segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Restaurante "A casa do Avô"

Arcas da Memória ”A casa do Avô” – ou como um tempo de memória cabe em Restaurante


Texto de Alberto Correia

A CASA DO AVÔ fica na Sarzeda, no concelho de Sernancelhe, além do rio Távora, lá onde o Malhadinhas passava algumas vezes para vender sal vindo de Aveiro, para comprar castanhas em seu tempo, peles de raposa, de texugo e de coelho que os caçadores tantas vezes apanhavam em tempo de defeso.
A Casa do Avô, que é agora um Restaurante, foi antigamente, ainda me lembro, casa farta de lavoura, pátio abonado de lenhas e lagar, carro de bois entrando e saindo, lojas fartas de gado e arcas de pão, cozinha onde o lume ardia todo o dia e ao serão, resguardo de sala e quartos de dormir onde se reservava a intimidade.
Lembro-me da casa de quando era menino. Era a última onde passava quando ia para a escola. Não havia, na aldeia, mais nenhuma igual a ela. Era alta, de três pisos, de granito, como as outras, nos dois, perto do chão. O terceiro tinha o jeito, parecia, de uma torre, e tinha, o que era para nós a estranheza, paredes de xisto, levantadas, às escamas.
Era ali que morava, no meu tempo de menino, o senhor Américo Ramalho, que a gente chamava do Soitelo, mais sua mulher, a senhora Conceição, mais a Regina que chegou a ser, na escola, a minha companheira de carteira.
Agora veio o Pedro, homem já feito, fez da casa que era do avô um Restaurante. Quis guardar, sabiamente, o jeito da morada antiga, o sítio da cozinha e a torre, no alto, com o xisto, às escamas. Quis guardar, o que é já raro, a memória do avô e chamou, agora, à sua casa, feita restaurante, A Casa do Avô.

in Jornal do Centro (ed. 243, 10 de Novembro de 2006)

Há uma semana mudei de escola (deixei Cinfães) e fui colocado em Sernancelhe. No primeiro dia na escola, à hora de almoço, fui com dois colegas (a Paula e o Sérgio) almoçar a este restaurante. Fiquei agradavelmente surpreendido pela forma como a casa foi recuperada e pelo espaço interior. Porém, o que interessa é o “repasto” e esse, posso garanti-lo, recomenda-se.

(José Amaral)

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