quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Dia Mundial da SIDA

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é conhecida nos países de língua oficial portuguesa pelo acrónimo SIDA; no Brasil usa-se a sigla inglesa AIDS.A sida é o conjunto de sintomas e infecções em seres humanos resultantes do dano específico do sistema imunológico ocasionado pelo Vírus da imunodeficiência humana (VIH, ou HIV segundo a terminologia anglo-saxónica).
Existem tratamentos para a SIDA/AIDS e o HIV que diminuem a progressão viral, mas não há nenhuma cura conhecida.
Por mais campanhas que se façam este flagelo continua a ganhar terreno. Todas as campanhas preventivas são insuficientes, caso os homens não se mentalizem dos riscos que correm.
Também o AD LITTERAM se junta às comemorações do Dia Mundial da Sida (1 de Dezembro) com dois poemas. O primeiro em Português e da minha autoria (in Oráculo Luminar) e o segundo da autoria de Barbara «Châtelet 87», em Francês.


(José Amaral)


herói



A Nkosi Johson
(1989-2001)



Tu,
ícone da luta
pela vida
és um HERÓI
de carne e osso.



Quando em 1989
nasceste,
já seropositivo,
o teu destino
estava em ti gravado
com uma crueldade
tamanha
que te levava a odiar
a doença que tinhas:
a Sida.


Tu,
que sobreviveste
muito mais

do que pensávamos,
eras o símbolo
da luta
contra esse flagelo
mortal e desumano.


Eras tu,
que com tuas ténues palavras
dizias ser
“um rapaz com muita sorte”.
Eras tu,
que recebido
por presidentes,
que falando

em qualquer palco,
servias de esperança
a tantos meninos
como tu.


Mas,
quis o destino
- ou terá sido o próprio
Deus? –
que no dia 1 de Junho de 2001
(que outro dia poderia ser
que não este:
Dia Mundial da Criança)
o teu coração

parasse de bater.


Morreste em paz,
no teu sono sossegado.


O mundo jamais
te esquecerá,
a ti,
meu pequeno-grande herói
Nkosi Johson.


Obrigado!!!



Sid’amour à mort


Si s’aimer d’amour
C’est mourir d’aimer
Sont mourus d’amour
Sida-sidamnés
Les damnés d’amour
A mourir d’aimer
Ils sont morts d’amour
D’amour-sidamné
O sida-sida
Danger-sida
O sida sida-sid’amour à mort
O sid’assassin
Recherché
Sida mis amour à mort.


Mon amour malade
Ma douleur d’aimer
Mon damné-d’amour
Sida-sidamné
A vouloir t’aimer
D’amour à mourir
Sid’assassiné
O sida sida
Comme le furet
Passe par ici
Repasse par là
O sid’assassin
Recherche
Qui a mis l’amour à mort.


On rêvait d’amour
A mourir d’aimer
Et l’on meurt d’amour
D’amour sidamné
Maladie d’amour
Où l’on meurt d’aimer
Seul et sans amour
Sid’abandonné.


Si s’aimer d’amour
C’est mourir d’aimer
Sont mourus d’amour
Seuls et sidamnés
Les damnés d’amour
A mourir d’aimer
Ils sont morts d’amour
Sid’assassinés.
















quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Natal...

“Um Centro de Acolhimento Temporário (CAT) para crianças em risco. Estas, vítimas de abandono, maus-tratos e negligência, são retiradas das famílias de origem e entregues a instituições. O Céu Aberto quer acolher estas crianças, proporcionando um ambiente familiar e saudável, trabalhando as suas potencialidades, assim como os seus traumas, permitindo abrir-lhes perspectivas de um futuro mais feliz”. (in http://www.ceuaberto.iol.pt/natal2006/).Vale a pena visitar este sítio e ler na íntegra todo o projecto e os objectivos gerais.
O Natal não é para todos! Há muitos meninos que não têm direito ao Natal. Muitos são os motivos: fome, pobreza, abandono, guerra… E nem sempre nós nos lembramos deles. Este projecto merece ser divulgado e se todos contribuíssemos com um pouquinho, não custava nada.
(José Amaral)

domingo, 26 de novembro de 2006

Seja responsável. Beba com moderação.


De 1 a 3 de Dezembro de 2006 - entre as 15 e as 20 horas - no Solar do Vinho do Dão, em Viseu (no Fontelo), vai realizar-se mais uma edição do acontecimento vínico e gastronómico "Dão - Vinhos & Sabores", organizado pela Comissão Vitivinícola Regional do Dão e Essência do Vinho.
Mais um motivo para visitar a bela cidade de Viseu e desfrutar das suas paisagens e iguarias.


(José Amaral)

Poema de Cesariny

A um rato morto encontrado num parque

Este findou aqui sua vasta carreira
de rato vivo e escuro ante as constelações
a sua pequena medida não humilha
senão aqueles que tudo querem imenso
e só sabem pensar em termos de homem ou árvore
pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)
o milagre das patas - tão junto ao focinho! -
que afinal estavam justas, servindo muito bem
para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar
atrás de repente, quando necessário
Está pois tudo certo, ó "Deus dos cemitérios pequenos"?
Mas quem sabe quem sabe quando há engano
nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer
que não era para príncipe ou julgador de povos
o ímpeto primeiro desta criação
irrisória para o mundo - com mundo nela?
Tantas preocupações às donas de casa - e aos médicos -
ele dava!
Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?
Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar
e passou nela a roda com que se amam
olhos nos olhos - vítima e carrasco
Não tinha amigos? Enganava os pais?
Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido
e agora parado, aquoso, cheira mal.
Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?
Como acabar com um corpo corajoso e humílimo
morto em pleno exercício da sua lira?


Mário Cesariny

Morreu Mário Cesariny

Mário Cesariny: artista multifacetado

Foi o principal representante do Surrealismo português

Mário Cesariny de Vasconcelos, poeta e pintor que morreu hoje em Lisboa, aos 83 anos, foi o principal representante do Surrealismo português, um homem irónico e controverso que dispensava aplausos e homenagens, escreve a Lusa.

Nascido em Lisboa a 9 de Agosto de 1923, de pai beirão, negociante de jóias, e mãe castelhana, professora de francês, resolveu, a partir de certa altura, prescindir do apelido paterno e ultimamente gostava de acrescentar a Cesariny o Rossi dos seus antepassados.

Estudou no Liceu Gil Vicente, frequentou o primeiro ano de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) e mudou depois para a Escola de Artes Decorativas António Arroio, tendo igualmente estudado música com o compositor Fernando Lopes Graça.

Durante o período em que viveu em Paris, em 1947, frequentou a Academia de La Grande Chaumière.

Na capital francesa, conheceu o fundador do movimento surrealista francês André Breton, cuja influência o levou a integrar no mesmo ano, embora à distância, o Grupo Surrealista de Lisboa, formado por António Pedro, José-Augusto França, Cândido Costa Pinto, Marcelino Vespeira, João Moniz Pereira e Alexandre O’Neill.

Este grupo surgiu com o objectivo de protestar contra o regime político vigente em Portugal e contra o neo-realismo, mas houve cisões e Cesariny saiu, fundando mais tarde o «anti-grupo» «Os Surrealistas», com Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa, Fernando José Francisco, Carlos Eurico da Costa, Mário-Henrique Leiria, Artur do Cruzeiro Seixas e Pedro Oom, entre outros.

Em 1949, redigiu, com o grupo, o seu manifesto colectivo, «A Afixação Proibida» e promoveu as sessões «O Surrealismo e o seu Público em 1949» e a I Exposição dos Surrealistas.

Nas suas obras, adoptava uma atitude estética caracterizada pela constante experimentação e praticou uma técnica de escrita e de pintura muito divulgada entre os surrealistas, designada como «cadáver esquisito», que consistia na elaboração de uma obra por três ou quatro pessoas, num processo em cadeia criativa, em que cada um dava seguimento, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas uma parte do que aquele fizera.

Da sua extensa obra literária, destaca-se o seu trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal, sendo também a sua obra poética considerada um dos mais ricos e complexos contributos para a história da poesia portuguesa contemporânea.


in Portugal Diário (edição online) 26NOV06

sábado, 25 de novembro de 2006

"Très chique..."

José Maria Eça de Queiroz nasceu na Póvoa de Varzim, numa casa da Praça do Almada, a 25 de Novembro de 1845 e faleceu em Paris a 16 de Agosto de 1900. Era filho de José Maria Teixeira de Queirós e Carolina Augusta Pereira d’Eça (embora seja registado como filho de mãe incógnita). Para muitos é o maior escritor realista português do século XIX.

Com 16 anos foi para Coimbra estudar Direito, tendo aí sido amigo de Antero de Quental e de Teófilo Braga. No final do ano de 1867 forma-se o Cenáculo, contando-se Eça de Queirós entre os primeiros membros; dele farão parte Salomão Saragga, Jaime Batalha Reis, Augusto Fuschini, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, José Fontana, entre outros. Em 1869 e 1870, Eça de Queirós viajou ao Egipto, na companhia do Conde de Resende, e visitou o canal do Suez que estava sendo construído, o que inspirou diversos de seus trabalhos. Em 1871 foi um dos participantes das chamadas Conferências do Casino.

Em 1886 casa-se com Emília de Castro Pamplona (Resende), no oratório particular da Quinta de Santo Ovídio no Porto.

Quando foi despachado mais tarde para Leiria para trabalhar como um administrador municipal, escreveu a sua primeira novela realista da vida portuguesa, O Crime do Padre Amaro. Aparentemente, Eça de Queirós passou os anos mais produtivos de sua vida em Inglaterra, como cônsul de Portugal em Newcastle e em Bristol. Os seus trabalhos foram traduzidos em aproximadamente 20 línguas.

Eça de Queirós morre após prolongada doença a 16 de Agosto, em Neully (França). Em Setembro, o corpo é trasladado para Portugal, realizando-se os funerais para o cemitério do Alto de S. João em Lisboa.

A obra de Eça é extensíssima e destaco alguns dos seus títulos mais conhecidos. Estes que aqui apresento já os li todos, também por isso os referencio, embora haja muitos outros tão ou mais conhecidos que estes.

A Cidade e as Serras

A Ilustre Casa de Ramires

A Relíquia

A Tragédia da Rua das Flores

As Farpas

Contos (A Aia, O Tesouro...)

O Conde d'Abranhos

O Crime do Padre Amaro

O Primo Basílio

Os Maias

Prosas Bárbaras

Quando estive em Resende a leccionar tive oportunidade de visitar a Fundação Eça de Queirós (eis o endereço da fundação http://www.feq.pt/). Penso que merece uma visita, pois é um lugar calmo e agradável e de grande simbolismo para que lê a obra de Eça. Fica em Tormes, no concelho de Baião. Ao chegarmos à fundação reportam-nos à memória algumas passagens das obras de Eça.

Com As Farpas, Eça (e Ramalho Ortigão) pretendia fazer crítica de costumes e analisar a sociedade portuguesa da época, interessado não no riso fácil e inconsequente, mas mais na reforma de instituições em crise. Pela sua caricatura da sociedade da época — que em muitos aspectos se mantém ainda hoje actual — e pelo seu humor, As Farpas são páginas importantes da nossa literatura.

(José Amaral)

Princesa da Beira































Há já muito tempo que não publico nada sobre Viseu, mas como está a aproximar-se a época natalícia aqui ficam algumas imagens desta bela cidade. O convite fica feito...
(José Amaral)

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Eles não sabem...

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, que passaria a utilizar o pseudónimo de António Gedeão, nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906, num ambiente familiar marcado pela figura materna, cuja influência foi decisiva para a sua vida. Poucos meses após ter celebrado o 90º aniversário faleceu em 19 de Fevereiro de 1997.

A mãe tinha como grande paixão a literatura – apesar de ter apenas a instrução primária – sentimento que transmitiu ao filho. É assim que Rómulo toma contacto com nomes como Camões, Camilo, Cesário Verde. Rómulo revela-se uma criança precoce e aos cinco anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar “Os Lusíadas” de Camões. Aliado a este interesse pela poesia descobre, quando entra para o liceu Gil Vicente, o gosto pelas ciências. Rómulo sentia-se atraído pelas ciências e fez a escolha da área das ciências, apesar de não ter sido fácil. Na Faculdade de Ciências do porto, Rómulo cursa Ciências Físico-Químicas. Fica assim adiada a poesia para mais tarde, quando “adoptar” o nome de António Gedeão. Em 1932 começa a sua actividade principal como professor e pedagogo. Era um professor exigente (leiam-se as suas palavras “ser professor tem de ser uma paixão – pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação”).

Apesar da sua intensa actividade profissional Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua a escrever poesia. Achando que a sua poesia não tem qualidade nada publica. Só em 1956 publicou o primeiro livro de poesia. “Movimento Perpétuo”. Mas como surge com o pseudónimo de António Gedeão, Rómulo de Carvalho permanece no anonimato. O livro é bem recebido pela crítica e Gedeão continua a escrever. A sua obra é enigmática. Surge tardiamente (aos 50 anos) e não se enquadra em qualquer movimento literário.

A sua poesia é uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. A sua poesia marca uma geração reprimida por um regime ditatorial que acredita que, pelo sonho, poderá alcançar o caminho da liberdade. Depois de 40 anos de ensino (pela falta de autoridade e pela desorganização do ensino em Portugal, pós 25 de Abril) Rómulo de Carvalho decide reformar-se. Dedica-se à investigação e à publicação poética.

A sua obra poética é extensa. Os seus poemas são conhecidíssimos. Quem nunca ouviu “Homem”, “Pedra Filosofal”, “Calçada de Carriche”, “Poema do homem-rã”, “Lágrima de Preta” (já aqui publicado), “Poema da auto-estrada” (qual Lianor camoniana), “Poema do fecho éclair”. Estes, e muitos outros belíssimos poemas de Rómulo/António/Carvalho/Gedeão, podemos encontrá-los no livro “Poemas Escolhidos”, uma antologia organizada pelo autor.

Nesta singela homenagem a António Gedeão deixo-vos dois dos seus poemas. O primeiro porque me fascina o ritmo, a cadência e a musicalidade dos versos e o segundo por ser uma “imitação” muito humorística.

(José Amaral)



CALÇADA DE CARRICHE



Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda Luísa, Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas,

não dá por nada.

Anda Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu da sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada;

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda Luísa,

Luísa sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


POEMA DA AUTO-ESTRADA


Voando vai para a praia

Leonor na estrada preta.

Vai na brasa, de lambreta.


Leva calções de pirata,

vermelho de alizarina,

modelando a coxa fina

de impaciente nervura.

Como guache lustroso,

amarelo de indantreno,

blusinha de terileno

desfraldada na cintura.


Fuge, fuge, Leonoreta.

Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro

na volúpia da escapada

pincha no banco traseiro

em cada volta da estrada.

Grita de medo fingido,

que o receio não é com ela,

mas por amor e cautela

abraça-o pela cintura.

Vai ditosa, e bem segura.


Como um rasgão na paisagem

corta a lambreta afiada,

engole as bermas da estrada

e a rumorosa folhagem.

Urrando, estremece a terra,

bramir de rinoceronte,

enfia pelo horizonte

como um punhal que se enterra.

Tudo foge à sua volta,

o céu, as nuvens, as casas,

e com os bramidos que solta

lembra um demónio com asas.


Na confusão dos sentidos

já nem percebe, Leonor,

se o que lhe chega aos ouvidos

são ecos de amor perdidos

se os rugidos do motor.


Fuge, fuge, Leonoreta.

Vai na brasa, de lambreta.


quinta-feira, 23 de novembro de 2006

JFK


John Fitzgerald Kennedy nasceu em Brooklin, Massachusetts, a 29 de Maio de 1917 e morreu assassinado em Dallas a 22 de Novembro de 1963. Foi o 35° presidente dos E.U.A. (1961 – 1963).

É interessante constatar que entre J.F.K. e Lincoln (16º presidente dos E.U.A.) há muitas coincidências:

John Kennedy foi eleito para o Congresso norte-americano em 1946. Lincoln, em 1846.

Kennedy foi eleito presidente em 1960. Lincoln, em 1860;

A secretária de Kennedy tinha o sobrenome Lincoln, e vice-versa;

As secretárias de Kennedy e Lincoln tiveram pressentimentos das mortes de seus chefes;

Ambos os sucessores tinham o sobrenome Johnson. Andrew, que sucedera a Lincoln, nasceu em 1808. Lyndon, que ocupou o cargo com a morte de Kennedy, nascera em 1908;

Ambos os assassinos eram racistas declarados e foram mortos antes de seus julgamentos;

John Wilkes Booth, que matou Lincoln, nasceu em 1839. Lee Harvey Oswald, algoz de Kennedy, em 1939;

Booth atirou em Lincoln num teatro e foi preso num depósito. Oswald disparou contra Kennedy de um depósito e foi preso num teatro.

Ambos os sobrenomes têm sete letras.

(José Amaral)

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Violência Escolar

Esta manhã estava em casa e liguei a televisão na “Sic Notícias”. O tema em debate era a violência nas escolas, nomeadamente entre alunos. Há um termo em inglês muito em voga, o bullying, utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica, na sua grande maioria intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objectivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender.
O comportamento dos agressores é agressivo e negativo, executado repetidamente e ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Devemos, ainda, dividir este fenómeno em: directo (mais comum entre agressores masculinos) e indirecto (recusa em socializar com a vítima, criticar o modo de vestir…).
O bullying pode ocorrer em muitas situações: escolas, local de trabalho, vizinhos… Mas o que me preocupa é este fenómeno nas escolas. Vai-se vendo nas escola, e vai-se lendo nos jornais, alguns casos de intimidação e humilhação para
atormentar os outros.
Este fenómeno é uma “bola de neve” que deve ser parada. Quem sofre de violência física ou psicológica pode entrar em depressão, tornar-se também agressor, sofrer de ansiedade, perda de auto-estima, medo de expressar emoções e em casos extremos o suicídio (também conhecido por bullycídio).
Na escola o aluno agredido pode querer fugir da escola, desrespeitar os professores, nível elevado de faltas, queda de produtividade entre muitos outros efeitos.
O fenómeno existe e está identificado. Não podemos olhar para ele e achar que é normal, que são “brincadeiras de pequenos”. É preciso fazer alguma coisa e neste particular não é só a escola que deve actuar. Os pais e encarregados de educação devem também ter um papel importante. Mas, é do “alto” que deve vir a primeira medida. O Ministério da Educação não pode demitir-se das suas funções. Não é só alterar o ECD que resolve os problemas da educação é preciso assumir erros e falhas noutros campos e corrigi-los. Se educar é promover o desenvolvimento harmónico do homem nos seus aspectos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade, não podemos cruzar os braços e achar que isto é normal.

(José Amaral)

domingo, 19 de novembro de 2006


A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou no dia 20 de Novembro de 1989 a “Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança”. Passados todos estes anos há, ainda, muitas crianças que nunca ouviram falar em direitos. Há, igualmente, muitos governantes que já ouviram falar nesses direitos, mas fizeram “ouvidos de mercador”. Para que não sejam esquecidos aqui ficam os DIREITOS DAS CRIANÇAS:

1- A criança deve ter condições para se desenvolver física, mental, moral, espiritual e socialmente, com liberdade e dignidade.

2- A criança tem direito a um nome e uma nacionalidade, desde o seu nascimento.

3- A criança tem direito à alimentação, lazer, moradia e serviços médicos adequados.

4- A criança deve crescer amparada pelos pais e sob sua responsabilidade, num ambiente de afecto e de segurança.

5- A criança prejudicada física ou mentalmente deve receber tratamento, educação e cuidados especiais.

6- A criança tem direito a educação gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares.

7- A criança, em todas as circunstâncias, deve estar entre os primeiros a receber protecção e socorro.

8- A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono e exploração. Não deverá trabalhar antes de uma idade adequada.

9- As crianças devem ser protegidas contra prática de discriminação racial, religiosa, ou de qualquer índole.

10- A criança deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade, fraternidade e paz entre os povos.

(José Amaral)

sábado, 18 de novembro de 2006

Catalunha JOAN MARAGALL (1860-1911)


A VACA CEGA

Tropeçando num e noutro tronco,

caminhando a esmo para a fonte,

vem a vaca sozinha. É cega.

De uma pedrada atirada com força

o vaqueiro vazou-lhe o olho, e o outro

ficou como esse; a vaca é cega.

À fonte vem beber como soía,

sem os passos firmes de outras vezes,

nem com as companheiras, vem sozinha.

Suas companheiras por barrancos e azinhagas,

pelo silêncio dos prados, nas ribeiras

fazem soar o chocalho enquanto pascem

fresca erva ao acaso… Ela cairia.

Dá com a cabeça na pia já gasta

e recua assustada… Mas insiste,

abaixa a cabeça e bebe lentamente.

Pouco, sem muita sede. Ergue depois

ao céu, enorme, a cabeça com os cornos,

num gesto grande e trágico; pestaneja

sobre as mortas pupilas e regressa,

vacilando, pelos carreiros que não esquece,

brandindo languidamente a longa cauda.


(Trad.: José Bento, in “Rosa do Mundo”)

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Dia Internacional da TOLERÂNCIA

"Todos Diferentes. Todos Iguais"
Campanha lançada hoje em Portugal, no Dia Internacional da Tolerância



A campanha internacional "Todos Diferentes. Todos Iguais" do Conselho da Europa é lançada hoje em Portugal quando se assinala o Dia Internacional da Tolerância.
A iniciativa, que decorre até Setembro do próximo ano, é executada na generalidade dos 46 Estados-membros do Conselho da Europa e visa "a sensibilização pública para a integração e participação social, o respeito pela tolerância e compreensão mútua e a promoção da igualdade", refere uma nota da Presidência do Conselho de Ministros [PCM]. Segundo a PCM, pretende-se que a campanha possa chegar a um maior número de jovens portugueses, sensibilizando-os para a necessidade de construção de uma sociedade inclusiva com respeito pela tolerância e pelos direitos humanos. De acordo com a secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, foi constituído um comité nacional a quem compete dar corpo a esta iniciativa mediante o desenvolvimento de um programa de actividades e destinado essencialmente a públicos juvenis. Debates sobre a tolerância e a igualdade, espectáculos, iniciativas com jovens dos bairros Vale da Amoreira e Cova da Moura, concursos de fotografia e distribuição de kits pedagógicos para educação inter-cultural são algumas das actividades previstas. O lançamento em Portugal da iniciativa internacional "Todos Diferentes. Todos Iguais" conta com a presença do ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, e dos secretários de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, e da Reabilitação, Idália Moniz. O Dia Internacional da Tolerância foi instituído em 1995 pela UNESCO para sensibilizar a opinião pública para a diversidade cultural, religiosa, étnica, social e linguística. Anúncios nas televisões, nas rádios, nos jornais e no cinema integram a campanha internacional que está a cargo do Instituto Português da Juventude.
in SIC online (16NOV06)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano 470 a.C. e faleceu com 71 anos em 399 a. C., depois de ser obrigado a beber cicuta.

Aprendeu Música e Literatura, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma. Não se sabe ao certo quem foram seus professores de Filosofia. O que se sabe é que Sócrates conhecia as doutrinas de Parménides, Heraclito, Anaxágoras e dos sofistas.

Para transmitir os seus conhecimentos e a sua sabedoria utilizava o diálogo, considerado um método polémico. As suas ideias são-nos transmitidas por dois dos seus discípulos, uma vez que Sócrates nada deixou escrito. Foram eles Platão e Xenofonte.

A introspecção é o aspecto mais característico da filosofia socrática. O famoso lema “conhece-te a ti mesmo” (toma-te consciente da tua ignorância) aparece como sendo o ápice da sabedoria. Neste lema Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. Sócrates achava que o filósofo é aquele que admite não entender na íntegra inúmeras coisas (Só sei que nada sei).

São exemplos como este que nos deviam fazer pensar como somos ignorantes. Basta estas duas máximas de Sócrates para nos fazer reflectir. Conhece-te a ti mesmo e Só sei que nada sei.

(José Amaral)

Dia Mundial da Diabetes

Meio milhão de diabéticos em Portugal No Dia Mundial da Diabetes é apresentado programa para controlo e prevenção

Há meio milhão de diabéticos em Portugal. O Dia Mundial da Diabetes, assinalado hoje, vai servir para a apresentar o novo programa nacional de controlo e prevenção da doença e levar a cabo inúmeras actividades de formação e rastreio.
Este tipo de acção permitiu, desde 2003, evitar três mil urgências hospitalares anuais motivadas pela doença e uma poupança de cerca de um milhão de euros, revelou o coordenador do programa, Luís Gardete Correia.
Luís Gardete Correia, também presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), pormenorizou que estes dados resultam de uma avaliação parcial, feita pela Direcção-Geral da Saúde, ao actual Programa de Controlo da Diabetes Mellitus, que teve início em Junho de 2003 e que será em breve substitu
ído por uma nova estratégia.
A diabetes é uma doença crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar (glucose) no sangue. Em Portugal estima-se que existam 500 mil diabéticos e a incidência da doença associada a estilos de vida pouco saudáveis e à falta de e
xercício físico (diabete tipo 2) tem estado a "aumentar de forma explosiva", precisou Luís Gardete Correia.
Para assinalar o dia decorrem rastreios gratuitos no Hospital Cury Cabral e no Centro Comercial Colombo, ambos em Lisboa, promovidos pela Associação Nacional de Jovens Diabéticos.
A consulta de diabetologia do Hospital de S. João de Deus, em Vila Nova de Famalicão, associa-se à efeméride com uma palestra sobre as complicações da doença e o Hospital de Torres Vedras apresenta um vídeo que ensina a prevenir a doença.


in Sic online (14NOV06)

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Restaurante "A casa do Avô"

Arcas da Memória ”A casa do Avô” – ou como um tempo de memória cabe em Restaurante


Texto de Alberto Correia

A CASA DO AVÔ fica na Sarzeda, no concelho de Sernancelhe, além do rio Távora, lá onde o Malhadinhas passava algumas vezes para vender sal vindo de Aveiro, para comprar castanhas em seu tempo, peles de raposa, de texugo e de coelho que os caçadores tantas vezes apanhavam em tempo de defeso.
A Casa do Avô, que é agora um Restaurante, foi antigamente, ainda me lembro, casa farta de lavoura, pátio abonado de lenhas e lagar, carro de bois entrando e saindo, lojas fartas de gado e arcas de pão, cozinha onde o lume ardia todo o dia e ao serão, resguardo de sala e quartos de dormir onde se reservava a intimidade.
Lembro-me da casa de quando era menino. Era a última onde passava quando ia para a escola. Não havia, na aldeia, mais nenhuma igual a ela. Era alta, de três pisos, de granito, como as outras, nos dois, perto do chão. O terceiro tinha o jeito, parecia, de uma torre, e tinha, o que era para nós a estranheza, paredes de xisto, levantadas, às escamas.
Era ali que morava, no meu tempo de menino, o senhor Américo Ramalho, que a gente chamava do Soitelo, mais sua mulher, a senhora Conceição, mais a Regina que chegou a ser, na escola, a minha companheira de carteira.
Agora veio o Pedro, homem já feito, fez da casa que era do avô um Restaurante. Quis guardar, sabiamente, o jeito da morada antiga, o sítio da cozinha e a torre, no alto, com o xisto, às escamas. Quis guardar, o que é já raro, a memória do avô e chamou, agora, à sua casa, feita restaurante, A Casa do Avô.

in Jornal do Centro (ed. 243, 10 de Novembro de 2006)

Há uma semana mudei de escola (deixei Cinfães) e fui colocado em Sernancelhe. No primeiro dia na escola, à hora de almoço, fui com dois colegas (a Paula e o Sérgio) almoçar a este restaurante. Fiquei agradavelmente surpreendido pela forma como a casa foi recuperada e pelo espaço interior. Porém, o que interessa é o “repasto” e esse, posso garanti-lo, recomenda-se.

(José Amaral)

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Comentário Crítico 1

“Outonalidades”: Alguns aspectos

Texto de
Cláudio Feldman*

A Arte, como uma torrente vital, não detém-se ante as pedras de fórmulas estéticas imobilistas, e reflecte em seu caminho a verdade da beleza, inclusive em seus ângulos inesperados. A poesia de José Amaral, própria e intransferível, está crivada de inquietude, descida aos ab
ismos do sonho, da tristeza, da agonia, mas nela pulsa uma lírica esperança de que a alma humana deve prevalecer: há um “enublado futuro”, mas “a manhã clareia!” (Inocência, pág. 39); ou em “Pomba” (Pág. 60), esta ave branca, entre corvos, “aparenta guiar/aqueles mensageiros/da desgraça,/para um impoluto/paraíso.//.Seus poemas-paisagens, onde nunca falta um terno olhar para os animais e a flora, capturam, muito além do descritivo, a essência de situações inefáveis, como em “Órfão”, onde o Autor, de certo modo, funde-se a um carvalho “seco e despido de vida” (pág. 55). Mas José Amaral não é um poeta alheio aos pesares de seus semelhantes; quando é preciso, como em “Perda” (pág. 59), “Olhares” (pág. 54), “Negra” (pág. 50), “Grilhetas” (pág. 36) e “Fantasista” (pág. 32), ele sabe embora discretamente, apontar as carências sociais. A difícil simplicidade de seus poemas, onde há a remoção do entulho retórico e das pretensões bizantinas, satisfaz tanto a severidade crítica quanto o público leitor e isto é algo desejável em qualquer obra de arte. Enfim, degustar pouco a pouco os poemas de “Outonalidades” (Papiro Editora, 2006, Porto, Portugal), não é, como no poema “Recordações” (pág. 62), passar “dias assim/simplesmente/...dias!”.
* Cláudio Feldman (professor aposentado de Língua & Literatura e autor de 42 livros; o mais recente é “Campos de Algodão”, haicais, Editora Taturana, Brasil).


in “Jornal do Centro” (ed. 243, 10 de Novembro de 2006)


Nos últimos tempos o meu livro “Outonalidades” foi notícia na imprensa escrita em Portugal. Primeiro no “Primeiro de Janeiro” e agora no “Jornal do Centro” (
http://www.jornaldocentro.pt/). Desta vez pela pena do poeta brasileiro Cláudio Feldman, de quem já fiz referência aqui no Ad Litteram. Ao “poetamigo” (como uma vez me chamou) e ao semanário viseense que publicou esta crítica ao meu livro o meu agradecido bem-haja.


(José Amaral)

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Quentes e boas...

É já no Sábado, 11 de Novembro, que se comemora o Dia de S. Martinho.

Diz a lenda que “Martinho era um valente soldado romano que estava a regressar da Itália para a sua terra, algures em França. Montado no seu cavalo estava a passar num caminho para atravessar os Alpes, e, lá no alto, fazia muito, muito frio, vento e mau tempo. Martinho estava agasalhado normalmente para a época: tinha uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam. De repente, aparece-lhe um homem muito pobre, vestido de roupas já velhas e rotas, cheio de frio que lhe pediu esmola. Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre. Nesse momento, de repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão! Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido bom. É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, mesmo sendo Outono, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de São Martinho”.

Este ano o tempo não tem estado tão quente como em anos anteriores, mas isso não impede que se faça um magusto para comer umas castanhas assadas. Comer castanhas e não só… pois como diz o ditado «No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho».

(José Amaral)

Quem se importa com os professores?

É sob este título que José Gil apresenta na revista “Visão” (N.º 714 de 9 a 15 Nov) um ensaio muito interessante. Por ser extenso não o publico na íntegra, mas apenas algumas frases.


«O que impressiona, nas intervenções mediáticas dos responsáveis do Ministério da Educação (ME), é a ausência total de uma palavra de apreço e incentivo para com os professores. Quando ela vem, parece forçada, demasiado geral, demonstrando uma incompreensão profunda pelas condições do exercício da função. Os últimos rumores (verdadeiros) sobre as eventuais oito horas lectivas obrigatórias, mais o corte das “pausas” do Natal, Carnaval e Páscoa, provam que as autoridades encarregadas de conceberem a política educativa do nosso país não sabem – ou não querem saber – o que implica ser professor.
(…)
Eis o que explicaria os excessos discursivos (e não só) dos responsáveis do ME. Tem-se a nítida impressão de que não gostam dos professores – por mais que queiram distingui-los dos sindicatos. (…) Neste quadro, a Educação constitui um pilar essencial do projecto governativo do primeiro-ministro: se ele falha, falhará todo o projecto.
(…)
Quem se importa com os professores? Questão que poderia deslizar, perigosamente, para esta outra: quem se importa com o ensino? Quem, nesta reforma, pensa no tipo de trabalho, material e imaterial, que o professor fornece, para que a relação mestre-aluno produza os efeitos esperados?
(…)
A actual política educativa parece padecer de toda uma série de disfunções e desfasamentos: muda-se o estatuto da carreira docente, com novas tarefas, mais trabalho, mantendo-se inalterados os conteúdos e negligenciando a formação necessária dos maus professores; instauram-se regras de avaliação, mas não se eliminam os compadrios e as conveniências;…
(…)
Tudo isto é mau para o ensino e para a educação. Como se a “racionalização” do ensino básico e secundário, ao preocupar-se apenas com alguns dos seus aspectos, e sem visão global, induzisse necessariamente outras formas de irracionalidade e anarquia».

Defendo desde há muito uma “revolução” no sistema de ensino, mas não uma “revolução” teimosa e caprichosa. É necessário que se saiba ouvir todas as partes envolvidas (e não só os sindicatos; há muitos professores não sindicalizados e que não partilham da opinião dos sindicatos; talvez seja mais cómodo para o ME dizer que tentou negociar, mas os sindicatos não quiseram), é necessário haver cedências de ambos os lados. Faça-se uma verdadeira “reforma”, contudo não queira fazer-se à medida de uns poucos e colocando os professores no centro de todos os males do ensino/educação.
(P.S. para os desconfiados ou mal intencionados que não fique a sensação que escolhi as frases por escolher. Podem sempre ler o artigo na íntegra)

(José Amaral)

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Muro da Vergonha

O Muro de Berlim (muro da vergonha) foi uma realidade e um símbolo da divisão da Alemanha em duas entidades estatais: a RFA (República Federal da Alemanha) e a (RDA) República Democrática Alemã. Este muro dividia a cidade de Berlim ao meio e simbolizava a divisão do mundo em dois blocos.

Construído na madrugada de 13 de Agosto de 1961, dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro provocou a morte a 80 pessoas identificadas, 112 ficaram feridas e milhares aprisionadas nas diversas tentativas de o atravessar.

O Muro de Berlim caiu no dia 9 de Novembro de 1989, depois de 28 anos de existência. Foi o acto inicial da reunificação das duas “Alemanhas”.

Ainda me lembro da queda do muro e da festa que as pessoas fizeram. Por todo o mundo houve festejos de regozijo. Um muro tinha caído e era necessário criar pontes. Assim foi feito. A Alemanha mostrou-se capaz de reunificar as duas “irmãs”. Porém, nem sempre os governantes pensam assim. Nos nossos dias muito se tem falado do muro na Palestina e, mais recentemente, no muro nos E.U.A. Para quando, da parte dos homens do poder, a construção de pontes e não de divisórias?


(José Amaral)

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Terror?!...

Abraham "Bram" Stoker nasceu a 8 de Novembro de 1847, em Clontarf, subúrbio de Dublin, Irlanda. Faleceu a 20 de Abril de 1912, em Londres, Inglaterra. Ficou conhecido como escritor, sobretudo, por ter sido o autor de Drácula, a principal obra no desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro.
O romance foi adaptado muitas vezes ao cinema e o vampiro foi usado em muitas histórias e paródias independentes do romance original.

O romance mais recente a tratar do assunto é O Historiador, de Elizabeth Kostova, que se propõe a ser uma espécie de desmistificador da lenda de Drácula. É um romance que coloca o leitor na trilha do Drácula histórico (Vlad o Empalador), em meio a mosteiros medievais.

Tive a oportunidade de ler há pouco tempo este maravilhoso e surpreendente livro que nos cativa do princípio ao fim. Aqui fica uma sinopse:

«Uma noite, ao explorar a biblioteca do pai, uma jovem mulher encontra um livro antigo e uma maço de cartas amareladas. As cartas começam todas por “Meu querido e desventurado sucessor…” e fazem-na mergulhar num mundo com que ela nunca tinha sonhado – um labirinto onde os segredos do passado do pai e do misterioso destino da mãe se ligam a um mal inconcebível escondido nas profundezas da história. As cartas abrem caminho para um dos poderes mais perversos que a humanidade já conheceu e para uma busca que dura há séculos para encontrar a origem dessa perversidade e extingui-la. É uma busca da verdade sobre Vlad o Empalador; o governante medieval cujo bárbaro reinado esteve na base da lenda de Drácula. …»



(José Amaral)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Camus


Albert Camus nasceu em Mondovi (Argélia), a 7 de Novembro de 1913 e faleceu em Villeblevin, a 4 de Janeiro de 1960, num acidente automobilístico. Escritor e filósofo. Na sua terra natal viveu sob o signo da guerra, fome e miséria, elementos que, aliados ao sol, formam alguns dos pilares que orientaram o desenvolvimento do pensamento do escritor.
Sob estas directrizes, não é sem sentido que sua obra (filosófica e literária) tenha o absurdo como estandarte.
Conhece Sartre em 1942 e tornam-se bons amigos no tempo de pós-guerra. Conheceram-se devido ao livro "O Estrangeiro" sobre o qual Sartre escreveu elogiosamente, dizendo que o autor seria uma pessoa que ele gostaria de conhecer. Um dia em uma festa em que os dois estavam, Camus apresentou-se a Sartre, dizendo-se o autor do livro. A amizade durou até 1952, quando a publicação de "O Homem Revoltado" provocou um desentendimento público entre Sartre e Camus.
Aquando da sua morte, na sua maleta estava contido o manuscrito do "O Primeiro Homem", um romance autobiográfico que, por uma ironia do destino, nas notas ao texto ele escrevera que aquele romance deveria terminar inacabado.
Poderia deixar aqui a extensa bibliografia de Camus, mas prefiro deixar aqui duas passagens de dois livros dele que muito me agradaram.
«Pendant tout ce temps, il n’y a plus eu que le soleil et ce silence, avec le petit bruit de la source et les trois notes. Puis Raymond a porté la main à sa poche revolver, mais l’autre n’a pas bougé et ils se regardaient toujours. J’ai remarqué que celui qui jouait de la flûte avait les doigts des pieds très écartés. Mais sans quitter des yeux de son adversaire, Raymond m’a demandé : « Je le descends ? » J’ai pensé que si je disais non il s’exciterait tout seul et tirerait certainement» (in L’étranger).
«En vain, tous les soirs sur les boulevards, un vieillard inspiré, portant feutre et lavallière, traverse la foule en répétant sans arrêt : « Dieu est grand, venez à lui », tous se précipitent au contraire vers quelque chose qu’ils connaissent mal ou qui leur paraît plus urgent que Dieu. (…) toute l’angoisse qui se peint dans la journée sur les visages se résout alors, dans le crépuscule ardent et poussiéreux, en une sorte d’excitation hagarde, une liberté maladroite qui enfièvre tout un peuple. «Et moi aussi, je suis comme eux. Mais quoi ! la mort n’est rien pour les hommes comme moi. C’est un événement qui leur donne raison.» (in La peste)


(José Amaral)

domingo, 5 de novembro de 2006

A fada Sophia


Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919. Faleceu em Lisboa a 2 de Julho de 2004. Foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.

Frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, mas não chegou a terminar o curso. Foi casada com o jornalista Francisco Sousa Tavares e mãe de cinco filhos (talvez o mais mediático o também escritor, Miguel Sousa Tavares). Os filhos motivaram-na a escrever contos infantis, mas que são lidos por todos, pois são maravilhosos. Quem nunca leu ou ouviu falar de “A menina do Mar”, “A Fada Oriana”, “O Cristo Cigano”, “Contos Exemplares” (dos quais destaco esse sublime conto denominado “O Homem”), “O cavaleiro da Dinamarca”? …

Criada na velha aristocracia portuguesa, educada nos valores tradicionais da moral cristã, dirigente de movimentos universitários católicos, veio a tornar-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal, denunciando os falsos critérios do regime salazarista e os seus seguidores mais radicais.

Foi também tradutora de Dante Alighieri e de Shakespeare.

Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro Livro sexto. Foi distinguida com o Prémio Camões em 1999 (tornando-se a primeira escritora de Portugal a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa).


Aqui fica um pequeno poema de Sophia que talvez funcione como conselho nestes tempos que correm, mais ou menos atribulados, na nossa pátria. Ou será no nosso exílio? O leitor que decida…

(José Amaral)


Exílio

Quando a pátria que temos não a temos

Perdida por silêncio e por renúncia

Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades.

Curiosidades


Mariposa Imperadortem 30 centímetros da extremidade de uma asa à da outra e o corpo branco e acinzentado. As asas parecem ter recebido pinceladas de desenhos geométricos, pintados de preto, cinza e marrom. O nome científico é Thysania agrippina, e seu nome comum é Mariposa Imperador. É o maior lepidóptero nocturno do mundo. Em outras palavras, a maior mariposa do planeta. A imperador foi encontrada pela primeira vez na Amazónia, mas outros exemplares já foram vistos nas matas do México.
A mais longa de todas as cobras é provavelmente a Python que mora nas selvas do Sudeste da Ásia. Pode crescer até 10 metros – equivale ao comprimento de 6 humanos adultos.
A mais pesado de todas as cobras – alguns cientistas dizem que também é a mais longo - é a Sucuri que mora na América do Sul. A maioria das sucuris cresce aproximadamente 7,6 metros. Mas a maior encontrada tinha 11,2 metros e pesava 453 kg. Por ser muito pesada, a sucuri fica muito tempo na água que onde alivia seu grande peso.
O besouro rinoceronte vive na América do Sul é o mais forte de todos os animais. Este insecto surpreendente pode erguer oitocentas cinquenta vezes seu próprio peso.
O Falcão Peregrino encontra-se na América do Norte e América do Sul, Austrália e África. Ele pode mergulhar pelo ar a 281 km por hora. Isso é mais rápido que qualquer outro pássaro pode mergulhar
A pulga é um dos maiores atletas de natureza. Este insecto pode saltar mais de trezentas vezes a altura do seu próprio corpo.
Uma das maiores aves da América do Sul e o Símbolo do PantanalJaburu (Jabiru mycteria) – além do seu tamanho (1,10 m), chama a atenção pelo seu enorme ninho feito de galhos de arbustos secos, construído em árvores como o "manduvi" (Sterculia striata), a "piúva" (Tabebuia impetigosa) ou em troncos de árvores mortas.
A Baleia Azul (Balaenoptera sp.) é o maior animal da Terra, podendo chegar ao peso de 145 a 160 toneladas.
Animal com o menor cérebro: a Preguiça, espécie típica da Amazónia, tem o cérebro do tamanho de uma azeitona. Proporcionalmente ao tamanho do corpo, é um dos animais com o menor cérebro em todo o mundo. Explicação dos zoólogos: como se alimenta só de folhas, ela não precisaria de mais que isso para encontrar comida.
A Harpia (Harpia harpyja) é a maior águia do mundo, a harpia amazónica tem 97 centímetros de altura, 11 a mais que a águia careca americana e bem maior que as espécies encontradas na África e na Europa. Alimenta-se de pequenos roedores e até de macacos.

in http://www.saudeanimal.com.br/curiosidades_animais.htm

sexta-feira, 3 de novembro de 2006


Caso sem precedentes no Canadá

Homem detido duas horas depois de violar criança em directo na Internet .
Um homem de 34 anos foi detido na região de Toronto, duas horas depois de ter transmitido em directo pela Internet imagens suas a violar uma menina, anunciou quinta-feira a polícia daquela cidade.


A detenção ocorreu no passado dia 29 de Outubro, mas só agora foi divulgada pela polícia, que recorreu a um agente infiltrado para conseguir chegar ao indivíduo. Segundo um porta-voz da polícia canadiana, o homem, cuja identidade não foi revelada para proteger a menor, estava a ser investigado desde Janeiro quando enviou ao agente Paul Krawczyk uma série de fotografias pornográficas da menina.
Em Outubro, voltou a distribuir pornografia infantil através da Internet ao mesmo agente.
Em conferência de imprensa, o detective da polícia de Toronto, Paul Krawczyk considerou tratar-se de um caso sem precedentes e o primeiro em que a polícia canadiana detém uma pessoa por transmissão em directo da violação de uma menor.
A polícia conseguiu rastrear a origem das imagens poucos minutos após o início da emissão e duas horas depois deteve o indivíduo na sua casa, na localidade de St.Thomas, a 180 quilómetros a sudoeste de Toronto.
A menina ainda se encontrava dentro da casa.
Krawczyk integra a Unidade de Crimes Sexuais da polícia de Toronto, que criou em parceria com a Microsoft um sofisticado programa informático para localizar pedófilos na Internet.
Em Maio, a Unidade de Crimes Sexuais de Toronto desarticulou uma rede de pedofilia cujos membros são acusados de abusar sexualmente de crianças entre os 12 meses e os três anos.

in Sic online, 03NOV06

Acabo de ler esta notícia que me deixou estupidificado. Meu Deus! A que ponto chegámos. Esta notícia “macabra” mostra o mundo em que vivemos? Quero acreditar que são casos isolados (infelizmente começam a ser notícia e é mau sinal), mas vejo-os com preocupação redobrada.
Fiquei tão «apalermado» que nem sei mais que escrever…
José Amaral

quarta-feira, 1 de novembro de 2006


Neste feriado vale a pena olhar este pequeno paraíso...

R.I.P.

A morte é um tema que assusta o Homem. Há pessoas que, pura e simplesmente, se recusam a falar sobre o tema, considerando-o um tema tabu. Hoje, 1 de Novembro, celebra-se a festa do Dia de Todos-os-Santos (do latim Festum omnium sanctorum). Amanhã, 2 de Novembro, celebra-se o Dia dos Fiéis Defuntos (também conhecido por Dia dos Finados). Estas celebrações têm mais simbolismo no mundo católico-cristão. Nestes dias recordam-se os que já partiram deste mundo (“memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” – lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar). As pessoas nestes dois dias recordam os seus mortos de forma mais saudosa. Os cristãos rezam pelos seus mortos e também por aqueles por quem, habitualmente, ninguém reza. O tema da morte é fonte infindável de criações literárias. Também a nível poético o tema é fonte inspiradora. Aos que já partiram (“requiescat in pace”, “rest in peace” ou simplesmente R.I.P.) e aos que partiremos um dia:

Remember


Recorda-te de mim quando eu embora

For para o chão silente e desolado;

Quando não te tiver mais ao meu lado

E sombra vã chorar por quem me chora.


Quando não mais puderes, hora a hora,

Falar-me no futuro que hás sonhado,

Ah de mim te recorda e do passado

Delícia do presente por agora.


No entanto, se algum dia me olvidares

E depois te lembrares novamente,

Não chores: que se em meio aos meus pesares


Um resto houver de afecto que em mim viste,

- Melhor é me esqueceres, mas contente,

Que me lembrares e ficares triste.


(Christina Rossetti, tradução de Manuel Bandeira)


A Sepultura

Já tinhas pronta uma casa

inda estavas por nascer;

não é alta nem folgada,

mal te podes estender;

o tecto não se alevanta,

fica em cima do teu peito;

é à justa o comprimento

por tua medida feito;

as paredes são de terra

talhadinha com cautela;

não tem postigo nem porta

nem poderás sair dela;

chamas pelos teus amigos,

nenhum quedou a teu lado;

ninguém virá de mansinho

ver se dormes descansado:

pois só os vermes, aí

na pousada negra e fria,

não terão nojo de ti

e te farão companhia.


(Anónimo séc. XIII, tradução Luiz Cardim)


carrasco

Quem és tu,

carrasco maldito,

que escavas

sete palmos de terra

e que depois

os aconchegas

às tábuas

do meu caixão?


Dá-te prazer?

É-te difícil?


Não invejo a tua sorte,

contudo peço-te

um favor:

atira brandamente

a terra para cima

do meu esquife.


Obrigado!


(José Amaral, in “Oráculo Luminar”)