de Abril/34 Anos", José Amaral)



domingo, 24 de janeiro de 2010

Quase quase a conhecerem-se os nomeados para os Óscares, esta semana fica uma sugestão cinematográfica. Trata-se do filme Nas Nuvens (“Up in the air”), de Jason Reitman. Conta com as excelentes participações de George Clooney, Vera Farmiga e Anna Kendrick.
É um filme que nos faz pensar na vida, no corre-corre, nas relações humanas… Aqui fica a sinopse:
«Ryan habituou-se a um estilo de vida livre por entre aeroportos, hotéis e carros de aluguer. Consegue levar tudo o que necessita no seu pequeno trolley; é membro VIP de todos os programas de fidelização que existem; e está prestes a atingir o seu objectivo de vida: 10 milhões de milhas, como cliente regular – e porém… Ryan não tem na vida a que se possa agarrar. Quando se apaixona por uma companheira de viagem, o seu patrão, inspirado por uma ambiciosa jovem perita em eficiência, ameaça limitá-lo ao escritório, longe das constantes viagens. Deparando-se com a perspectiva, simultaneamente aterradora e excitante de ter de deixar de voar, Ryan começa a vislumbrar o verdadeiro significado de ter um lar...».

(José Amaral)

sábado, 16 de janeiro de 2010

XI


Sem à dita de Aquiles ter enveja”,
o maior dos vícios
dos pequenos e pelintras
e provincianos portugueses,
surge D. Sebastião
num nevoento vinte e cinco de Abril.

Como um louco
na sua sadia embriaguez
empunha numa mão
uma caneca de cerveja
e na outra arma e cravo
que lhe germina do coração.
Blasfema e troveja heresias
espremidas da pessoana pena:
«Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…».


(José Amaral, in "25 de Abril/34 anos")

sábado, 9 de janeiro de 2010

Frrrrrrrrrrrrio


Orvalhada


Nas vetustas folhas
daquele imberbe
carvalho
luzem
gotas
de orvalho.

Brilham
rebrilham
refulgem
um brilho
a perfume
de rosas brancas.


(José Amaral, in "Outonalidades")


sábado, 2 de janeiro de 2010

1ª sugestão literária 2010

Novo ano e novas sugestões literárias. Após um interregno, mais ou menos longo, debido a muito trabalho aquí fica a primeira sugestão literaria para este novo ano.
Trata-se de O Fantasma de Hitler (Dom Quixote, 460 páginas) de Norman Mailer. Mailer é autor de mais de 30 títulos, entre os quais “Os Exércitos da Noite”, pelo qual obteve um National Book Award e um Pulitzer, e o “Canto do Carrasco”, que o distinguiu com um segundo Pulitzer.
O autor recria a história de uma família incestuosa, descrevendo três gerações de ascendentes do ditador nazi (Adolf Hitler) durante o século XX, na Áustria. Trata-se de um romance sobre a vida de Hitler e sobre a sua família. Adolf Hitler é um tema natural para um autor como Mailer. O narrador é um SS misterioso (chamado Dieter, alto, louro, de olhos azuis, cuja unidade especial reporta directamente a Himmler) que sabe segredos extraordinários, e que nos revela o jovem Adolf desde a infância, aproveitando, ao mesmo tempo, para nos esclarecer sobre a mãe, o pai, os irmãos. Toda aquela invulgar família. E é através de uma galeria de personagens inesquecíveis que observamos, como nunca antes, a luta entre o bem e o mal.Mailer argumenta que, como os factos falharam a explicação do fenómeno de Hitler e do regime nazi, cabe à Literatura abordar uma história que excede a compreensão humana e, demonstra no seu entender, a existência do Demónio. O livro termina quando o futuro ditador atinge a adolescência.
O livro vale pela escrita agradável de Mailer. É uma boa sugestão para iniciar, literariamente, este ano.

(José Amaral)