sábado, 12 de janeiro de 2008

Poema

A morte absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

(Manuel Bandeira)

"Aprende a viver e saberás morrer bem."
(Confúcio)

14 comentários:

Meg disse...

Não é fácil seguir Confúcio, meu caro... nós bem tentamos...
E adoro o Manuel Bandeira, não todos os dias, porque temos, eu pelo menos, de nos proteger com uma espécie de carapaça, para que poemas como este não nos soem lúgubres e soturnos.
E viva o poeta!

Um abraço e bom fim de semana.

Amaral disse...

Meg
Seguir Confúcio é facílimo e facilita-nos a vida ou pelo menos o encará-la de uma forma mais desprendida.
Manuel Bandeira é um poeta para ser lido e relido mesmo que todos os dias.
Bom fim-de-semana
Abraço

João Paulo Lopes Clemente disse...

Obrigado, J.Joaquim por mais um belo momento de poesia!
Um abraço
JPC

Amaral disse...

João Paulo
Sabes que a Poesia me agrada sobremaneira (assim como a ti) por vezes não temos tempo de nos dedicarmos à leitura de Poesia, assim sempre vamos lendo uns poemas.
Bom fim-de-semana
Abraço

Isabel Filipe disse...

Não conhecia este poema ...

achei-o soberbo.
obrigada pela partilha


bjs

Rui Caetano disse...

A morte é assim, e nas palavras do poeta maravilhoso que escreveu este poema ainda é mais intensa e toca-nos no fundo do nosso medo.

Amaral disse...

Isabel
A Poesia de Manuel Bandeira é toda ela sublime. E nem sempre foi uma poesia alegre. Houve um período na vida dele que a Poesia entristeceu-se.
Boa semana
Bjos

Amaral disse...

Rui Caetano
Antes de mais obrigado pela visita e volte sempre.
Toca-nos a morte, pois temos medo de morrer ou se quisermos medo de não viver.
Boa semana
Abraço

Al Cardoso disse...

Ai se desse-mos ouvidos ao "Confucio" outro galo cantaria!!!

Um abraco d'algodrense.

CMatos disse...

Faz uma visitinha ao recem criado blog do teu afilhado!
Ele vai ficar contente.
Desportos Radicais

Abraço

Amaral disse...

Al Cardoso
Pois é... Da Filosofia Oriental pouco conhecemos e por isso vemos as coisas de uma outra forma.
Boa semana
Abraço

Amaral disse...

Matos
Por acaso já lá fui, só não sabia que era do David. Irei juntá-lo aos meus amigos.
Boa semana
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Sem dúvida, um anseio que muitas vezes sentimos. Mas a realidade é que enquanto houver alguém que se recorde do nosso nome, para bem ou para mal, por admiração, por inveja, por amor ou por ódio, estamos vivos, ali na mente dessas pessoas. Quanto a nós, a carcaça ou apodrece como qualquer corpo orgânico ou é incinerada e transformada em pó. O espírito, esse, continua na memória dos outros até que eles se ausentem definitivamente.
Abraço

Amaral disse...

João
Mais palavras para quê depois do que escreveu...
Bom fim-de-semana
Abraço