segunda-feira, 25 de setembro de 2006

"Os Anões"


Quando em 2005 Harold Pinter foi premiado com o Prémio Nobel da Literatura, muitas vozes críticas se opuseram a esta escolha da Academia Sueca. Outras houve que acharam que o prémio vinha com o rótulo de “tardio”.

Harold Pinter, nascido em Londres a 10 de Outubro de 1930, é filho de judeus de origem portuguesa. É um dramaturgo inglês (para alguns o “irmão menor, inofensivo, de Beckett”) e um forte opositor às políticas belicistas. É um dos mais importantes renovadores do teatro do absurdo e as suas peças apresentam situações em que as personagens vêem, repentinamente, em perigo a segurança das suas vidas quotidianas.

O seu discurso de aceitação do Nobel foi, no mínimo, politicamente pouco correcto. Uma pedrada no charco. Nesse discurso (apresentado sob a forma de gravação de vídeo) Pinter combinou arte, crítica dura e ironia contra Blair e Bush. Chegou mesmo a oferecer-se para escrever os discursos de Bush.

Por todas estas razões fiquei com a curiosidade de ler o único romance de Harold Pinter, “Os Anões”. Apenas, agora, me foi possível fazê-lo.

O livro descreve as vidas e preocupações de quatro jovens londrinos na Inglaterra do pós-guerra. Através da sua amizade, Pinter explora o modo como as vidas comuns são moldadas pelas limitações e fronteiras da sexualidade e da moralidade, ao mesmo tempo que põe a nu as profundas verdades existentes em acontecimentos aparentemente correntes. Descobre-se o precipício sob a conversa fútil do dia-a-dia (dias) e força-se a entrada nas salas fechadas da opressão. Parece algo incerto, alucinatório, embora às vezes possa ser uma avalanche como o autor confessa.

“Os Anões” é um romance divertido (um sentido de humor peculiar, tipicamente inglês, apurado, mas não entendível por todos), vivo e perturbante.

Recomendo, vivamente, a leitura desta belíssima obra.

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