sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Comentário Crítico 1

“Outonalidades”: Alguns aspectos

Texto de
Cláudio Feldman*

A Arte, como uma torrente vital, não detém-se ante as pedras de fórmulas estéticas imobilistas, e reflecte em seu caminho a verdade da beleza, inclusive em seus ângulos inesperados. A poesia de José Amaral, própria e intransferível, está crivada de inquietude, descida aos ab
ismos do sonho, da tristeza, da agonia, mas nela pulsa uma lírica esperança de que a alma humana deve prevalecer: há um “enublado futuro”, mas “a manhã clareia!” (Inocência, pág. 39); ou em “Pomba” (Pág. 60), esta ave branca, entre corvos, “aparenta guiar/aqueles mensageiros/da desgraça,/para um impoluto/paraíso.//.Seus poemas-paisagens, onde nunca falta um terno olhar para os animais e a flora, capturam, muito além do descritivo, a essência de situações inefáveis, como em “Órfão”, onde o Autor, de certo modo, funde-se a um carvalho “seco e despido de vida” (pág. 55). Mas José Amaral não é um poeta alheio aos pesares de seus semelhantes; quando é preciso, como em “Perda” (pág. 59), “Olhares” (pág. 54), “Negra” (pág. 50), “Grilhetas” (pág. 36) e “Fantasista” (pág. 32), ele sabe embora discretamente, apontar as carências sociais. A difícil simplicidade de seus poemas, onde há a remoção do entulho retórico e das pretensões bizantinas, satisfaz tanto a severidade crítica quanto o público leitor e isto é algo desejável em qualquer obra de arte. Enfim, degustar pouco a pouco os poemas de “Outonalidades” (Papiro Editora, 2006, Porto, Portugal), não é, como no poema “Recordações” (pág. 62), passar “dias assim/simplesmente/...dias!”.
* Cláudio Feldman (professor aposentado de Língua & Literatura e autor de 42 livros; o mais recente é “Campos de Algodão”, haicais, Editora Taturana, Brasil).


in “Jornal do Centro” (ed. 243, 10 de Novembro de 2006)


Nos últimos tempos o meu livro “Outonalidades” foi notícia na imprensa escrita em Portugal. Primeiro no “Primeiro de Janeiro” e agora no “Jornal do Centro” (
http://www.jornaldocentro.pt/). Desta vez pela pena do poeta brasileiro Cláudio Feldman, de quem já fiz referência aqui no Ad Litteram. Ao “poetamigo” (como uma vez me chamou) e ao semanário viseense que publicou esta crítica ao meu livro o meu agradecido bem-haja.


(José Amaral)

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Amaral,este comentário é apenas mais uma prova da qualidade da tua escrita. Confesso que serei um leigo, no que a poesia concerne. Mas gostei de o ler. Naõ é um daqueles livros de poesia que massacram nas rimas, etc, etc. é sim, um livro de verdadeira poesia, vinda e sentida pelo escritor. Bem hajas José, tu mereces estes comentários pelo teu profissionalismo. Não digo isto por seres meu amigo, digo-o com sentimento verdadeiro. Um abraço e até breve.

Amaral disse...

Paulo
Até os amigos podem fazer comentários destes e aqueles que os entenderem de outra forma que carreguem esse peso. Não me fazes nenhum favor, aprecias o meu livro...
Agradeço as tuas palavras quanto ao livro e ao profissionalismo, é minha forma de estar procurar fazer sempre o melhor possível e quendo não sei ou não sou capaz tento de novo ou procuro ajuda.
Um abraço sincero de uma amigo

Anónimo disse...

Parabéns, José, pelo texto de Cláudio Feldman tecendo elogios, de todo meritórios, sobre a sua poesia. Sei bem como é gratificante para nós”obreiros incansáveis da palavra poética” saber que a nossa poesia agrada e chega até ao coração dos leitores. Também eu fiquei felicíssima com a sua carta e por saber que o meu livro lhe agradou tanto! Na realidade ambos bebemos a nossa inspiração nos espaços bucólicos e nos valores humanistas, daí haver tanta afinidade entre as nossas poesias e como afirma, alguns poemas de “Outonalidades” podem ser irmãos dos do meu “O canto das fragas”.Nada acontece por acaso!
Tomei a liberdade de transcrever para o site da livraria “Leitura”, no Porto, onde está divulgado o meu livro, alguns excertos da sua carta.( Espero que não se importe).
O meu bem haja pelas suas luminosas palavras! Aqui formulo a minha admiração pelo seu grandioso coração de poeta e de amigo.
Bom domingo!
Um abraço da amiga
Manuela Azevedo

Amaral disse...

Olá Manuela
o mérito a quem o merece e a amiga Manuela merece-o e está de parabéns. Quanto às suas palavras sobre este post o meu obrigado