domingo, 27 de dezembro de 2009

adeus...

A todos os leitores do AdLitteram um Próspero Ano Novo, repleto de muitas realizações.
Brindemos a 2010...





Adeus 2009...

(José Amaral)




sábado, 19 de dezembro de 2009

BOAS FESTAS!... FELIZ NATAL!...




A TODOS AQUELES (E AOS OUTROS, TAMBÉM) QUE AO LONGO DE 2009 PASSARAM PELO ADLITTERAM, UM SANTO E FELIZ NATAL...


(José Amaral)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Brrrrrrrr



Gelidez


Há um frio
de morte
no ar...

Esta noite,
de Verão,
fria
chuvosa
ventosa
gélida
incaracterística
convida-nos a dormir
com a mortalha
junto ao corpo
frio…
da noite.


(in "Outonalidades", José Amaral)

domingo, 6 de dezembro de 2009


De profundis amamus


Ontem às onze fumaste um cigarro encontrei-te sentado
ficámos para perder todos os teus eléctricos os meus estavam perdidos por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes
olhar a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não
faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso

(Mário Cesariny)
(José Amaral)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

S.I.D.A. - A.I.D.S.


1 DE DEZEMBRO
DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A SIDA
(José Amaral)

sábado, 28 de novembro de 2009

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, a 13 de Junho de 1888 e faleceu na Capital Portuguesa a 30 de Novembro de 1935. Poeta e escritor português.
Durante sua discreta vida, actuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na Literatura.
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos.






Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

(Fernando Pessoa)





Oscar Wilde nasceu em Dublin, a 16 de Outubro de 1854 e faleceu em Paris, a 30 de Novembro de 1900. Escritor irlandês foi criado numa família protestante. Sempre teve uma vida social agitada.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário local, o que o leva a abandonar seu movimento estético.



Soneto à Liberdade


Não que eu ame teus filhos cujo olhar obtuso
Somente vê a própria e repugnante dor,
Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nada
É que, com seu rugir, tuas Democracias,
Teus reinos de Terror e grandes Anarquias
Reflectem meus afãs extremos como o mar,
Dando-me Liberdade! - à cólera uma irmã.
Minha alma circunspecta gosta de teus gritos
Confusos só por causa disso: do contrário,
Reis com sangrento açoite ou seus canhões traiçoeiros
Roubavam às nações seus sagrados direitos,
Deixando-me impassível e ainda, ainda assim,
Esses Cristos que morrem sobre as barricadas,
Deus sabe que os apoio ao menos parcialmente.

(Oscar Wilde)






(José Amaral)







sexta-feira, 20 de novembro de 2009


IV


O país vive anestesiado
numa dor imposta
pela lei do “manda quem pode,
obedece quem deve”.

Na gaiola da opressão,
e enquanto o silêncio
do bâton azul do lápis
serve para postergar
a Liberdade de expressão,
a velha ave de rapina
cai da cadeira.

O povo esperançado,
pela queda do velho senhor,
procura na Revolução exorcista
solução para a dita dor.


(José Amaral, in "25 de Abril/34 anos")

domingo, 15 de novembro de 2009

Eu tolero, tu toleras, ele tolera?...

A Organização da Nações Unidas decretou o dia 16 de Novembro como o DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA.
Existem duas acepções principais da palavra tolerância. Uma é o “respeito e consideração face às práticas dos outros, ainda que sejam diferentes das nossas”. A outra, que revela o seu sentido mais específico, sublinha que “tolerar é permitir algo que não se considera lícito, sem o aprovar expressamente”, ou seja, não impedir, podendo fazê-lo, que outro ou outros pratiquem determinado mal. A tolerância, entendida como respeito e consideração face à diferença, ou como uma disposição para admitir nos outros uma maneira de ser e de agir distinta da nossa, de aceitação de um pluralismo legítimo, é em todos os aspectos um valor de enorme importância. No entanto, a tolerância não é uma atitude de simples neutralidade ou indiferença, mas uma posição resultante de algo, que ganha significado quando se opõe ao seu limite, que é o intolerável.
A condição humana caracterizou-se sempre pela diversidade. No entanto, lamentavelmente, a aceitação dessa diversidade por parte da humanidade tem sido difícil.
Quantas e quantas vezes nos damos conta que estamos, também nós, a ser intolerantes. Nos nossos dias tudo e nada são motivos para nos tornarmos intolerantes.
É preciso lutar contra a intolerância. Só porque os outros pensam de forma diferente de nós, não quer dizer que sejam nossos inimigos. Têm o mesmo direito que nós temos a pensar da forma que acham mais correcta.

(José Amaral)

sábado, 7 de novembro de 2009

Nunca tinha lido nada de Philip Roth, mas começo a perceber por que é que ele um autor de culto, e que já vem sendo falado, ano após ano, para o Nobel. Pelo menos, deixou-me curioso para procurar novos títulos da sua autoria.
O livro que escolhi, e em boa hora o fiz, para iniciar a leitura de Philip Roth foi Todo-o-Mundo (Dom Quixote, 179 páginas).
Uma escrita cativante que nos prende e que nos deixa agarrados ao livro, que se lê muito facilmente.
Este livro é-nos apresentado como sendo uma história iniludivelmente íntima, embora universal, de perda, arrependimento e estoicismo. A personagem principal, um criativo de sucesso numa agência publicitária, combate contra a imortalidade. Logo a partir do primeiro e chocante confronto da personagem com a morte, nas praias idílicas dos seus verões de infância. Este homem, divorciado, é pai de dois filhos, de um primeiro casamento, que o desprezam, e de uma filha, de um segundo casamento, que o adora. É o irmão querido de um bom homem, cuja boa forma física virá a despertar nele uma amarga inveja, e é o solitário ex-marido de três mulheres muito diferentes com quem teve casamentos desastrosos.
Como podemos ler na sinopse do livro «O terreno em que se desenrola este romance poderoso – o vigésimo sétimo livro de Roth e o quinto a ser publicado no século XXI – é o corpo humano. O seu tema é a experiência comum que a todos nós aterroriza. Uma história iniludivelmente íntima, embora universal, de perda, arrependimento e estoicismo – o combate de um homem contra a mortalidade».
Um livro que merece uma leitura atenta. Recomendo.

(José Amaral)

sábado, 31 de outubro de 2009

Genial! Obrigatório!...

Após algum tempo sem apresentar novas sugestões literárias, eis-me de novo a fazê-lo. Desta feita trata-se de uma obra-prima, a não perder. A tarefa pode afigurar-se difícil, mas logo logo se torna numa agradável tarefa. Torna-se numa droga literária, que nos agarra da primeira à última página. E são muitas, as páginas! Mas parecem poucas.
Trata-se de 2666 (Editora Quetzal, 1030 páginas), de Roberto Bolaño.
A crítica é unânime em aclamar Bolaño e é justa essa aclamação. Para José Mário Silva, no “Expresso”, «[o leitor fica] hipnotizado desde as primeiras páginas pela riqueza estilística da prosa de Bolaño, pela invenção e energia pura da sua linguagem. [...] são mais de mil páginas geniais e magnéticas. “2006” [é] o acontecimento literário de 2009.» Francisco José Viegas, no “Público”, disse que «Depois de ter lido Bolaño a nossa vida muda um pouco. Não se pode esquecer que aquilo que ele deixou escrito, e que é uma tempestade, uma torrente, um delírio, como deve ser a literatura.»Já no jornal espanhol, “La Vanguardia” pode ler-se que «2666 está destinado a ser, não só o grande romance em língua castelhana da primeira década no novo século, mas também uma das peças fundamentais de toda a literatura.» Para o “The New Yorker”, «Os temas são a violência, deslocação, a sexualidade da literatura - vertentes interminavelmente recombinadas na Europa, Detroit e México, através de múltiplos narradores e estilos de prosa.»
A crítica abre-nos o apetite para a leitura desta belíssima obra, mas para que esse apetite seja, ainda, mais evidente aqui fica a sinopse desta magnífica obra:
«O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterio-so escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666.
Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis».
É obrigatório ler este livro! Será um crime não o fazer.

(José Amaral)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ontem foi dia de cinema. Confesso que mais movido pela curiosidade, que por outro motivo, fui ver o filme/documentário sobre Michael Jackson. Fiquei agradavelmente surpreendido. Sobre ele muito foi dito, e algumas coisas reprováveis, mas enquanto cantor/entertrainer MJ era realmente genial. Sempre preocupado em atingir a perfeição para agradar aos seus fãs. Pode ter havido alguma selecção, mas aquilo que o filme nos mostra é um MJ nada vedeta, bastante humilde.
Aqui fica a sinopse: «?MICHAEL JACKSON?S THIS IS IT? é o resultado de uma selecção entre mais de 100 horas de imagens inéditas dos ensaios para a Tournée que Michael Jackson faria na O2 Arena, em Londres e que decorreram entre Março e Junho de 2009 no Staples Center, em Los Angeles, e no The Forum, em Inglewood, Califórnia. O filme irá oferecer aos fãs do cantor e amantes de música em todo o mundo, a possibilidade de verem e ouvirem Jackson de uma forma privilegiada e privada, como nunca antes o puderam ver, num olhar exclusivo sobre os bastidores destes ensaios, que incluem diversas músicas do artista. ?MICHAEL JACKSON?S THIS IS IT? traz-nos uma visão única da produção do último espectáculo do cantor, dançarino, realizador, génio criativo e artista fenomenal».
Vale a pena, pela música e pelo espectáculo, ver este filme.

(José Amaral)

domingo, 25 de outubro de 2009

José Malhoa nasceu nas Caldas da Rainha, a 28 de Abril de 1855 e faleceu em Figueiró dos Vinhos, a 26 de Outubro de 1933. Malhoa foi pintor, desenhista e professor português.
Com apenas 12 anos entrou para a escola de Belas Artes. Em todos os anos ganhou o primeiro prémio, devido às suas enormes faculdades e qualidade artísticas.
Realizou inúmeras exposições, tanto em Portugal como no estrangeiro, designadamente em Madrid, Paris e Rio de Janeiro. Foi pioneiro do Naturalismo em Portugal, tendo integrado o “Grupo do Leão”.
Destacou-se também por ser um dos pintores portugueses que mais se aproximou da corrente artística Impressionista.
Em 1933, ano da sua morte, foi criado o Museu de José Malhoa nas Caldas da Rainha. Este museu foi edificado no parque D. Carlos I, em 1940.
O Museu reúne colecções de pintura, escultura, medalhística, desenho e cerâmica dos séculos XIX e XX.
Em Agosto deste ano tive oportunidade de visitar este museu e fiquei, deveras, encantado. Pelo belo parque onde se insere, mas, igualmente, pela obra ímpar de Malhoa. Muitos eram os quadros expostos – embora “O Fado” estivesse ausente – e tanto no interior como no exterior muitas eram as estátuas de beleza impressionante. É um local que merece uma visita atenta.

(José Amaral)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Não esquecer

No dia 25 de Outubro, tem início o período de “Hora de Inverno”.
Assim, os relógios irão ser atrasados de 60 minutos às 2h00 da madrugada de Domingo (25 de Outubro) em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, passando para a 1h00.
Esta mudança é feita conforme o previsto na Lei.
O Dec. Lei no 17/96, de 8 de Março estabelece a relação entre UTC e Hora Legal no Continente e Ilhas da Madeira e dos Açores, ou seja, define quando (dia do ano) se fazem os adiantamentos e atrasos entre Hora Legal e UTC. Actualmente, estas mudanças e definições estão regulamentadas pela coordenação exigida dentro da União Europeia (Sétima Directiva no 94/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio de 1994).

(José Amaral)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

dia do poeta

A 20 de Outubro comemora-se o Dia do Poeta. Infelizmente a Poesia é um género arredio das leituras da maioria dos portugueses. E é pena! A Poesia é um género literário nobre, a arte suprema da escrita. É pena que não lhe seja dada a importância que merece.
Aqui ficam dois poemas sugestivos, de Fernando Pessoa e de Florbela Espanca, para “comemorar” este dia.
Viva a Poesia!


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.



Ser poeta é ser mais alto…

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


(José Amaral)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Cântico

Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins do mundo.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.

(José Régio)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Como decidir?

Está em exibição nas salas de cinema um belíssimo filme. Para a Minha Irmã, de Nick Cassavetes, com excelentes interpretações de Cameron Diaz, Alec Baldwin, Abigail Breslin, Joan Cusack, Jason Patric. Um filme “altamente” emotivo que nos faz pensar, que nos coloca muitas questões de resposta difícil. Um filme que vale a pena ver. Aqui fica a sinopse do filme:
«Os Fitzgerald são uma família como tantas outras e têm dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate chega aos dois anos de idade é-lhe diagnosticada uma forma grave de leucemia. Os pais resolvem então ter outro bebé, Anna, geneticamente seleccionada para ser uma dadora perfeitamente compatível para a irmã. Desde o nascimento até à adolescência, Anna tem de sofrer inúmeros tratamentos médicos, invasivos e perigosos, para fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha. Toda a família sofre com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna resolve instaurar um processo legal para requerer a emancipação médica - ela quer ter direito a tomar decisões sobre o seu próprio corpo».

(José Amaral)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Poe...ta

Edgar Allan Poe nasceu em Boston, a 19 de Janeiro de 1809 e faleceu em Baltimore, a 7 de Outubro de 1849. No dia 3 de Outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram as suas, em estado de “delirium tremens”, e levado para o Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro dias depois. Foi um escritor, poeta, romancista, crítico literário e editor.
Aqui fica um poema sugestivo de Poe:



Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor –
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demónios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.



(José Amaral)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


InsóniA

A minha cama parecia
um mar revolto,
em dia de tempestade.
Eu parecia um barco
à deriva.

As ondas, gigantes,
faziam-me sentir um anão.
Esta insone epopeia
parecia não findar.

Voltas e mais voltas
deste barco, indefeso,
qual casca de noz,
procurando um porto de abrigo.

Fogos de S’Antelmo,
Adamastores,
trombas d’água,
vagas enormes,
tudo servia para amedrontar
este pobre mareante.

Tu? Quem eras, tu?

O canto da sereia
foi a punhalada final,
e fatal,
nesta agonia.

Naufraguei pela vida...


(in "Poder da Díctamo", José Amaral)

domingo, 27 de setembro de 2009

Guerra Colonial

Desta feita chego ao fim das leituras resultantes do encontro de escritores, da “Papiro Editora”, a 25 de Abril de 2009, no Porto. O livro é de João Carlos Sarabando e chama-se As Hienas Também Choram (Papiro Editora, 451 páginas).
Neste livro o autor traz-nos à memória a guerra colonial. Como diz o autor: «Participaram, cada um à sua maneira, numa aventura onde aprenderam que as palavras sem emoções, as ideias e os preconceitos sem experiência não tinham qualquer significado. No princípio julgavam que iriam participar, cada um por razões diferentes, numa guerra contra alguém. Só mais tarde perceberam que esse alguém eram eles mesmos. Não foi uma guerra contra ninguém, foi a construção de si próprios. Não foram heróis nem traidores, soldados ou guerrilheiros, não participaram na história de ninguém, apenas construíram um bocado da sua. Os abraços que deram, as feridas que lamberam, os amigos que enterraram, ou os inimigos que abateram não foram, por isso mesmo, aquilo que antes julgavam que fosse. Nunca é».
Aqui fica um excerto: «À entrada do bloco esperava-nos o terror... Soldados, ou o que restava deles, e um bocado por todo o lado, faziam bicha deitados em macas, naquele exíguo espaço que não fora dimensionado para semelhante afluência. Os enfermeiros de serviço procuravam fazer a triagem da situação, identificar sumariamente a identidade e o estado das vítimas, ao mesmo tempo que corriam connosco de lá para fora. As portas do bloco operatório, sempre a abrir e a fechar, mostravam de forma intermitente a tragédia desta guerra... a mais sanguinária que se possa imaginar: Soldados a serem amputados de uma ou mesmo das duas pernas, em condições de trabalho impensáveis! Aqueles médicos só sendo super-homens ou super-dráculas, poderiam aguentar um turno daquela carnificina, não havia meio-termo... Os cheiros a suor, sangue, calor e outros mais pestilentos, misturados com gritos lancinantes, transformavam aqueles profissionais em monstros/deuses com gestos sempre bruscos e mecanizados. Nenhum sentimento ou emoção parecia cobrir-lhes o suor a correr em bica dos rostos; apenas o frenesim nas serras a cortar a carne e os ossos para desgraçar a vida, mas matar a morte...»

(José Amaral)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Poeta

T. S. Eliot nasceu em St. Louis, a 26 de Setembro de 1888 e faleceu em Londres, a 4 de Janeiro de 1965. Poeta modernista, dramaturgo e crítico literário recebeu o Nobel de Literatura de 1948.
Eliot nasceu nos Estados Unidos, mudou-se para a Inglaterra em 1914, tornando-se cidadão britânico em 1927, com 39 anos de idade.



Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas húmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.

(Tradução: Ivan Junqueira)
(José Amaral)

domingo, 20 de setembro de 2009

Alzheimer...

No dia 21 de Setembro comemora-se o Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer.
A Alzheimer é a forma mais comum de demência. A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa que, lenta e progressivamente, destrói as células cerebrais. Chama-se assim, porque foi Alois Alzheimer, um psiquiatra alemão, quem em 1906 descreveu pela primeira vez os sintomas e as características neuropatológicas desta doença, tais como placas e tranças neurofibrilhares no cérebro. A doença afecta a memória e o funcionamento mental (por exemplo o pensamento e a fala, etc), mas pode igualmente levar a outros problemas, tais como confusão, alterações de humor e desorientação no tempo e no espaço.
Em 2006 o número de portadores de Alzheimer diagnosticados era cerca de 26.6 milhões de pessoas no mundo inteiro.
Cada paciente de alzheimer sofre a doença de forma única mas existem pontos em comum, por exemplo o sintoma primário mais comum é a perda de memória. Muitas vezes os primeiros sintomas são confundidos com problemas de idade ou de stress. Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas como confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a desligar-se da realidade. As suas funções motoras começam a perder-se e o paciente acaba por morrer.




(José Amaral)

Feriado em terras de Viriato

Segundo a lenda da cidade, em pleno processo de Reconquista, um membro de um grupo de guerreiros chegado à cidade pelo lado oriental, onde se intersectam os rios Pavia e Dão, perguntou: «Que viso (vejo) eu?». Desta pergunta, nasceria o nome da cidade de Viseu.
Viseu é a capital do Distrito de Viseu, na região Centro e sub-região de Dão-Lafões com 47 250 habitantes.
É sede de um município com 507,10 km² de área, com 34 freguesias e 99 016 habitantes segundo os últimos dados do INE de 2008. O Feriado municipal de Viseu é no dia 21 de Setembro.









(José Amaral)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nome maior da Poesia

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage nasceu em Setúbal, a 15 de Setembro de 1765 e faleceu em Lisboa, a 21 de Dezembro de 1805. Foi um célebre poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.
Aqui fica um dos seus mais conhecidos, e belos, poemas:


Já Bocage não sou!... À cova escura

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!



(José Amaral)



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sugestão literária

Depois das férias (na rentrée) deparei-me com a publicação de um livro que me chamou a atenção. Trata-se de uma obra de Junot Díaz que recebeu uma série de prémios, dos quais se destaca o “Pulitzer Prize 2008”. O livro em questão é A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao (Porto Editora, 294 páginas).
É um livro que nos relata a vida conturbada de Oscar Wao, um jovem excessivamente gordo que, por ser rejeitado pelos outros jovens, se refugia nos livros, no cinema e nos jogos. Oscar é rejeitado pelas mulheres por quem platonicamente se apaixona. O livro fala sobre a solidão e a força do destino, que, na opinião do autor, somos nós que o fazemos. É uma obra que prende o leitor do primeiro ao último momento e que nos faz ganhar uma certa simpatia com a personagem principal. Um livro a não perder!...
Aqui fica a sinopse do livro:
«Oscar Wao é enorme. E dominicano. Gozado pelos colegas e isolado do mundo, sonha com raparigas e aventuras extraordinárias, sente vergonha por não estar à altura da reputação viril dos machos dominicanos, mas não consegue mais do que uma vida de desilusões.
Para Oscar, o drama é um fado demasiado familiar.
A sua breve e assombrosa vida está marcada a ferro e fogo por uma maldição ancestral, o fukú, que, nascido em Santo Domingo, é transmitido de geração em geração, como uma semente ruim.
Alimentada pela sorte dos seus antepassados, quebrados pela tortura, pela prisão, pelo exílio e pelo amor impossível, a história de Oscar escreve-se fulgurante e catastrófica, e integra a grande História, a da ditadura de Trujillo, a da diáspora dominicana nos Estados Unidos e a das promessas incumpridas do Sonho Americano».

(José Amaral)

domingo, 6 de setembro de 2009

Está nos cinemas um filme que merece ser visto. Trata-se de Assalto ao Metro 123 (no original “The Taking of Pelham 123”), um “thriller” realizado por Tony Scott e com excelentes interpretações de John Travolta (Ryder) e de Denzel Washington (Walter Garber). Os 121 minutos do filme passam a correr. O suspense vai-se acumulando, mas o final é feliz.
Aqui fica a sinopse do filme:
«Walter Garber, um controlador de tráfego da linha do metro de Nova Iorque, vê-se envolvido no sequestro de um dos comboios por quatro bandidos armados comandados por Ryder, líder tão brilhante quanto implacável, que ameaça matar a sangue frio os 18 passageiros caso o resgate de um milhão de dólares não seja pago no prazo máximo de uma hora. Garber e Camonetti, negociador da polícia de Nova Iorque, são as pessoas do outro lado do telefone que usarão todos os meios para vencer os criminosos e salvar os passageiros. Mas um problema continua sem solução: mesmo que os ladrões consigam o dinheiro, como poderão escapar da linha de metro?»

(José Amaral)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Como venho fazendo, de algum tempo a esta parte, divulgo mais um livro de colegas de escrita com os quais pude privar na comemoração do 25 de Abril deste ano, no Porto.
Desta feita trata-se de um livro de Ana Paula de Castro, Deus Acorda (Papiro Editora, 254 páginas).
Trata-se de um livro de leitura agradável e estimulante. Este romance narra-nos a moderna História de Angola. Daquela que vai dos anos pré-insurreccionais até aos nossos dias.
A autora conta-nos, essencialmente, a história de um miúdo angolano, Adrocasued – Deus Acorda lido ao contrário –, nascido num quimbo perto de Benguela, e que vivia do que a terra lhe oferecia, sem preocupações de maior e em paz contemplativa com a natureza. António era ávido do conhecimento e da inquietude que todos os humanos demonstram ter na presença o desconhecido. Este rapaz fez-se homem, desenvolveu a sua personalidade entre o misticismo natural do povo e o seminário. Este mesmo rapaz-homem vem para a metrópole para se formar em Direito. Passa por tempos conturbados mas consegue realizar os seus sonhos, porque quer Deus, quer os Kazumbiris, desejam que sempre que uma porta se feche, uma janela se abra.
Está de parabéns a autora!

(José Amaral)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Altamente

Aqui fica uma sugestão cinematográfica, género animação (aventura, comédia) que recomendo vivamente. Trata-se de Up–Altamente. Um filme muito bem realizado, com grafismos espectaculares, uma história bem construída e com uma mensagem muito interessante. Esta comédia, dos estúdios Disney Pixar agrada a crianças e adultos.
Aqui fica a sinopse do filme:
«Carl Fredricksen, um vendedor de balões de 78 anos, vai, finalmente, realizar o sonho da sua vida (que gostaria de ter partilhado com a sua mulher Ellie), uma grande aventura, quando prende milhares de balões à sua casa e consegue voar à descoberta da América do Sul. Mas ele vai descobrir, tarde demais, que o seu maior pesadelo também embarcou nesta viagem... Um explorador da natureza, super optimista, de 8 anos, chamado Russel».

(José Amaral)

domingo, 30 de agosto de 2009

Regresso

Depois deste interregno, para descansar e para reganhar forças para mais um ano lectivo, eis-me de regresso. Faço votos para que todos os meus leitores tenham tido umas férias óptimas.
Nada melhor que sugerir mais um livro. Trata-se de Meio Sol Amarelo (Edições Asa, 535 páginas), de Chimamanda Ngozi Adichie. Este romance venceu o “Orange Prize” em 2007.
É um livro sobre guerra, mais especificamente a guerra civil nigeriana, deflagrada no final dos anos 60, na qual o governo central tentava reverter a autodeclarada independência da região de Biafra, o que perdurou entre 1967 e 1970. Mas não conta uma história sobre heróis de guerra ao estilo dos sucessos de Hollywood. Com uma narrativa simples e precisa, a autora nascida na Nigéria e radicada nos estados Unidos, mostra como é ser civil em meio a um conflito em andamento. Chimamanda mostra a trajectória do jovem camponês Ugwu, da professora universitária e filha de família influente Olanna e seu amante, o também professor universitário Odenigbo, da irmã gémea de Olanna, Kainene, e o namorado dela Richard, um inglês interessado pela cultura da ex-colónia britânica. A guerra altera-lhes a vida e esta como era já não existe mais; a única certeza que se pode ter é a da imprevisibilidade dos próximos acontecimentos. As personagens vão ser forçadas a tomar decisões definitivas sobre amor e responsabilidade, passado e presente, nação e família, lealdade e traição. Todas elas vão assistir ao desmoronar da realidade tal como a conheciam devido a uma guerra que tudo transformará irremediavelmente. O romance lê-se com agrado redobrado e o leitor torna-se um “visitante” nas vidas destas personagens. Nós, leitores, vamos acompanhando a decadência das condições de vida das personagens, o modo como se tentam adaptar às novas condições.
É uma obra interessantíssima que nos faz, acima de tudo, pensar nas crueldades que uma guerra pode encerrar, mas ao mesmo tempo no desprendimento e na inter-ajuda daqueles que sofrem.

(José Amaral)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Durante uns dias estarei de férias, pelo que não publicarei nenhum post. A todos os leitores do Ad Litteram desejo umas boas férias, um bom descanso.
Até qualquer dia!..
(José Amaral)

Leitura para férias

Antes de uma pausa para férias, deixo aqui mais uma sugestão literária. Desta feita trata-se de uma obra do vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2008, Le Clézio. A obra em questão é Deserto (Dom Quixote, 190 páginas). Este livro aborda uma das grandes preocupações de Le Clézio, as condições de vida dos povos nómadas ameaçados de extinção.
Porém, não obstante todas as experiências que usualmente transformam os seus conterrâneos relata a marcha de um exército de maltrapilhos muçulmanos que, com os seus camelos e cavalos, cabras, mulheres e crianças atravessa o deserto da Mauritânia, alguns deles vindos de mais longe ainda, do Sudão ou de Tombuctu, para se juntarem, na cidade santa de Smara, às tropas do sheik Al Maminey que pretende avançar para Norte e atacar os colonialistas franceses que hão-de dízimá-los cruelmente, a soldo de grandes interesses económicos. De entre as personagens mais importantes destacam-se Nour, um rapazinho que vive estas experiências de sede, fome, doença, combate e desilusão; e especialmente Lalla ou Hawa ben Hawa, que se apaixona, ainda adolescente, por um pastorinho semi-selvagem, surdo mudo, que a engravida. Esta menina arisca é levada para Marselha numa leva da Cruz Vermelha Internacional e arruma quartos como empregada doméstica, num hotel de prostitutas e vadios.
Descobre-a um grande fotógrafo, impressionado pela sua beleza exótica, que dela faz uma cover girl. Mas, à beira de expirarem os nove meses da gravidez de Lalla, ela sem se despedir de ninguém, deixa França e uma carreira promissora e regressa à sua terra, para aí, frente ao mar, encostada ao tronco de uma árvore, sozinha, dar à luz a criança tão desejada.
É uma obra interessantíssima, com descrições pormenorizadas que nos fazem acompanhar as viagens destas personagens. Merece uma leitura cuidada. Uma sugestão agradável para as férias.

(José Amaral)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

grita

Na senda da divulgação de obras de colegas meus (presentes na comemoração do 25 de Abril de 2009 no Porto), apresento hoje um livro de Lígia Bastos: Grito (Papiro Editora, 203 páginas). A autora é professora e filha do escritor Dário Bastos.
Na contracapa Fátima Silva escreve «Por agora, cumpre-nos apresentar este? Grito? uma obra diferente, revisitada/ressuscitada pela autora, após algum tempo de espera. É que em ?Grito? é uma nova vertente criativa que nos é apresentada - a autora/heroína, de forma bem audível e sentida partilha com o leitor um testemunho vivo - e vivido - de uma época que esperamos não regresse.

(…)
Romance de personagens reais, com alguma pitada de imaginação – sempre necessária na arte da escrita – “Grito” reconduz-nos a um tempo já distante, apresentando-nos problemas sempre presentes, porque intemporais».
No final do livro, contudo, a autora deixa-nos a liberdade de escolher se as personagens são reais, são fictícias ou a mistura de ambas. Serve este livro para reviver esses tempos conturbados do 25 de Abril (antes, durante e um pouco depois). Fica-nos este registo histórico para nos avivar a memória desses outros tempos.

(José Amaral)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

jesusalém

No dia 15 de Julho de 2009, Mia Couto apresentou em Viseu, no Salão da Assembleia Municipal, a sua última obra, o romance Jesusalém.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista. É professor, biólogo, escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século XX), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance "O Outro Pé da Sereia".
Quanto a este seu último romance, “Jesusalém”, lê-se na contracapa que “é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo”.
O livro narra-nos a história de Silvestre Vitalício que, após a morte da mulher, Dordalma, se afasta da cidade e do mundo. Num lugar remoto, uma velha coutada, que ele baptiza de Jesusalém, Silvestre vai viver com os filhos Mwanito e Ntunzi, com o fiel Zacarias Kalash e a jumenta Jezibela que era mais que uma jumenta…
É uma obra, a exemplo de outras suas, que se lê com agrada e num fôlego. Uma obra a não perder, uma leitura alegre e agradável para estas férias.

(José Amaral)

sábado, 25 de julho de 2009

Vale a pena ler

No seguimento da publicação de obras de colegas de escrita (do encontro de 25 de Abril de 2009) apresento desta vez um livro de António Sá Gué, Fantasmas de Uma Revolução (Papiro Editora, 172 páginas). Trata-se de uma obra interessante de leitura extremamente cuidada, e “bastante adjectivada” fazendo lembrar a escrita de Valter Hugo Mãe. O livro narra-nos uma história interessantíssima, vivida nos tempos conturbados da revolução. Aqui fica asinopse:
«Poucos terão sido aqueles que, em idade da razão, não tivessem vivido intensamente o período conturbado do PREC, cheio de contradições e acontecimentos marcantes. Nesse tempo, agora só de memórias, as palavras cortavam como facas e a canção era uma inquietante e irónica arma de revolta. Nessa época de liberdade e libertinagem, alegrias e tristezas, de excessos provavelmente frutos da longa noite de escuridão, concatenaram-se numa longa trama de avanços e recuos políticos, podendo muito bem ter culminado na instalação de uma ditadura do proletariado. Ninguém assistiu a tal realidade, ou melhor, só o personagem central do romance a vive. O Alberto Magro e a família, homem a entrar na casa dos “entas”, temente a Deus, ao Marcelo Caetano e aos valores que ele representa, e sem nunca perceber como, se vê injustamente envolvido em prováveis acontecimentos políticos desse tempo ficcionados ao longo de toda a trama. Nessa hipótese aqui aventada, o país muda tanto quanto a personagem central. O Alberto operário têxtil, pressente a mudança. Vai abrir a porta de casa ao seu irmão que regressa das ex-colónias, conotado com o anterior regime, e vai ver-se injustamente enclausurado em Custóias. Após a sua libertação, ao querer salvar o seu próprio irmão, também ele preso num distópico campo de aprendizagem, vai escavando um profundo “buraco” na terra e nele próprio. Forças que não dominam apoderam-se dele e consomem-no à medida que a revolução avança. Nessa lenta metamorfose mirrante, resultante das injustiças em que se vê envolvido e da descrença nos valores em que sempre acreditou, culminará num paradoxal e trágico acontecimento: o enterro no seu próprio buraco.
O país em paralelo, vai-se igualmente transformando, avermelhando, trancando-se sobre si próprio. A litoralização do país a que hoje se assiste não existe, o interior continua como sempre pobre mas povoado».
Este livro merece uma leitura cuidada. Estás de parabéns Sá Gué.

(José Amaral)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pausa


Uma pausa para um descanso. Até qualquer dia...
(José Amaral)

terça-feira, 14 de julho de 2009

quissonde

No seguimento da divulgação de obras de colegas de escrita (resultante de um encontro de escritores no dia 25 de Abril de 2009), traga “à luz do Blog” uma obra de Rodrigues Miguel, Quissonde Angola 65/67 (Papiro Editora, 59 páginas). É um relato na primeira pessoa de dois anos passados em Angola, em plena guerra colonial. Uma escrita fluente que nos recorda o que foi o passado, porque, como diz o autor, o mesmo não deve ser apagado. Deve ser recordado, mas evitando os erros.
Aqui fica a sinopse:
«A Guerra Colonial foi travada em África nas então Colónias Portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné durante treze longos anos, de 1961 a 1974. Em Angola, teve início no mês de Março de 1961, nos distritos de Zaire, Uige e Quanza Norte, por acção directa da UPA, com violentos e bárbaros massacres de populações brancas e trabalhadores negros de outras etnias, oriundos de outras regiões de Angola. "Quissonde" narra e descreve o decurso de duas operações de uma comissão de dois anos passada em Angola, de 1965 a 1967, na zona de intervenção norte, com um pelotão de Engenharia, que apesar de não ser tropa vocacionada para acções de combate, se viu envolvida em zonas de alto risco».

(José Amaral)

sábado, 11 de julho de 2009

por quatro vezes aqui, no Ad Litteram, sugeri obras de Ken Follet. Maravilhosas!
Por duas vezes “Os Pilares da Terra” (volumes I e II) e “Um Mundo sem Fim” (volumes I e II). Teci os mais rasgados elogios, em particular à primeira obra.
Desta feita, aconselho o novo livro de Ken Follet, O Homem de Sampetersburgo (Bertrand Editora, 350 páginas). Num registo distinto das duas obras atrás referidas, este novo livro não deixa de ser uma pérola literária. Uma excelente leitura de e para férias. Uma leitura que nos prende do princípio ao fim e que quase nos obriga a ler o livro de um fôlego só. É um romance repleto de suspense, luxúria e mentiras. O palco da história é a Londres vitoriana. É simultaneamente um romance sobre um revolucionário russo que viaja até Inglaterra para tentar criar um incidente internacional e uma (despretensiosa) lição de História. Follett apresenta-nos a Alemanha a preparar-se para a guerra e os aliados constroem as suas defesas. Ambos precisam da Rússia. Desenham-se estratégias, cerram-se fileiras. E nisto, o revolucionário russo Feliks chega a Londres com o intuito de cometer um crime que haveria de mudar o curso da História. Muitas são as armas que este mestre da manipulação tem nas suas mãos, mas as mais perigosas são o amor de uma mulher inocente e a paixão insaciável de outra. Contra si erguem-se as forças policiais britânicas, um lorde abastado e influente e o jovem Winston Churchil. Qualquer homem teria sido detido, com excepção do homem de Sampetersburgo…
Aqui fica a sinopse:
«1914: a Alemanha prepara-se para a guerra e os aliados constroem as suas defesas. Ambos os lados precisam da Rússia. O Duque de Walden e Winston Churchill planeiam, em total segredo, uma aliança russa mas um homem infiltra-se em Inglaterra com a intenção de deixar a sua marca na História e deixar o país a seus pés...»

Quem não ler... não sabe o que perde!...

(José Amaral)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

infelicidades


MendicânciA


Faz-se fria a noite, na rua.
Eis que me encontro, aqui,
no aconchego palaciano do meu quarto,
qual poderoso rei mendigando as ruas
- salivadas, cuspidas, escarradas,
pelos janotas engravatados -,
àqueles a quem pertencem.

A frialdade nocturna,
repentinamente, deu lugar
a uma copiosa chuva torrentosa,
que me deixou louco de desejo
de resguardar o mundo
com um gigante guarda-chuva,
dessa pluviátil ameaça.
Estava nervoso!
Comia deleitosamente cigarros
como quem fuma, asquerosamente,
cerejas umas atrás das outras.

Voltei à minha palaciana mendicância.

Mendiguei as pedras paralelepipédicas,
gélidas e amargas,
a quem delas se alimenta
e retira o conforto que só se esbanja
em luxuosas casas.
Ali, na rua de todos,
só os pobres conseguiriam sobreviver
agarrados à miséria
e aos olhares doestos
daqueles que se julgam superiores.
Ali, na rua de todos,
só os ricos conseguiriam perder
não só a dignidade,
assi como a faustosa vida
que seus envidraçados palácios
encobrem desavergonhadamente.

Ali, na rua de todos,
o fidalguia mistura-se, a medo,
com a gentalha numa quasi igual disputa.

Na rua – simplesmente a rua -
os “corpos despidos de alma”
(serão gente?)
vivem o isolamento da multidão
que passa, apressada, ao largo
e nem sequer se digna cruzar
o seu comiserador olhar,
(com medo de ferir a menina dos olhos)
com o empobrecido olhar
daqueles que lhe estendem
a mão migalhando esmolas.

(...)

Anos passaram!
Pedintes nasceram, morreram
e a cidade continuou, indiferente,
às mãos estendidas dos pedintes.


(José Amaral, in "Poder da Díctamo")

domingo, 5 de julho de 2009

No dia 25 de Abril de 2009 participei numa sessão comemorativa desta data, no Porto, com outros companheiros de escrita. Entre eles encontrei Fernando Mascarenhas. A conversa entre ambos foi curta, mas interessante. No final do evento adquiri, deste autor amigo, o livro Cafeína (Papiro Editora, 274). É um livro que se lê com agrado redobrado. Uma escrita solta para uma leitura agradável. Na forma como o Fernando reverte as ideias em escrita, pude constatar a excelente pessoa que ele é. Fica, ainda, a informação de que o autor doou os Direitos de Autor à AMI.
Aqui fica a sinopse:
«A geração de 60 nos anos 70. Um mundo fechado. Um país atrasado. Salazar, a “Primavera Marcelista”, o 25 de Abril. Os anos de brasa. O adeus a África. A Descolonização e o PREC (Processo Revolucionário em Curso). O mundo empresarial e político. A emancipação da mulher. O primeiro abanão nos fundamentos da Família Tradicional. A complexidade das relações e dos sentimentos. O sexo, o amor e a morte».
Parabéns, Fernando!

(José Amaral)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

poema


Olhares


Tinha um brilho triste
nos olhos,
sempre,
aquele cachorrinho rafeiro.

Não seria antes o dono?

Ambos
(parecendo escoteiros de rua)
viviam da misericórdia
anónima dos passantes,
poisque partilhavam
as pedras da calçada
calcorredas
pelas gentes que passam.

O rafeiro
ainda recebia
- abanando a cauda –
festinhas na cabeça;
o humano
- sorrindo –
recebia…
… olhares de soslaio!!!


(José Amaral, in "Outonalidade")

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A não perder...

Já há algum tempo que não fazia nenhuma sugestão literária. Pois aqui fica uma a merecer uma leitura cuidada nestas férias.
Trata-se do livro Mar de Papoilas (Editorial Presença, 456 páginas) de Amitav Ghosh. Este livro foi finalista do Booker Prize de 2008. Há pouco tempo fiz aqui referência ao livro que em 2008 ganhou este prémio. “O Tigre Branco”, de Aravind Adiga.
Contudo, na minha modesta opinião este “Mar de Papoilas” é bem melhor.
Para se ter uma pequena ideia aqui ficam algumas citações sobre esta excelente obra:
«Uma saga de extraordinária riqueza... com muita acção e aventura à la Dumas, mas com momentos de grande profundidade à maneira de Tolstoi - e um toque de sentimento como em Dickens.» (The Observer). «Um romance avassalador…» (The Guardian). «Épico… Em Ghosh cada cena é delineada com arrojo, mas são a vitalidade e o entusiasmo deste magnífico contador de histórias que sustentam esta obra ambiciosa.» (The Daily Mail). Posto isto, nada melhor que a sinopse do livro:
«Este romance histórico desenrola-se no Norte da Índia em 1838, nas vésperas da primeira Guerra do Ópio. No centro desta saga vibrante e muito pouco convencional encontra-se Íbis, um antigo barco negreiro agora propriedade da Companhia das Índias Orientais, que se ocupa a recrutar coolies indianos que substituíam os escravos negros nas plantações de cana-de-açúcar em destinos longínquos, mas principalmente ao transporte de ópio para os consumidores chineses. É o início da diáspora indiana, o que irá reunir gente de todas as proveniências a bordo do mítico e fascinante Íbis. Aí, a ordem sempre precária será várias vezes abalada por episódios violentos. Apesar disso, os passageiros acabarão por se considerar jaházbahai, termo que significa «irmãos de navio». Mar de Papoilas é um romance inédito, pujante e vital».

(José Amaral)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lançamento


A amiga Carla Marques, do Palavras em Desalinho (http://palavrasemdesalinho.blogspot.com/) vai, no dia 27 de Junho, às 16 horas na Biblioteca de Valongo, apresentar a sua obra In-Finitos Sentires.
Este é (segundo informação do seu blog, que aconselho) o seu primeiro livro de Poesia. Quem lê os textos, como eu, que ela publica no seu blog certamente que lhe augura bom futuro para o livro.
Carla, espero que a apresentação corra bem e que o livro seja um sucesso. Desde já, os meus parabéns.


(José Amaral)

domingo, 21 de junho de 2009

O Verão é uma das quatro estações do ano. Neste período, as temperaturas permanecem elevadas e os dias são longos. Geralmente, o Verão é o período do ano reservado às férias.
O Verão do hemisfério norte é chamado de "Verão boreal", e o do hemisfério sul é chamado de "Verão austral".
O "Verão boreal" começa com o solstício dedo Hemisfério Norte, a 21 de Junho, e terminaa com o equi Verão nócio de Outono nesse mesmo hemisfério, por volta de 23 de Setembro.
Finalmente, parece que o calor veio para ficar, embora as temperaturas tenham estado elevadíssimas.
Com o Verão, o Sol e as temperaturas elevadas todos os cuidados são poucos. Para saudar a chegada do Verão aqui fica um belo poema de William Shakespeare:




Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
(José Amaral)