sábado, 27 de setembro de 2008

O actor norte-americano Paul Newman morreu aos 83 anos. O também realizador, argumentista, produtor e conhecido pela sua defesa pelas causas humanitárias anunciou a sua saída do mundo do cinema no ano passado, pouco antes de confirmar publicamente que se encontrava doente com um cancro de pulmão.
A morte do actor foi confirmada pela sua porta-voz, Marni Tomljanovic, citada pela CNN e BBC. Newman morreu ontem, cerca de um mês depois de o próprio ter decidido interromper os tratamentos de quimioterapia a que estava a ser sujeito num hospital de Nova Iorque e pedido à família para ir para casa.
Com mais de 60 participações em filmes e dezenas de outras em séries televisivas, Newman recebeu dez nomeações para os Óscares ao longo da sua carreira, tendo finalmente sido distinguido em 1987 com o Óscar para melhor actor principal pela sua interpretação em “A Cor do Dinheiro”. Foi ainda distinguido com dezenas de outros prémios,
A sua última aparição no grande ecrã foi ao lado de Tom Hanks, no filme “Caminho para a Perdição” (2002), do realizador Sam Mendes.
Nascido num subúrbio de Cleveland, a 26 de Janeiro de 1925, foi aos 26 anos que começou a dar os primeiros passos na actuação. Ao longo dos 50 anos que seguiram, Newman interpretou papéis memoráveis em filmes como “Gata em Telhado de Zinco Quente” (1958), “A Vida é um Jogo” (1961), “Butch Cassidy and the Sundance Kid” (1969) ou “The Sting” (1973). Além da carreira de actor, Newman realizou ainda quatro filmes, todos com a participação da mulher Joanne Woodward, com quem estava casado desde 1958,
O norte-americano deixou ainda a sua marca através da Newman's Own Foundation, com a qual financiava várias organizações de caridade e humanitárias. Newman fundou ainda a Hole in the Wall, uma organização que oferecia férias de Verão a crianças de todo mundo que sofriam de doenças graves.
Robert Forrester, vice-presidente da Newman's Own Foundation, sublinhou num comunicado divulgado hoje que o actor “o seu coração e alma foram dedicados ajudar a fazer do mundo um melhor lugar para todos”.
Newman tinha ainda uma enorme paixão pelas quatro rodas. Em 1979, na altura com 54 anos, levou um Porsche 935 da equipa Dick Barbour ao segundo lugar da mítica prova francesa as 24 horas de Le Mans, uma das maiores provas de resistência.
Aos 70 anos, tornou-se o piloto mais velho a fazer parte da equipa vencedora das 24 horas de Daytona, em 1995.

(27.09.2008 - in “PÚBLICO”)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono

Já uma vez aqui publiquei este poema, mas em jeito de recepção ao Outono que agora começa volto a publicá-lo.

OutonO

Era Outono!

Passei por uma ruazita;
num pobre banco de madeira,
um “pobre” idoso sentado.
Tinha uma lágrima,
no canto do olho,
prestes a escorrer pela sua face
já gasta pelas agruras da vida.

Era Outono!

Nesse preciso momento reparei,
na única árvore existente.
Estava praticamente despida.
Tinha a sua beleza,
tal como o velhinho;
uma única folha
se mantinha incólume
à passagem do tempo.

Era Outono!

O idoso baixou a cabeça.
O ramo da árvore,
onde se encontrava a solitária folha,
buliu.

Era Outono!

Quando nada o fazia prever,
o sopro da vida,
gélido e aterrador,
percorreu a ruazita.
Foi fatal!
Para a folha que... caiu.
Para o idoso que... faleceu.

Era Outono!...
(in "Poder da Díctamo", José Amaral)

domingo, 21 de setembro de 2008

Poema

26


Já não me importa saber quem sou
nem o que faço aqui
importa-me saber, meu País,
que mais queres que faça por ti?…

Em Abril saí à rua,
onde tive meus filhos
cuja mãe é a madrugada,
redobrados ficaram os cadilhos,
mas em troca não me deste nada.

Plantaste-me na mão
arma e cravos
que não brinquedos e alimento,
meus filhos choram noite inteira
e eu sofro calado meu tormento.
Meus pés pisam o joio e acordam,
sangrando lamúrias,
de um sonho que espalhaste
como trigo que nunca deu grão.


(in “25 de Abril – 34 Anos”, José Amaral)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Amador...


Amador sem coisa amada


Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.

(António Gedeão)

domingo, 14 de setembro de 2008

Recordar é viver...

Mamma Mia! foi um dos musicais mais vistos e aplaudidos (por 30 milhões de pessoas em 170 cidades pelo mundo), ao som da música dos Abba. Agora chegou a vez do filme. A história do filme não é de todo inovadora, no entanto o filme vale pelas imagins idílicas, pela musicalidade e pelas interpretações, nomeadamente, as femininas. Vale a pena ver este filme que mais não seja para recordar grandes êxitos desse fabuloso quarteto sueco formado por volta de 1970-1972 pelos músicos e compositores Björn Ulvaeus e Benny Andersson, e pelas vocalistas Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad. Ao longo do filme podemos recordar muitos dos seus êxitos, tais como: "Honey, Honey", "Mamma Mia""Take a Chance on Me", "Dancing Queen", "Chiquitita"…
Vale a pena ver!
Aqui fica a sinopse do filme:
«Uma mãe solteira, independente, que tem um pequeno hotel numa idílica ilha grega, Donna (Meryl Streep), está prestes a ter de deixar partir Sophie (Amanda Seyfried), a filha que criou sozinha. Para o casamento de Sophie, Donna convidou duas das suas melhores amigas - a prática e hilariante Rosie (Julie Walters) e a multi-divorciada Tanya (Christine Baranski) - as quais pertenciam à sua banda de outrora, «Donna and the Dynamos». Mas Sophie, secretamente, também convidou três pessoas (Colin Firth, Pierce Brosnan e Stellan Skarsgard). Na tentativa de encontrar o seu pai, ao qual estaria destinado levar a noiva ao altar, ela convidou três dos homens do passado de Donna. Em cerca de 24 horas mágicas e caóticas, surgirão novos romances e renascerão antigos, naquela que parece a ilha de todas as possibilidades.»

(José Amaral)

sábado, 13 de setembro de 2008


Respiro o teu corpo

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

(Eugénio de Andrade)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Má memória

Há imagens que não se apagam das nossas memórias. Marcam-nos, horrorizam-nos e assustam-nos.
A 11 de Setembro de 2001 (exactamente às 8h48m e 9h03m locais), as duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova Iorque, vieram abaixo horas após terem sido parcialmente destruídas por duas aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo. Uma outra aeronave Boeing 757 da American Airlines atingiu em cheio o prédio do Pentágono, destruindo parte do conjunto e matando muitos funcionários do governo federal americano (exactamente às 9h43m). Outra aeronave Boeing 757 foi sequestrada e derrubada, às 10h10m, caindo em Shanksville, a 130 quilómetros ao sul de Pittsburgh, na Pensilvânia. No total foram quatro sequestros simultâneos, todos perfeitamente estudados e friamente consumados por terroristas árabes.

(José Amaral)

domingo, 7 de setembro de 2008

apocalipse literário

Mais uma sugestão literária. Desta feita de novo um autor português. Confesso que não conhecia a prosa do autor, pois apenas conhecia a poesia. Falo de Valter Hugo Mãe que nasceu em Angola em 1971. Da vasta obra publicada destaca-se o romance “o remorso de baltazar serapião”, vencedor do Prémio José Saramago 2007.
O livro que sugiro é o apocalipse dos trabalhadores (QuidNovi, 182 páginas). É uma obra que se lê num fôlego e com muito agrado, já que se trata de uma narrativa “movida a vapor”, cheia de ritmo, carregada de humor à mistura da tragédia humana. Um pormenor que perpassa todo o livro: está escrito em letras minúsculas do princípio ao fim.
Aqui fica a sinopse do livro:
«Maria da graça – mulher-a-dias em Bragança esquecida do mundo – tem a ambição, não tão secreta como isso, de morrer de amor; e por essa razão sonha recorrentemente com a entrada no paraíso, onde vai à procura do senhor ferreira, seu antigo patrão, que, apesar de sovina e abusador, lhe falou de Goya, Rilke, Bergman ou Mozart como homens que impressionaram o próprio deus. Mas às portas do céu acotovelam-se mercadores de souvenirs em brigas constantes e São Pedro não faz mais do que a enxotar dali a cada visita.
Tal como Maria da Graça, todas as personagens deste livro buscam o seu paraíso; e, aflitas com a esperança, ou esperança nenhuma, de um dia serem felizes, acham que a felicidade vale qualquer risco, nem que seja para as lançar alegremente no abismo.
O apocalipse dos trabalhadores é um retrato do nosso tempo, feito da precariedade e dessa esperança difícil. Um retrato desenhado através de duas mulheres-a-dias, um reformado e um jovem ucraniano que reflectem sobre os caminhos sinuosos do engenho e da vontade humana num Portugal com cada vez mais imigrantes e sobre a forma como isso parece perturbar a sociedade.»

(José Amaral)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mais um apontamento literário. De novo uma obra de Dino Buzzati. Depois de “O Deserto dos Tártaros” desta vez sugiro A Derrocada da Baliverna (Cavalo de Ferro, 335 páginas). É um registo diferente da anterior obra do autor – aqui sugerida – mas com a mesma qualidade. Refira-se que esta editora tem apostado na literatura de qualidade e nos grandes nomes. Segundo o “The Times” «Buzzati é um dos pioneiros que, a par de Kafka e de Dostoievsky, abriram novas fronteiras para a literatura moderna».
Esta obra é uma colectânea de trinta e sete contos de grande qualidade. Logo a começar pela história que dá o título ao livro, um homem vulgar decide-se a escalar clandestinamente a parede da Baliverna, um velho mosteiro degradado e transformado em refúgio de vagabundos e bandidos. Essa acção imponderada é punida com a derrocada de todo o edifício, provocando o terror do castigo subsequente. Mas não só este como muitos outros contos dos quais destaco “O Cão que viu Deus”, “O Escuro”, “Os cinco irmãos”… Em todos estes contos Buzzati dá-nos uma visão fantástica do mundo. Neles vemos como o ser humano é, por natureza, um ser angustiado.
É uma obra que recomendo vivamente!

(José Amaral)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Regresso

Depois de umas merecidas férias... o regresso. Ao convívio dos meus leitores e, também, ao trabalho...


Sorriso


Ali estavas tu,
com uns grandes olhos,
verdes,
mas sempre sempre
tristes.

São o reflexo
do mundo
em que vives.
Esse mundo tão real
que chegava
a sobrepor-se
à imaginação.
Bem queres,
com o teu sorriso,
alegrar o teu
sempre sempre triste
olhar.

Não consegues,
já que os olhos
vêem
o que o sorriso
procura disfarçar!


(in "Outonalidades", José Amaral)