sábado, 25 de julho de 2009

Vale a pena ler

No seguimento da publicação de obras de colegas de escrita (do encontro de 25 de Abril de 2009) apresento desta vez um livro de António Sá Gué, Fantasmas de Uma Revolução (Papiro Editora, 172 páginas). Trata-se de uma obra interessante de leitura extremamente cuidada, e “bastante adjectivada” fazendo lembrar a escrita de Valter Hugo Mãe. O livro narra-nos uma história interessantíssima, vivida nos tempos conturbados da revolução. Aqui fica asinopse:
«Poucos terão sido aqueles que, em idade da razão, não tivessem vivido intensamente o período conturbado do PREC, cheio de contradições e acontecimentos marcantes. Nesse tempo, agora só de memórias, as palavras cortavam como facas e a canção era uma inquietante e irónica arma de revolta. Nessa época de liberdade e libertinagem, alegrias e tristezas, de excessos provavelmente frutos da longa noite de escuridão, concatenaram-se numa longa trama de avanços e recuos políticos, podendo muito bem ter culminado na instalação de uma ditadura do proletariado. Ninguém assistiu a tal realidade, ou melhor, só o personagem central do romance a vive. O Alberto Magro e a família, homem a entrar na casa dos “entas”, temente a Deus, ao Marcelo Caetano e aos valores que ele representa, e sem nunca perceber como, se vê injustamente envolvido em prováveis acontecimentos políticos desse tempo ficcionados ao longo de toda a trama. Nessa hipótese aqui aventada, o país muda tanto quanto a personagem central. O Alberto operário têxtil, pressente a mudança. Vai abrir a porta de casa ao seu irmão que regressa das ex-colónias, conotado com o anterior regime, e vai ver-se injustamente enclausurado em Custóias. Após a sua libertação, ao querer salvar o seu próprio irmão, também ele preso num distópico campo de aprendizagem, vai escavando um profundo “buraco” na terra e nele próprio. Forças que não dominam apoderam-se dele e consomem-no à medida que a revolução avança. Nessa lenta metamorfose mirrante, resultante das injustiças em que se vê envolvido e da descrença nos valores em que sempre acreditou, culminará num paradoxal e trágico acontecimento: o enterro no seu próprio buraco.
O país em paralelo, vai-se igualmente transformando, avermelhando, trancando-se sobre si próprio. A litoralização do país a que hoje se assiste não existe, o interior continua como sempre pobre mas povoado».
Este livro merece uma leitura cuidada. Estás de parabéns Sá Gué.

(José Amaral)

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