domingo, 28 de fevereiro de 2010

poema


VIII


Hoje, o ano ficou mais pequeno!

O silêncio ensurdecedor
que silva dos lenços brancos
agitados como cravos,
na hora da despedida,
só é cortado
pelo cheiro acetinado
de papel queimado.

As folhas do calendário,
do mês-anão,
queimadas uma a uma
fazem meus olhos chorar
como se degolasse uma cebola.
Aquelas rectangulares folhas,
pretas,
da cor da mortalha de seda
elevam-se no ar
para logo se desfazerem
em flocos de neve.


(José Amaral, in "25 de Abril/34 Anos")

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

E então?... Vai-se andando!

Ontem, 18 de Fevereiro de 2010, tive a possibilidade de ver o conhecido actor José Pedro Gomes no Teatro Viriato, em Viseu, com a comédia Vai-se Andando.
A expressão é conhecida de todos os portugueses e serve de resposta nas mais variadas e comuns conversas de elevador: “Vai-se Andando”. O que pode ser considerado um emblema nacional dá, agora, título a mais uma peça de sucesso da dupla António Feio e José Pedro Gomes, desta vez, com diferentes papéis: Feio encena e José Pedro Gomes interpreta o monólogo que, sem esquecer a devida dose de sarcasmo, se propõe a colocar os portugueses a olharem para si próprios.
Esta comédia debruça-se sobre as manias, preconceitos, tiques, expressões, conformismo e incompetência, características que distinguem os portugueses de outros povos. Desde a sexualidade ao clima, passando pela comida e o trabalho, tudo é passado a pente fino, sob o olhar de um desmesurado galo de Barcelos insuflável, um dos mais pitorescos símbolos nacionais.
A peça, encenada por António Feio, tem textos de, entre outros, Marco Horácio, Nuno Markl e Nilton.

(José Amaral)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Fabuloso...

Ontem, 14 de Fevereiro, a menina querida da Soul britânica, Joss Stone, apresentou-se ao vivo em Portugal. Ontem foi no Coliseu do Porto e hoje, 15 de Fevereiro, será no Coliseu de Lisboa.
Joss Stone nasceu em Devon, terra natal de Agatha Christie e Chris Martin (vocalista dos Coldplay), Joss Stone já vendeu mais de 8 milhões de discos e foi nomeada para quatro Grammys e três Brit Awards! Números impressionantes para quem tem apenas 22 anos.
O espectáculo de Joss Stone foi simplesmente fabuloso. Eu estive lá e posso confirmá-lo. Joss é uma artista com “A” maiúsculo. Simpática, simples (a sua simplicidade começa na indumentária e passa pelos pés descalços – já uma imagem de marca), mas com uma voz fabulosa. Por vezes o público parecia hipnotizado com o desempenho de Joss, muito bem secundada por um corro de duas vozes femininas e por uma banda magnífica, da qual destaco o baterista e o saxofonista.
Este é um daqueles espectáculos para guardar na memória.


(José Amaral)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

silêncio...

02 Fevereiro 2010 - 17h36
Actriz estava internada há uma semana
Morreu Rosa Lobato Faria


A actriz e escritora Rosa Lobato Faria morreu esta terça-feira em Lisboa aos 77 anos, adiantou fonte da família. A causa da morte não foi revelada, mas era público o seu internamento num hospital privado de Lisboa devido a uma grave anemia.
Rosa Lobato Faria estava internada num hospital privado de Lisboa há mais de uma semana com uma grave anemia.
Nascida em Abril de 1932, Rosa Lobato Faria teve uma carreira repartida por várias áreas, entre a televisão, representação, a literatura, a poesia.
Estreou-se nos ecrãs da RTP na década de 1960, sendo a locutora de vários programas. A telenovela ‘Vila Faia' marcou a sua estreia como actriz, dando continuidade em ‘Origens'. Na televisão participou ainda nas novelas ‘Jardins Proibidos' ou ‘Ninguém como tu', e nas séries de humor ‘A minha sogra é uma bruxa' e ‘Humor de Perdição', onde esteve ao lado de Herman José.
No cinema, entrou nos filmes ‘Tráfico' (1988), e 'A Mulher que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América' (2003), ambos do realizador João Botelho.
Com muitas letras para canções, algumas das quais para festivais da canção, Rosa Lobato Faria não temeu entrar no mundo da ficção e da poesia. Em 1995, estreou-se na escrita com o romance “O pranto de Lúcifer”, e 1997 compilou em “Poemas Escolhidos e Dispersos”, escritos desde a sua infância. “O Prenúncio das Águas” (1999), galardoado com o Prémio Máximo da Literatura de 2000, “A trança de Inês” (2001), “O Sétimo véu” (2003), “A Alma trocada” (2007) e “As Esquinas do Tempo” (2008) são outros títulos da escritora publicados.
O corpo da escritora estará esta quarta-feira de manhã na Igreja de Santa Isabel, perto do Largo Rato em Lisboa, onde decorrerá uma missa às 15h00. Segue-se depois o funeral, em sítio a definir, mas será em Lisboa.

(in “Correio da Manhã”)

Há uns tempos atrás fiz aqui, no AdLitteram, referência ao livro A Alma Trocada. Fiz-lhe rasgados, porque merecidos, elogios. É com pena que vejo partir uma grande escritora, mas acima de tudo um exemplo raro nesta nossa sociedade tão poluída de coisas menores. Rosa Lobato Faria era uma Senhora! Embora continue a fazer-nos companhia vamos sentir a sua falta.

(José Amaral)