sexta-feira, 27 de outubro de 2006

TLEBS

Acabo de ler na revista “Visão” (N.º 712, 26Out-01Nov) um ensaio, muito interessante, de Maria Alzira Seixas (MAS) sobre a nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS).

Coincidência ou não as iniciais da autora do texto formam a palavra MAS (não vou classificá-la para não incorrer num erro tlebístico). Nisto de novas terminologias não há um mas… há muitos! A autora levanta algumas questões pertinentes. Gostaria de publicar todo o artigo, porém faço apenas a transcrição de algumas passagens que, suponho, serão elucidativas.
“Também ouvi (e importa ver a utilização concreta, porque é assim que se irá ensinar) que se quer que cada conceito corresponda a uma só manifestação gramatical, o que não condiz com designações multivocabulares abstrusas que a TLEBS aceita, presentes em actuais manuais (ex: o advérbio de modo «supostamente» classificado como «advérbio disjunto restritivo da verdade de asserção»; imaginem uma criança a decorar isto!); e, a ser tal possível (poucos conceitos têm valência única), é incoerente preferir «nome» a «substantivo», por ser muito mais amplo e romper a tradição filosófica milenar que funda a relação entre pensamento e linguagem, elevando-a acima do uso instrumental.
Em frases como «amanhã vou ao cinema», essa linguística diz ainda que «vou» não é presente mas futuro. (…)
E, sendo a TLEBS norma racionalizadora do ensino e não uma lei, admitamos que, se der azo a incorrecções, ninguém pode obrigar um professor a ensinar mal! Esta questão é do interesse público, não é uma minudência de especialistas: condiciona formas de lidar com a língua, incidindo em modelos de pensamento e, logo, da actuação em sociedade”.
A confusão é enorme, desde o calendário da implementação da TLEBS, até à formação dos professores (sim porque foram prometidas acções, mas não foram feitas), a ausência de gramáticas actualizadas, aos manuais pouco esclarecedores….
Outras questões se colocam, ainda: Na escola primária qual a terminologia seguida? E quando um professor de outra disciplina empregar a terminologia antiga, a que aprendeu e sempre utilizou?
Infelizmente quem decide parece que não sabe nada sobre leis básicas de construção. Será que quem legisla anda a dormir? Será que querem começar a casa pelo telhado? Esses senhores faziam um serviço de “utilidade pública” se não complicassem.
O governo criou o “simplex” para facilitar as coisas e anda meia dúzia de iluminados (haverá algum interesse no meio disto tudo?) a querer criar um “complicadex”.
Façam um favor – os iluminados – demitam-se.

José Amaral

4 comentários:

Anónimo disse...

Qualquer Língua,seja a nossa ou estrangeira é um organismo vivo,vai-se alterando ao longo do tempo,metamorfoseando, sempre condicionada por determinados contextos,uns mais naturais outros mais violentos, é a lei da natureza e também teremos que estar receptivos ás novas mudanças, claro, sempre com sentido crítico...não sejamos velhos do Restelo,o que é certo é que neste momento a passividade é notória, o sentido crítico é inexistente e os resistentes práticamente encontram-se amordaçados, é o país que temos!

Amaral disse...

Caro(a) Inconformist
estou de acordo contigo. Devemos acompanhar a evolução, mas desde que seja para simplificar e não para complicar.
Penso que devemos, também, criar primeior as bases (não existem) e só depois dar um passo seguro. Corremos o risco de chegar a um pântano de embrulhadas em que uns dizem uma coisa e outros dizem outra.

Anónimo disse...

Li hoje o artigo de M.A.S. Não é apenas interessante, é absolutamente notável! Sou psicólogo de formação, sou professor do ensino secundário de profissão. E a maneira como M.A.S. fala sobre a relação entre pensamento e linguagem, as dimensões que equaciona, as perspectivas que nos sugere, as opiniões pessoais manifestadas sem quaisquer laivos de juízos fundamentalistas... Sempre de espírito aberto e tolerante! E conclui, quase "como quem não quer a coisa", que "ninguém pode um professor a ensinar mal!". Que bem nos diz isso depois de ter alertado: "Passar de resultados (controversos) da investigação â aplicação directa no ensino é perigoso"!
É preciso que M.A.S. saiba que tem ouvintes dispostos a estarem ao lado dela. Por mim, fundamentalmente pela defesa desse dom precioso que é o pensamento diverso de cada um de nós, que a língua, ora alimenta, ora dá expressão comunicável e partilhável.

Amaral disse...

Caro Fernando
Fico contente por saber que também é daqueles que estão com um pé atrás no que à TLEBS respeita.
M.S.S. tem razão no que escreve e ela sabe-o, assim como são muitos outros que o sabem. Mas se me diz que ela tem ouvintes dispostos a estarem do lado dela, estou em crer que também tem inimigos e não serão poucos. Interesses instalados (quiçá em gabinetes ministeriais) talvez mandem mais...