domingo, 30 de novembro de 2008

STOP À SIDA

A 1 de Dezembro, em todo o mundo, comemora-se o Dia Mundial da Luta contra a SIDA. Este flagelo que tem matado muitas pessoas, anónimas ou conhecidas, em todo o mundo.
A palavra SIDA (AIDS em Inglês) é formada pelas primeiras letras duma situação clínica, designada por Síndroma de ImunoDeficiência Adquirida.
Calcula-se que as primeiras infecções ocorreram em África nos anos 30, apesar de o primeiro registo de uma morte por SIDA remontar a 1976, quando uma médica dinamarquesa contraiu a doença no Zaire (República Democrática do Congo). Só quatro anos mais tarde é que começaram a aparecer casos inexplicáveis de doenças oportunistas em homossexuais já contaminados nos EUA.
A descoberta do vírus aconteceu em 1983 e foi atribuída ao francês Luc Montagnier (laureado este ano de 2008 com o Prémio Nobel da Medicina pela descoberta do vírus HIV) do Instituto Pasteur em Paris e ao americano Robert Gallo, do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland nos EUA.
Actualmente cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas com o vírus da SIDA.
O VIH é um vírus bastante poderoso que, ao entrar no organismo, se introduz no sistema sanguíneo, onde começa de imediato a replicar-se, atacando o sistema imunológico, destruindo as células defensoras do organismo e deixando as pessoas infectadas mais debilitadas e sensíveis a outras doenças, as chamadas doenças oportunistas.
A transmissão pode acontecer de variadas formas: relações sexuais desprotegidas, contacto com sangue infectado e também de mãe para filho (durante a gravidez, parto ou amamentação).
Uma das classes de maior risco de contrair o VIH-SIDA são os adolescentes, por falta de conhecimento sobre como prevenir a infecção, pressão dos pares e comportamento de risco.
Segundo o relatório “As Crianças e a Sida”, morreram 290 mil crianças com menos de 15 anos, em 2007, vítimas desta doença. No entanto, segundo o estudo, há progressos no combate à transmissão do HIV de pais para filhos.
Em média, morre uma criança vítima de Sida a cada dois minutos que passam. São cerca de 33 mortes por hora, 795 por dia, ou 290 por cada ano que passa, metade das quais com menos de 2 anos de idade.
Esta doença ganhou maior notabilidade quando alguns famosos, em todo o mundo morreram. De uma lista imensa destacam-se Rock Hudson, Freddy Mercury e o português António Variações.
A melhor “cura” para a SIDA é a prevenção!

(José Amaral)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

FP

Fernando Pessoa, poeta e escritor, nasceu em Lisboa, no dia de S.to António, 13 de Junho de 1888 e faleceu também em Lisboa, a 30 de Novembro de 1935.
É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Teve uma vida discreta, em que actuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterónimos.
Morreu de problemas hepáticos aos 47 anos. Aqui fica um dos seus belíssimos poemas cujo título é tão sugestivo.



Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...



(José Amaral)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Remorsos para quem não ler

Mais uma sugestão literária. Mais um autor português. Mais um Livro premiado. Por ordem: “o remorso de Baltazar serapião” (Quidnovi, 174 páginas), da autoria de Valter Hugo Mãe, vencedor do Prémio José Saramago 2007. Novamente estamos na presença de um livro todo ele escrito em minúscula.
Depois de ter apresentado aqui “o apocalipse dos trabalhadores”, que me deixou expectante quanto à prosa de VHM, li este belíssimo livro e confirmei todas as expectativas. A história centra-sena Idade Média brutal e miserável. Encontramos o protagonista, Baltazar Serapião, que se casa com a mulher dos seus sonhos, Ermesinda, e, tal como o pai fizera antes com a mãe e com a vaca Sarga, fêmeas irmanadas em condição e estatuto familiar, leva muito a sério a administração da sua educação. Baltazar olha a mulher como um ser a necessitar de educação, não um ser qualquer, mas um ser que lhe pertence. O senhor feudal, dom Afonso, pondo os olhos sobre a jovem esposa, não desiste de exercer sobre ela os seus direitos. Baltazar sente-se encornado e quer vingança. Como nada consegue no seu senhor vinga-se na mulher. Entregue aos desmandos do poder e do destino, Baltazar será forçado a seguir por caminhos que o levarão ao encontro da bruxaria, da possessão e do remorso.Com um notável trabalho de linguagem que recria poeticamente a língua arcaica e rude do povo, este livro é uma tenebrosa metáfora da violência doméstica, violência feminina, e do poder sinistro do amor.
Recomendo vivamente esta bela obra.

(José Amaral)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Grande Poeta

Rómulo de Carvalho, mais conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão, nasceu em Lisboa, a 24 de Novembro de 1906 e faleceu igualmente na capital, a 19 de Fevereiro de 1997. Foi um excelente professor, pedagogo, investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência e poeta.
Aqui fica um dos seus poemas mais conhecidos:

(Imagem retirada da Internet)

Pedra filosofal



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.



(José Amaral)

domingo, 16 de novembro de 2008

Uma leitura sem fim...

De volta às sugestões literárias, trago aqui hoje o volume II dessa bela obra de Ken Follet: Um Mundo Sem Fim (Editorial Presença, 588 páginas).
Voltamos a Kingsbridge – donde não saímos desde o 1º volume de “Os Pilares da Terra” – para seguir esta narrativa apaixonante, cheia de amores, ódios, vinganças. A cidade, que ficará conhecida pelo escarlate de Kingsbridge, é assolada pela Peste.
As intrigas continuam no Priorado, onde Godwin chega a prior, acolitado por um não escrupuloso Philemon. Com a chegada da Peste os monges fogem e será Caris a ser nomeada prioresa.
Merthin vai para Florença, após a recusa de Caris em abandonara a vida conventual. Aí casa-se e tem uma filha. A Peste leva-lhe a mulher, mas poupa-o a ele e à filha. Regressa a Kingsbridge. Neste regresso vai manter uma vida de casado com Caris. O irmão Ralph trona-se conde de Shiring. Um conde irascível e vingativo. Não tem problemas em violar mulheres, como foi o caso de Gwenda de quem terá um filho. Wilfric, o grande rival de Ralph, vai criá-lo sem saber que era filho do conde. O feitiço vira-se contra o feiticeiro e será Sam, o filho do conde, que o matará sem saber que estava a matar o pai.
Também Merthin atinge os seus objectivos. Acaba por se casar com Caris e constrói a torre mais alta de Inglaterra. Também ele não foge às polémicas. Phillipa que enviuvara casa-se, sob chantagem, com Ralhp, mas terá um filho de Merthin irmão de Ralph. Só eles os dois e Caris é que sabem.
Por fim, o segredo tão bem guardado desde a infância dos quatro principais intervenientes. O irmão Thomas morre e Merthin descobre que ele enterrara uma carta que continha um segredo: o velho rei Eduardo não tinha morrido; encenou a sua morte; a rainha nada disse, pois toda a Europa soube da morte do rei… se este segredo se soubesse poder-se-ia tornar uma pedra no sapato do novo rei (filho do velho rei) e de toda a Inglaterra.
Muitos são os argumentos para ler, e não perder, mais este volume desta emocionante história.

(José Amaral)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sabedoria Popular

António Aleixo, poeta popular português, nasceu em Vila Real de Santo António, a 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé, a 16 de Novembro de 1949. As suas quadras são de uma sabedoria profunda. Popular? Certamente, mas nem por isso de se deitar fora. Muito pelo contrário. Como dizia Gil Vicente “ridendo castigat mores”. Também as quadras aleixianas nos dizem verdades a rir.
Aqui ficam alguns exemplos:



P'ra mentira ser segura

e atingir profundidade,

tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

Entre leigos ou letrados,

fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados,
dizemos mais que falando.

Sei que umas quadras são conselhos
que vos dou de boa fé;
outras são finos espelhos
onde o leitor vê quem é.

Quando não tenhas à mão
outro livro mais distinto,
lê estes versos que são
filhos da mágoa que sinto.

Mentiu com habilidade,

fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz

Sei que pareço um ladrão...

mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.

Não sou esperto nem bruto,

nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Vemos gente bem vestida,

no aspecto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada.

Peço às altas competências

Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter.

Quando os Homens se convençam

Que à força nada se faz,
Serão f’lizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.

Julgando um dever cumprir,

Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!

(José Amaral)

sábado, 8 de novembro de 2008

Luta por uma causa

Mais um dia D para a Educação e para os professores. Hoje, 8 de Novembro de 2008, em Lisboa esperam-se mais de 100 mil professores numa manifestação gigantesca, semelhante à de Março passado. Será um mar imenso de professores. Muitos são aqueles que, por opção ou por imperativos de força maior, não poderão estar presentes, mas nem por isso deixarão de estar presentes (em espírito) e nem por isso deixarão de lutar por esta causa.
A concentração dos professores terá início às 14:30 no Terreiro do Paço, em Lisboa, onde irá decorrer um plenário cerca de meia-hora depois. Segue-se Rossio, Restauradores, Avenida da Liberdade e Marquês de Pombal. Aí deverá ser aprovada uma resolução a exigir ao Governo a suspensão da avaliação de desempenho e o início de novas negociações para alterar o modelo definido pelo Ministério da Educação.
Ontem, a presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, defendeu a suspensão do actual modelo de avaliação dos professores e a aprovação de um novo modelo de avaliação externa e sem quotas administrativas.
Já vai sendo tempo de o M. E. deixar de lado as teimosias e as imposições e de constatar que este modelo não é funcional. Além de muito burocrático e extremamente injusto. O sucesso dos alunos não pode ser leitmotiv para um professor ser avaliado. Assim, o mais fácil é passarem todos, e há sucesso e o professor obtém uma nota boa. «A avaliação tem de ser externa, retirando das escolas e dos docentes a carga burocrática e conflitual que os desviam da sua função primordial que é ensinar. A avaliação tem de procurar a efectiva valorização do mérito e da excelência, devendo por isso pôr-se fim às quotas administrativas criadas por este Governo» defende, e bem, a líder do PSD. Mais defende que é preciso também «acabar com a divisão da carreira docente, iníqua e geradora de injustiças, entre professores titulares e professores que acabam por ser classificados de segunda».
Esta causa não pode esmorecer até que seja reposta a justiça. Os professores não temem ser avaliados, sempre o fomos (bem ou mal era o modelo que existia – que estava gasto), mas que sejamos avaliados por um modelo justo.

(José Amaral)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Poema


Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?

Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!

Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.

Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...

Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!

Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"

Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"

Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")

De repente a podridão do seio.

Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...

Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.

(Alexandre O’Neill)

sábado, 1 de novembro de 2008

Dias de Reflexão

A Igreja Católica festeja a 1 de Novembro (feriado) a festa de Todos-os-Santos (Festum omnium sanctorum). Celebra-se em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. No dia seguinte, 2 de Novembro, a Igreja Católica celebra o Dia dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados. Desde o século II, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de Novembro, porque a 1 de Novembro é a Festa de Todos os Santos.
Nestes dias de reflexão e recolhimento aqui vos deixo um belíssimo soneto da autoria de Vasco Graça Moura:



soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção

que escrevo para ti. quando eu morrer

fica junto de mim, não queiras ver

as aves pardas do anoitecer

a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,

põe os olhos nos meus se puder ser,

se inda neles a luz esmorecer,

e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,

sempre a doer de tanta perfeição

que ao deixar de bater-me o coração

fique por nós o teu inda a bater,

quando eu morrer segura a minha mão.


(José Amaral)