segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Comentário Crítico

Na edição de hoje, 30 de Outubro de 2006, do jornal “O Primeiro de Janeiro” saiu um comentário crítico do Prof. Dr. Joaquim de Montezuma de Carvalho (na secção «Artes e Letras») sobre o meu livro “Outonalidades”. Gostaria de o publicar aqui na íntegra, mas por ser extenso apenas o coloco “remendado”. Porém, para quem quiser lê-lo na totalidade basta seguir o seguinte link (abrindo a página clicar onde diz Assinatura Reconhecida) http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=tema&sec=d67d8ab4f4c10bf22a
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José Amaral: vero poeta da difícil simplicidade…

Joaquim de Montezuma de Carvalho
No cap. XVIII, da parte 2ª de Don Quijote de La Mancha, o autor, Cervantes, mandava recado satírico aos abundantes e turvos poetas do seu tempo ibérico: - “No me parece mal esa humildad – respondió Don Quijote -; porque no hay poeta que no sea arrogante y piense de si que es el mayor poeta del mundo”. Nesse tempo – ontem como hoje – os poetas eram tantos que tapavam o sol nas alturas. O comentário humorístico é de Cervantes, a prolongar-se…
(…)
Quanto aos críticos – tão responsáveis insanos do aluvião – o Amadeu Torres (Casto Gil) dá-lhes o remédio curativo:
Mas quem quer lição hoje de outrem, afinal,
Se o raso quer assentar praça em general
E o poetastro bisonho é Camões em Constância?
Fazem-me rir a crítica e a sua bitola:
Muita vez, não se sabe quem lidera a bola,
Se a amizade, a nesciencia, a cor, a petulância.
(…)
A sociologia ainda não estudou as inversões. Por cá já existem poetas com estátuas e pouco valem. Pelo Brasil floresce o mesmo destino inverso: os que não prestam é que são badalados (as maiorias). Tobias Pinheiro completou oitenta anos neste 2006. Este poeta carioca festejou-se com a edição de “Sonetos” (Rio de Janeiro, 2006, 128 pg.). Vale a pena lembrar este soneto cujo título a calhar poderia ser igualmente “Às avessas”:

ODE À MEDIOCRIDADE
Acreditas na glória, a glória imensa,
que dá ao vencedor louros e preces…
Teus súditos de rastro, em forma de SS,
só pedem que lhes dês a recompensa.
Essa mediocridade é que te incensa,
e é nesse entusiasmo que te aqueces,
com os fastígios do orgulho em que estremeces
contra a humildade e contra a indiferença.
Fui derrotado e sei que és vencedora,
mas prefiro o ostracismo e a nostalgia,
a te seguir, ó deusa sedutora…
Prefiro a solidão serena e boa!
- Mediocridade, estou com a minoria;
passa… que a minoria te perdoa.
(…)
Daí que me seja muito grato encontrar algum oásis de poesia actual ao atravessar o seu inumerável deserto. É algo raro. Vale a pena considerar o livro “Outonalidades”. É seu autor José Amaral. O livro é linda edição da portuense “Papiro Editora”, de Junho de 2006. Não conheço o autor e tanto melhor…
(…)
Finalmente, a notícia de haver dado à estampa dois livros de poesia, “Poder da Díctamo” é “Oráculo Luminar”. Não li os livros anteriores. Poderia não saber nada disto ou saber apenas que o destino o fizera nascer em Moçambique e o meu juízo não se alteraria circunscrito apenas a seu livro recente de “Outonalidades”. Os contactos privam liberdade. O ter nascido em Moçambique deu ao autor, por infusão, a frugalidade do orientalismo… franciscano que São Francisco é mais indiano do que italiano, a princípio duro e ricaço, depois um arrependido…
(…)
José Amaral, homem nascido no berço oriental de Moçambique e onde africanos e indianos tanto se abraçam no respeito às coisas mínimas da natura e nada desprezam, é irmão franciscano no puro amor total e absorvente (o que não aprendeu nos cursos de Vizeu) a abelhas, borboletas, ovelhas, pombas, formigas, cachorros rafeiros, coelhos, pavões, corvos, patos; malmequeres, crisântemos, ervas dos campos, urgueiras, flores de laranjeira, alecrim, tojos, jasmim, giestas, rosas espigas de trigo, o cair das folhas, as amendoeiras, tílias, jacarandás, diospiros, mimosos, amoreiras, carvalhos, plátanos. Ele está sempre cercado de coisas naturais… Estes poemas seus respiram terra, terra que faz parir sementes, terra que por vezes parece morta e sem futuro de gravidez, e por eles percorrem mil cores e odores. Os poemas nunca dizem uma só coisa, mas duas ou três acopladas como pólipos naturais.Mas este singular e vero poeta – um escândalo face à penúria das vastas maiorias (as tais das farpas ajustadas de Amadeu Torres/Castro Gil) – não pinta os objectos da natura referidos como coisas fora de si. Ele segue os passos de outro genial panteísta espiritualista, tão de índole franciscana, o italiano Giacomo Leopardi (1798-1837), os passos não no pessimismo mas os passos no proceder como poeta (o Leopardi que teve igual dimensão para Teixeira de Pascoaes). A lectio de Leopardi vem no seu “Zibaldone”, pensamento 4358; “É falsíssima a ideia de considerar e definir a poesia como uma arte imitativa, tratá-la como uma pintura, etc. O poeta imagina: a imaginação vê o mundo como não é, constrói um mundo que não é, finge, inventa, não imita (repito) de propósito. Ele é um criador, um inventor, mas não um imitador. É este o carácter essencial do poeta”. E José Amaral não é imitador nem pintor…
(…)
E assim com o demais, num processo equivalente ao amor que é amor, a atmosfera de toda a poesia contida em “Outonalidades”. Para exemplo fica aqui o poema:

Cheiros

gosto do cheiro
da flor de laranjeira,
do alecrim
e do jasmim.
Faz-me imaginar
o odor do Paraíso.
Quando me perco
nesses cheiros
sonho imagens
calmas de serenidade
e imagino
como seria o mundo
se todos,
de olhos fechados,
seguíssemos o odor
da felicidade,
da paz,…
do amor.

Este poeta José Amaral tem muitíssimo de oriental. Lembra-me muito o suave, terno e quasi místico Rabindranath Tagore (Calcutá, 1861 – Bengala, 1941), Nobel de Literatura de 1913, um poeta que li nas traduções perfeitas da mulher de Juan Ramón Jiménez, a Camprubi. O imaculado é a característica comum. Não há temas nobres e selectivos para a criação poética. Tudo quando cabe no planeta, cabe na criação do que sensibilizado e fulminado foi e pode parecer extravagante. Isto ocorre com José Amaral, poeta que enfiou formigas, folhas caídas e tílias nos seus poemas e sabe que tudo é importante no mundo (não importante, claro, os tais poetas que se julgam importantes…) O José Amaral é um panteísta espiritualista a dar prova neste volume que o amor de S. Francisco de Assis não morreu e continuam a ser válidas as questões morais que o Decálogo de Moisés olvidou de todo (a relação com a própria natura e não só de homem para homem e de homem para Deus). Vale bem a pena amar o que nos cerca e a imaginação fertiliza com a pureza desse outro continente, o da impessoalidade (o da morte ao eu egoístico). O livro de José Amaral não tem qualquer prurido pedagógico. E todavia, é super-pedagógico pela delicadeza e firmeza em tudo. Ele não é um poeta. É mais. É um mensageiro da Paz como o foi Tagore… A poesia, o seu areópago. Louvo o destino que o fez nascer em Moçambique se por cá nascido, estaria decapitado à nascença. E Moçambique perdeu um poeta de raiz. Parabéns à Papiro Editora, do Porto, e a um poeta que tão bem respeitou graficamente! Nem tudo é deserto entre a selva selvaggia das falácias…

(José Amaral)

12 comentários:

CMatos disse...

Muitos parabéns Joaquim.
Acabei agora de ler o artigo completo do 1º de Janeiro, e é um elogio e peras.
Diria mais, é um elogio de encher o ego... continua!

Amaral disse...

Obrigado
sem dúvidas que é de encher o ego, mas não quero que seja mais do que isso. Sei que o caminho é longo e a fama efémera. Obrigado pelo incentivo e pelo apoio.

Luís Miguel da Silva Pinho disse...

O elogio é mais que merecido, Amaral. Não deixes esgotar essa fonte!

Amaral disse...

Mig
tudo farei para que a fonte não esgote e para que a colheita melhore. Obrigado

Anónimo disse...

Muitos Parabéns.
Continua a trabalhar para nos presenteares com os teus livros originalmente fantásticos e primaveris...

Até breve:)

Amaral disse...

Caro(a)? sagapo
tudo farei para levar a poesia o mais longe possível. Obrigado por achares os meus livros originalmente fantástico.

Anónimo disse...

Quando as palavras nasçem com toda essa força telúrica, não admira que isto suceda...parabéns!

Carlos disse...

Já lemos e já divulgámos:
http://revista-escolar.blogspot.com/

parabéns

Amaral disse...

Obrigado
ao anónimo e ao Carlos (neste caso pela divulgação no blog da vossa escola).

Anónimo disse...

Um comentário assim... e de quem é... vem confirmar aquilo que eu penso do meu colega/amigo/compadre: determinado, ambicioso, profissional!!!
Parabéns mais uma vez!

Amaral disse...

Muito obrigado cac (não confundir=colega/amiga/comadre).

Anónimo disse...

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