sábado, 24 de fevereiro de 2007

Poeta 2

DE TARDE


Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois selos como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!


Cesário Verde


(José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855. Foi um poeta português. A sua poesia delicada emprega técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando da forma mais natural possível. Faleceu de tuberculose a 19 de Julho de 1886, no Lumiar).



(José Amaral)

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