terça-feira, 31 de março de 2009

Literatura Bendita

Há bem pouco tempo publiquei aqui um post sobre um livro de João Ubaldo Ribeiro. Não lhe teci, a esse livro, grandes elogios. Contudo, a escrita de JUR é afamada e multi-premiada, pelo que decidi-me a ler um outro livro da sua autoria. Trata-se de Miséria e Grandeza do Amor de Benedita (Dom Quixote/Visão, 93 páginas).
Trata-se de um romance curto, extraordinariamente bem trabalhado do ponto de vista da escrita e da sua arquitectura interna, cheio de ironia e de mistérios, localizado na ilha de Itaparica. Este romance narra a história de Deoquinha Jegue Ruço, a versão nordestina de um Don Juan, casado com Benedita.É com a morte de Deoquinha, que aparece mort na cama de uma das suas amantes, que o autor dá partida à narrativa que reconstrói a trajectória desse conquistador, pai de vários filhos bastardos. Mas é a figura de Benedita que motiva toda a trama. Benedita é-nos apresentada como uma mulher ingénua, esposa exemplar e compreensiva, que perdoa todas as escapadelas do marido. O final afigura-se surpreendente.
Se no post anterior, em que me referi a “A casa dos Budas ditosos”, não fui muito elogioso para com o livro, desta vez devo render-lhe homenagem. É um livro que se lê com muito agrado, numa escrita melíflua e “agarradora”. Aconselho-o vivamente.

(José Amaral)

domingo, 29 de março de 2009

O Leitor - o filme

Há bem pouco tempo fiz aqui referência a um belíssimo livro de Bernhard Schlink. Teci-lhe os mais rasgados elogios, pois são merecidos.
Desta feita, apresento a mesma obra, “O Leitor”, mas na sua adaptação cinematográfica, pela mão de Stephen Daldry. Na Alemanha de 1958, o jovem de 15 anos, Michael (David Kross) - Ralph Fiennes interpreta a mesma personagem, mas com a idade mais avançada, conhece Hannah (Kate Winslet) e ambos iniciam um intenso relacionamento amoroso, ela vinte anos mais velha. Um dia, Hanna desaparece. Michael encontrá-la-á no seu julgamento. Hanna é julgada e presa…
Este filme é uma adaptação muito bem conseguida do livro que está muito bem escrito.
Do filme, destaca-se a aproximação à obra escrita e a excelente interpretação de Kate Winslet. Aliás, esta actriz foi a vencedora do Óscar, deste ano, para melhor actriz feminina. Mereceu-o!
O filme, à imagem do livro, está excelente. Recomendo-o vivamente. É um filme a não perder.

(José Amaral)

sábado, 28 de março de 2009

Mudança - Hora de Verão


Os relógios adiantam uma hora na próxima noite em todo o país, fazendo assim Portugal entrar na Hora de Verão, mas tirando 60 minutos ao domingo. Para cumprir o início da hora de Verão, à 01h00 da madrugada de Domingo (29 de Março de 2009) os relógios adiantam para as 02h00 em Portugal continental e na Madeira.
A mudança da hora deve-se a uma directiva comunitária que determina que os países da União Europeia devem entrar na hora de Verão no último domingo de Março e adoptar a hora de Inverno no último domingo de Outubro, independentemente do fuso horário em que se encontrem. De acordo com o Decreto-Lei nº. 17/96, de 8 de Março:
1 - A hora legal de Portugal continental coincide com o tempo universal coordenado (UTC) no período compreendido entre a 1 hora UTC do último domingo de Outubro e a 1 hora UTC do último domingo de Março seguinte (hora de Inverno).
2 - A hora legal coincide com o tempo universal coordenado aumentado de sessenta minutos no período compreendido entre a 1 hora UTC do último domingo de Março e a 1 hora UTC do último domingo de Outubro (hora de Verão).
Na prática, os portugueses vivem amanhã o dia mais pequeno do ano, com 23 horas, fazendo-se a mudança numa altura em que menos afecta o quotidiano das pessoas, durante a noite e no fim-de-semana.

(José Amaral)

sexta-feira, 27 de março de 2009

Hora do Planeta

(imagem retirada da Internet)

Amanhã, dia 28 de Março, pelas 20H30 os geradores a diesel das ilhas Chatham, na Nova Zelândia, vão ser desligados, marcando o início de um movimento comunitário à escala mundial: a Hora do Planeta 2009. Qualquer pessoa pode participar neste momento simbólico, para isso só tem de desligar o interruptor.
Em Lisboa, o Cristo-Rei assim como a Ponte 25 de Abril, o Palácio de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Padrão das Descobertas, o Castelo de São Jorge, os Paços do Concelho e o Museu da Electricidade vão ficar apenas iluminados pela luz das estrelas. Muitos outros locais no país juntar-se-ão a esta iniciativa.
A iniciativa Hora do Planeta pretende fomentar a sensibilidade mundial sobre o futuro do Planeta e a incentivar à realização de outras pequenas acções que podem marcar uma grande diferença, como por exemplo: usar lâmpadas de baixo consumo, desligar o ar-condicionado e preparar uma festa ou jantar à luz de velas com amigos e família.
Iniciativa louvável que merece ser divulgada. Todos nós, mesmo que de forma simbólica, podemos contribuir um pouco para um melhor ambiente, para um futuro mais risonho.

(José Amaral)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Esperava mais

Quando em 2008 João Ubaldo Ribeiro ganhou o “Prémio Camões” fiquei com curiosidade em ler uma das suas mais conhecidas obras: A casa dos Budas Ditosos. Deste autor havia, apenas, lido “O Sorriso do Lagarto”. O livro encontrava-se esgotado e só agora me foi possível encontrá-lo, numa edição de 213 páginas, sob a chancela das “Edições: Nelson de Matos”.
A capa do livro alerta-nos que, segundo a revista “Veja”, este livro é «erótico, chocante, irónico, provocador. Ostensivamente pornográfico». E assim é, estamos na presença de uma narrativa pouco comum, às vezes chocante, às vezes irónica e sempre provocadora, envolvendo um dos pecados mais indomáveis e capitais: a luxúria. Trata-se de um romance impudico e provocador.
O livro é o relato de uma senhora de idade avançada - CLB, uma mulher de 68 anos, nascida na Baía e residente no Rio de Janeiro - contando a sua vida sexual. Faz-me lembrar um outro relato da vida sexual, que também li em tempos: “A vida sexual de Catherine M.”. O assunto principal é sexo, não é um livro erótico no sentido mais elevado da palavra, mas um livro devasso.
Segundo o autor, um misterioso pacote foi deixado na sua portaria: eram os originais do livro. Ficamos, assim, na dúvida: serão as memórias desta senhora devassa e libertina um relato verídico? Ou seria apenas uma brincadeira do autor? Nunca o saberemos.
Satisfiz a curiosidade, mas, com franqueza, não achei o livro nada de especial. Chocante? Provocador? Sim! Nada mais que isso.

(José Amaral)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia

Amanhã, 21 de Março, comemora-se o Dia Mundial da Poesia. Este dia foi instituído na 30ª Conferência Geral da UNESCO, em 1999, e coincide com o Dia da Árvore e o início da Primavera no hemisfério Norte, numa lógica que parece simbolizar o renascimento ou a renovação.
O Dia Mundial da Poesia resultou da constatação de que existiam no mundo necessidades estéticas por satisfazer e de que a poesia podia preenchê-las se o seu papel social de comunicação interpessoal fosse reconhecido e continuasse a ser um meio de estimular e expressar o conhecimento.
Para me associar à comemoração deste dia, aqui deixo um poema da autoria de Alexandre O’Neill.


(Imagem retirada da Internet)

O poema

pouco original do medo
O medo
vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai
ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários (assim assim)
escriturários (muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo
vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai
ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos


(José Amaral)

Primavera - Dia Mundial da Árvore

(Imagem retirada da Internet)

Hoje, 20 de Março, a Primavera chega quando faltarem 15 minutos para o meio-dia e vai manter-se até ao dia 21 de Junho, de acordo com informação do Observatório Astronómico de Lisboa.
O Equinócio que marca o início da Primavera é o instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. «A palavra de origem latina significa "noite igual ao dia", pois nestas datas dia e noite têm igual duração», explica o Observatório.
Amanhã, dia 21 de Março, celebra-se o Dia Mundial da Árvore ou Dia Mundial da Floresta. A comemoração oficial deste dia teve lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em 1872. No hemisfério sul, o dia 22 de Setembro marca a chegada Primavera.
Em Portugal, que se encontra no hemisfério Norte, o "Dia da Árvore" festeja-se no dia 21 de Março.

(José Amaral)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dia do Pai

19 de Março é o dia em que se comemora o Dia do Pai. Também se comemora S. José, que exemplo melhor de Pai.
A todos, e em particular ao meu, os Pais um dia repleto de alegrias.


Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


(Alexandre O’Neill)

segunda-feira, 16 de março de 2009


Bravura


Ao longe,
nos Montes Hermínios,
urgueiras roxas
lembram o sangue
derramado
pelos bravos lusitanos
às ordens de Viriato.

Sangue
tornado seiva
de um povo que,
sendo pequeno,
mostrou ao mundo
ser grande.


(in "Outonalidades", José Amaral)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Leitura grotesca

Levado pela curiosidade, e uma certa publicidade, comprei o livro que hoje sugiro.
Trata-se de um livro de Tom Baker, O Rapaz Que Chutava Porcos (editorial teorema, 129 páginas). A capa apresenta esta obra como sendo “uma obra-prima do grotesco”. E é-o de facto, quer a escrita quer as ilustrações. Não sendo, de todo, o meu género de Literatura não desgostei, mas é uma leitura “bizarra”.
Chutar porcos é talvez a mais simples e pequena das bizarras acções de Robert Caligari, a personagem central deste livro, que se prepara para enfrentar o destino. Na contracapa podemos ler:
“Robert Caligari é um puto de treze anos, absolutamente diabólico, cujo maior prazer consiste em chutar porcos. Depois de um humilhante episódio, que o leitor identificará surpreendido, Robert percebe até que ponto detesta a raça humana. A sua vingança vai ser verdadeiramente terrível.”
A história inicia-se com a afirmação de que aquele é o dia em que a personagem principal vai morrer, e o que inicialmente pode parecer pouco estimulante devido à sua previsibilidade, vai-se transformando no decorrer do texto no alvo de todas as curiosidades. Pensamentos macabros, acções grotescas e frases cheias de humor negro, são os ingredientes principais. A personagem morre, tal como foi afirmado no início do livro, e a sua medonha e criativa morte constitui o último pico da história
O livro de tão pequeno lê-se num fôlego.

(José Amaral)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Mais uma sugestão literária, daquelas a não perder. Trata-se de um livro de Bernhard Schlink, O Leitor (Edições Asa, 144 páginas). Um belíssimo livro que se lê num ápice, e nem a letra miúda nos incomoda. Já aqui fiz um post sobre um outro livro deste autor (“O Regresso”) que recomendei vivamente, mas este supera esse outro.
Trata-se da história de Michael Berg e de Hanna Schmitz. O primeiro, é um adolescente que nos anos 60, é iniciado no amor pela segunda, uma mulher madura, bela, sensual e autoritária. Ele tem 15 anos e ela 36. Os seus encontros decorrem como um ritual, seguindo sempre os mesmos passos: primeiro banham-se, depois ele lê em voz ata, ela escuta, e finalmente fazem amor. Este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece de repente da vida de Michael. Este só a encontrará muitos anos mais tarde, envolvida num processo de acusação a ex-guardas dos campos de concentração nazis. Inicia-se então uma reflexão metódica e dolorosa sobre a legitimidade de uma geração, a braços com a vergonha, julgar a geração anterior, responsável por vários crimes. Hanna é condenada e só então é que Michael descobre que ela é analfabeta. Então decide continuar a ler para ela; para isso grava-lhe cassetes e envia-lhas para a prisão. Na véspera de Hanna sair da prisão, enforca-se.
Esta obra foi adaptada ao cinema e valeu um Óscar a Kate Winslet pelo papel de Hanna. Depois do livro fico à espera do filme. Mas quanto ao primeiro recomendo-o vivamente.

(José Amaral)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Selva

Desta feita regresso às sugestões literárias dos grandes clássicos da Literatura Portuguesa. Falo de um livro, de Ferreira de Castro, publicado em 1930: A Selva (Planeta DeAgostini, 249 páginas). Ferreira de Castro resgata as experiências vividas na Amazónia por Alberto, o herói deste romance. É um jovem monárquico que tinha saído de Portugal por ter participado na revolta de Monsanto. É um jovem que, pouco a pouco, transforma a sua visão do mundo, ao sofrer o embate da crueldade da vida, daquela vida que o espera no meio da selva.
No seringal, vigora a lei do mais forte, tanto no mundo vegetal como animal, inclusive entre os animais humanos. E é no mesmo seringal que a faceta animalesca do ser humano se manifesta nos impulsos mais bestiais, que vêm ao de cima e se sobrepõem à cultura, às normas sociais, à moral, à religião, à ética, à justiça. Na selva, só os seres mais fortes e mais aptos sobrevivem. Os capatazes Balbino e Caetano encarregam-se de “engajar” os trabalhadores agrícolas, que vivem em situação de extrema pobreza, nas regiões secas do Ceará. Estes empreendem uma viagem duríssima, muitos deles acabam, inclusive, por morrer no caminho. E os que chegam ao destino ficam endividados pelo resto da vida ao patrão que se oferece para custear as despesas da viagem e ao consumo de géneros na "venda" que o mesmo explora, junto ao seringal, praticando os preços correspondentes aos do mercado negro, ao vender as mercadorias por um valor cinco vezes superior àquele pelo qual as adquiriu.
Por outro lado, a ausência de elementos do sexo feminino dá azo ao eclodir, num lugar como este, dos mais bestiais impulsos nas bestas humanas. O ponto de viragem da história dá-se quando Alberto toma a cargo a gerência da loja. É nesta altura que o jovem se apercebe até que ponto a vida dos seringueiros está a ser vampirizada por Tristão.
Parece que somos levados através da Amazónia num qualquer episódio da National Geographic. Vale a pena ler/reler esta maravilhosa obra.

(José Amaral)

domingo, 1 de março de 2009

Março


momentos


Certa manhã de Março,
meiga, muito meiga,
convidava-me, melancolicamente,
qual grumete inquieto
que maquina alguma maroteira,
a ouvir a melodia,
magistralmente melodiosa,
do marulhar.

Debaixo de uma magnólia
lembrei-me que conheço um homem
- conheço!? -
que anda sem destino na areia,
mas só o faz quando está lua cheia.

Será que é? ...
Não sei!

Vagueia, vagamente.
Vagarosas vagas de uma viagem
vigiada pela visão voraz
de um verdadeiro grand frère.

Ficava impávido
fitando o horizonte,
fiando sua trama literária,
fazendo gestos frios,
facilmente confundidos
com habilidades de uma foca.

Batia com os pés
batidas brandas na areia e...
bebia suaves brisas.

Caiu calmamente
na cama improvisada.
Com o olhar cego de coragem;
com uma punhada seca,
cravou um punhal
na carne fria do peito.


(in "Oráculo Luminar", José Amaral)