quarta-feira, 1 de novembro de 2006

R.I.P.

A morte é um tema que assusta o Homem. Há pessoas que, pura e simplesmente, se recusam a falar sobre o tema, considerando-o um tema tabu. Hoje, 1 de Novembro, celebra-se a festa do Dia de Todos-os-Santos (do latim Festum omnium sanctorum). Amanhã, 2 de Novembro, celebra-se o Dia dos Fiéis Defuntos (também conhecido por Dia dos Finados). Estas celebrações têm mais simbolismo no mundo católico-cristão. Nestes dias recordam-se os que já partiram deste mundo (“memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” – lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar). As pessoas nestes dois dias recordam os seus mortos de forma mais saudosa. Os cristãos rezam pelos seus mortos e também por aqueles por quem, habitualmente, ninguém reza. O tema da morte é fonte infindável de criações literárias. Também a nível poético o tema é fonte inspiradora. Aos que já partiram (“requiescat in pace”, “rest in peace” ou simplesmente R.I.P.) e aos que partiremos um dia:

Remember


Recorda-te de mim quando eu embora

For para o chão silente e desolado;

Quando não te tiver mais ao meu lado

E sombra vã chorar por quem me chora.


Quando não mais puderes, hora a hora,

Falar-me no futuro que hás sonhado,

Ah de mim te recorda e do passado

Delícia do presente por agora.


No entanto, se algum dia me olvidares

E depois te lembrares novamente,

Não chores: que se em meio aos meus pesares


Um resto houver de afecto que em mim viste,

- Melhor é me esqueceres, mas contente,

Que me lembrares e ficares triste.


(Christina Rossetti, tradução de Manuel Bandeira)


A Sepultura

Já tinhas pronta uma casa

inda estavas por nascer;

não é alta nem folgada,

mal te podes estender;

o tecto não se alevanta,

fica em cima do teu peito;

é à justa o comprimento

por tua medida feito;

as paredes são de terra

talhadinha com cautela;

não tem postigo nem porta

nem poderás sair dela;

chamas pelos teus amigos,

nenhum quedou a teu lado;

ninguém virá de mansinho

ver se dormes descansado:

pois só os vermes, aí

na pousada negra e fria,

não terão nojo de ti

e te farão companhia.


(Anónimo séc. XIII, tradução Luiz Cardim)


carrasco

Quem és tu,

carrasco maldito,

que escavas

sete palmos de terra

e que depois

os aconchegas

às tábuas

do meu caixão?


Dá-te prazer?

É-te difícil?


Não invejo a tua sorte,

contudo peço-te

um favor:

atira brandamente

a terra para cima

do meu esquife.


Obrigado!


(José Amaral, in “Oráculo Luminar”)

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