quinta-feira, 31 de julho de 2008

II Pilar da Terra

Um dos post’s anteriores só agora fica completo com esta referência. Trata-se do Volume II de Os Pilares da Terra (Editorial Presença, 596 páginas) de Ken Follet.
Quando pensávamos que a continuação da saga não poderia trazer nada de novo, eis que o autor nos surpreende. A trama vai conhecendo novos contornos e vai-nos surpreendendo, além de nos ir prendendo à leitura. Philip, prior de Kingsbridge, continua a revelar-se um homem que luta contra tudo e todos para construir a sua catedral. Na história Aliena continua a revelar-se uma mulher de armas: arranja dinheiro para armar o irmão e para o ajudar a voltar a ser conde, casa-se com Alfred (embora o casamento não se consume por falta de consumação carnal)… engravida de Jack e dá à luz um filho; vai atrás do seu amor… Tom, o construtor, quando nada o fazia prever morre. Richard torna-se conde… Philip acaba por construir, sob a orientação de Jack, a catedral…
Definitivamente dois livros a não perder. Pela mestria da escrita de Ken Follet, mas também pela história narrada. Pelas intrigas político-religiosas que nos fazem pensar que a História (os pecados mundanos) se repete num círculo vicioso.

(José Amaral)

domingo, 27 de julho de 2008

Poema


Nuit


Il faisait noir
comme dans la gueule d’un loup !

La nuit était tombée…

Un vieillard veinard
dormait le sommeil du juste.

Un jardinier somnambule,
dans le jardin de la vie,
prenait soin de ses fleurs
de façon à écarter
l’insomnie atroce
que l’emprisonnait
dans les catacombes du remords.

Un long fleuve de couleurs
faisait songer à cet homme
qui cherchait emprunter,
à la beauté fleurie du jardin,
la rémission de son horrible passé…
d’assassin.




(in “Outonalidades”, José Amaral)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

I Pilar da Terra

Na senda das leituras de férias trago hoje aqui uma obra deliciosa, quer pela forma como está escrita quer pela história narrada. Trata-se do Volume I de Os Pilares da Terra (Editorial Presença, 498 páginas) de Ken Follet. Apenas a lamentar o tipo de letra muito pequeno (o mesmo se encontrará no Volume II que aqui comentarei). Mas em nada este pormenor serve para minorar esta maravilhosa obra.
“Os Pilares da Terra” é um romance histórico prenhe de intrigas, aventura e lutas político-religiosas. A trama desenrola-se em Inglaterra, no século XII, onde Tom, um pedreiro, persegue o sonho de construir uma catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. Tom pretende construir esta catedral, pois a sua mulher, depois de ter dado à luz o seu terceiro filho, faz-lhe este pedido. Depois como morre, Tom quer construir a catedral para homenageá-la. Esta ambição vai envolver outros protagonistas: Philip Gwyned, o prior de Kingsbridge, enfrenta o ambicioso bispo Waleran Bigod. Administrador enérgico, Philip assume um mosteiro à beira da falência e reergue-o, transformando a aldeia ao redor numa cidade importante. Waleran a princípio ajuda Philip na esperança de usá-lo para subir na hierarquia da igreja, mas ao perceber que não pode manipulá-lo, torna-se inimigo do prior. Aliena, filha do conde Bartholomew de Shiring, incorre na ira da poderosa família Hamsleigh ao romper o noivado com William Hamsleigh. Antes de morrer, o pai deles (Aliena e Richard) faz com que os dois jurem não descansar enquanto não recuperarem as terras da família. Protegida pelo prior Philip, ela prospera no comércio de lã e financia a carreira do irmão como cavaleiro do rei, na esperança de que o soberano devolva as terras da família usurpadas por William.
Para o segundo volume ficam reservados muitos desfechos: será ou não concluída a construção? qual o futuro de Richard e de William? casar-se-á Aliena e com quem?
Este é daqueles livros que figuram no topo da escolha de quem gosta de ler obras bem escritas e com substância.

(José Amaral)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Liberdade


O Novo Colosso

«Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado».



Gravado numa placa de bronze no pedestal da Estátua da Liberdade, na baía de Nova Iorque, este soneto escrito por Emma Lazarus (nascida em 1859, faleceu em Nova Iorque aos 38 anos, a 19 de Novembro de 1887)

(José Amaral)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Mais um...

Mais uma leitura de férias. Desta feita Diário de um Killer Sentimental (Edições Asa, 152 páginas) de Luís Sepúlveda. São três pequenas histórias (a já citada que dá nome ao livro, “Jacaré” e “Hot Line”) em que o autor regressa ao género policial. A particularidade das histórias é que são narradas na primeira pessoa de um profissional que se apaixona e que sente uma irresistível curiosidade pela sua próxima vítima. Aliado a este factor temos um humor negro, que é a nota dominante nestas três pequenas novelas de cariz policial que fazem parte deste livro. Acresce que Luís Sepúlveda tem uma escrita fluente, simples, mas inteligente.
Na primeira história – parece-nos um episódio de James Bond – Sepúlveda de forma sóbria denuncia a hipocrisia da lei em países onde, supostamente, se defendem os direitos humanos. Também na segunda história o tráfico de matérias-primas provenientes de espécies protegida é preocupação para o autor. Na terceira história, uma vez mais estamos na presença de injustiças por causa da influência dos poderosos, subjugando os mais fracos.
Uma leitura que recomendo, pois é divertida, faz-nos rir e descontrai-nos. Uma leitura light (mas nem por isso menos conseguida) para as férias.


(José Amaral)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Angústia


AngústiA

Uma azia, dilacerante,
vagueava, ondulante,
em meu peito.
Consumia-me, aquela infeliz;
abrasava-me, qual lava vulcânica.

Eis, senão quando,
a azia abriu uma brecha,
em meu coração empedernido,
qual lança mortal.

Senti tremuras,
vorazes,
que me espicaçavam.

Aquela azia
- qual áspide bicéfala –
provocava em mim
um efeito nefasto.

Aquela ingrata
que usurpava, ilegalmente, o meu corpo
trazia-me escravizado,
amargurado,
doído,
angustiado.




(in Poder da Díctamo, José Amaral)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Regresso à boa leitura

Mais uma sugestão literária para as férias. Um livro que entraria, directamente, para o meu Top Five dos melhores livros que já li (no que a autores estrangeiros se reporta). Trata-se de O Regresso (Edições Asa, 314 páginas) de Bernhard Schlink.
Estamos na presença de um romance construído de várias histórias a fazer lembrar as matrioskas (bonecas russas) ou uma cebola que se vai descascando. As histórias não aparecem soltas, mas ligadas; entre todas está presente a ideia de “regresso” – como um perpétuo movimento. A “Odisseia”, de Homero, ajuda na construção da narrativa. Peter Debauer (a personagem principal) vive com a mãe e passa férias na Suíça, com os avós paternos, responsáveis pela edição de uma colecção de livros (romances de cordel). Um dia, os avós dão ao neto o papel usado nas provas, em cujo verso ele pode escrever mas cujas histórias está proibido de ler. Desobedecendo, põe-se a ler um desses romances, sobre o regresso a casa de um soldado alemão, e fica obcecado pela história, cujo desenlace ignora, já que tinha utilizado as respectivas folhas em trabalhos escolares.
Anos mais tarde, já adulto, Peter decide procurar as páginas desaparecidas e regressa aos fragmentos das aventuras de Karl, que copiam e reinventam os trabalhos de Ulisses, lançando-se numa complexa e demorada procura. Sob o encantamento da sua própria história de amor, e à medida que começa a deslindar o mistério do desaparecimento do pai, por um acaso, descobre que o seu pai, soldado na guerra, que dera como morto, pode afinal estar vivo.
Peter vê-se, assim, obrigado a questionar a sua própria identidade e a enfrentar o facto de a realidade ser, por vezes, um reflexo das expectativas dos outros.

(José Amaral)

domingo, 13 de julho de 2008

"Poemágua"


Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, base e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

(António Gedeão)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Delícia literária

O livro que hoje aconselho, após deliciosa leitura, é Alfreda ou a Quimera (Bertrand Editora, 238 páginas) de Vasco Graça Moura. Confesso que não conhecia VGM enquanto romancista, pois é de um romance que se trata, apenas como poeta, tradutor e cronista. No entanto fiquei extremamente agradado com este belíssimo, de todo, romance. VGM cultiva a arte da escrita primorosa matizada com um sentido irónico apurado e uma crítica social atenta – conquanto desvelada. Lê-se com entusiasmo e dá vontade de lê-lo de “fio a pavio”, num só fôlego. Recomendo vivamente a sua leitura, pois será, seguramente, uma bela escolha literária para as férias.
Estamos na presença de um coleccionador particular de livros antigos (um bibliófilo), João de Melo, que se deixa apaixonar por uma belíssima e misteriosa mulher, Alfreda, com quem esteve, apenas, duas vezes. A sua vida vai reger-se à volta deste “fantasma” que João tenta reencontrar. Muito pouco sabe dela, através dela e o que vai sabendo, por terceiros, deixa-o desiludido. João vive atormentado pela existência desta mulher e renuncia a uma vida normal, a um amor tranquilo e equilibrado por causa desta quimera-Alfreda.
Aqui vos deixo um pequeno excerto:

«Agora é Maio e o jacarandá da minha rua está em flor, enevoado de um azul intenso que estremece levemente ao sabor da brisa da manhã. Na próxima semana, tenciono retomar as minhas excursões pela província. Há muito que não o faço e acho que é tempo de recomeçar. Preciso dessa terapêutica. Sei que, numa terreola perdida entre Lamego e Viseu, há uma D. Gisela Fagundes Manso, divorciada, que tem à venda um bom lote de livros antigos deixados pelo cónego Hermenegildo Fagundes, seu tio».

(José Amaral)

domingo, 6 de julho de 2008

Prazer da Leitura

Dos livros que escolhi para leitura de férias (embora, ainda, não totalmente de férias) o primeiro que li foi Venenos de Deus Remédios do Diabo, de Mia Couto (Caminho, 188 páginas). Este belíssimo Romance mostra toda a habilidade “escrítica” de Mia Couto. Ele usa as palavras – criando neologismos frásicos, baseados em trocadilhos – com mestria. O livro lê-se de um fôlego e prende-nos a atenção do princípio ao fim. Recomendo a sua leitura!
A história gira à volta de Sidónio Rosa, um jovem médico (ou falso médico, pois ainda não concluiu o curso) que parte para Moçambique atrás de Deolinda, uma mulata por quem se perdeu de amores. Sidónio conheceu Deolinda num congresso médico em Lisboa e partiu para Moçambique atrás da sua amada. A história desenrola-se em Vila Cacimba, onde vivem os pais de Deolinda (Munda e Bartolomeu). Mas muitos são os segredos e mistérios à volta destas personagens. Que aconteceu a Deolinda? Quem é ela na verdade? Porque mentem os Sozinhos e se aproveitam da paixão de Sidónio? As respostas vão acontecendo.
Aqui fica um pequenino excerto para abrir o apetite:

«- Doutor, preciso que me avise quando estiver mesmo chegando a minha hora.
- Está certo. Eu digo.
- É que eu tenho uma confissão grave a lhe fazer.
- Pode falar agora.
- Eu só falarei quando as coisas estiverem a dar para o morto.
- Torto. Dar para o torto.
- Corrija-me o sofrimento, Doutor. Não me corrija a gramática. Que eu, modéstia à parte, fiz estudos nos tempos coloniais.
Depois remata em tom irónico:
- E não foram apenas umas cadeiras, como fizeram outros que eu bem conheço…»

(José Amaral)

sábado, 5 de julho de 2008

"Pandemónio"

Hoje fui ao cinema ver o filme de animação O Panda do Kung-Fu. É um filme bem conseguido (embora a história já seja um pouco esbatida), com muita cor, movimento e imagens belíssimas. Vale bem a pena! O herói é um panda trapalhão que trabalha no restaurante do pai e pensa tornar-se Mestre de Kung-Fu. Inesperadamente é escolhido e vai treinar com os seus heróis. Ninguém acredita que seja ele o eleito.
Aqui fica a sinopse do filme:
«À primeira vista pode parecer apenas um simples panda, mas de noite Po (Jack Black, na versão portuguesa Marco Horácio) sonha em tornar-se num mestre de artes marciais. Agora que o seu povo está em perigo, Po pode ver os seus sonhos tornarem-se realidade mais depressa do que pensa. Inesperadamente, foi escolhido para treinar ao lado dos seus ídolos: os lendários Tigresa, Grou, Louva, Víbora e Macaco. Conseguirá ele alcançar os seus sonhos e derrotar o temível leopardo das neves, Tai Lung? (na versão portuguesa Joaquim de Almeida)».

(José Amaral)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sugestão perfumada

Acabei de “triler” o belíssimo livro de Patrick Suskïnd, O Perfume (Editorial Presença, 273 páginas). É um livro maravilhoso, envolvente como um frasco de perfume que liberta um odor agradabilíssimo.
É a estranha história, passada em França no século XVIII, de um artesão especializado na arte de perfumista. Jean-Batiste Grenouille (que por ter sido constantemente rejeitado se torna num cruel assassino) possui um raro dom: tem um talento único para apreciar os aromas que o rodeiam, talento que usa para criar os melhores perfumes do mundo. É através deste dom e na busca do odor Absoluto que Grenouille desata a matar jovens virgens para lhes extorquir o seu odor corporal. Desta forma alcançará o Belo e, por possuir uma incorrupta pureza, exerce um fascínio extra sobre os leitores. No entanto, este dom esconde um segredo e a sua paixão pela sua arte vai transformar-se numa obsessão sangrenta.
Suskïnd é mestre em criar uma ambiência fantástica que prende o leitor da primeira à última linha. Recomendo este livro para as férias e, já agora, também o filme. Esta obra já foi adaptada ao grande ecrã e a adaptação (embora não substitua a leitura do livro) está muito bem conseguida.

(José Amaral)

terça-feira, 1 de julho de 2008

«Colheita de Excelência»

O dia 2 de Julho foi profícuo no que às “Letras” se refere. Neste dia viram a luz do dia nomes sonantes da Literatura Mundial, mas também alguns disseram adeus ao mundo dos mortais. Aqui ficam alguns desses importantes símbolos.

Hermann Hesse nasceu na
Alemanha, em 2 de Julho de 1877 e faleceu na Suíça, a 9 de Agosto de 1962.
Procurou construir sua própria
filosofia, a partir de sua revolta pessoal e de sua interpretação pessoal das correntes filosóficas do Oriente e em especial em "O Lobo da Estepe" (1927), que é também uma crítica contra o militarismo vigente na sua terra natal depois da Primeira Guerra Mundial. Em 1946 ganhou o Prémio Nobel de Literatura.

Zélia Gattai nasceu em
São Paulo, em 2 de Julho de 1916 e faleceu em Salvador, a 17 de Maio de 2008. Conhecida como escritora, fotógrafa e memorialista ficou, igualmente, conhecida por ter sido casada (cinquenta e seis anos) casada com Jorge Amado.


Ernest Hemingway nasceu em Illinois, a 21 de Julho 1899 e faleceu em Idaho, a 2 de Julho 1961. Este escritor trabalhou como correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola e a experiência inspirou uma de suas maiores obras, "Por Quem os Sinos Dobram". Ao fim da Segunda Guerra Mundial se instalou em Cuba. A sua vida foi muito turbulenta; casou quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952 publica "O Velho e o Mar" ( considerada a sua obra-prima), com o qual ganhou o prémio Pulitzer (1953) e em 1954 recebeu o prémio Nobel de Literatura.

Vladimir Nabokov nasceu em
São Petersburgo, a 22 de Abril de 1899 e faleceu em Montreux, Suíça, a 2 de Julho de 1977. Entre muitas obras célebre ficou o seu polémico romance, datado de 1955, “Lolita”.

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no
Porto, a 6 de Novembro de 1919 e faleceu em Lisboa, a 2 de Julho de 2004. Foi provavelmente a maior poetisa portuguesa do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da Língua Portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. Em 2003 foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia.
Na Poesia Sophia destacou-se, mas também se distinguiu como contista deixando-nos o maravilhoso "
Contos Exemplares". Da sua extensa produção infantil destacam-se: "A Menina do Mar", "O Cavaleiro da Dinamarca", "A Floresta", "O Rapaz de Bronze", "A Fada Oriana"...

(José Amaral)