domingo, 17 de setembro de 2006

Não vou por aí...


Régio, José (1901-1969)

José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, (Vila do Conde, 17 de Setembro de 1901 — Vila do Conde, 22 de Dezembro de 1969) foi um escritor português, que viveu grande parte da sua vida na cidade de Portalegre (de 1928 a 1967).

Fundou em 1927 a revista Presença, que veio a marcar o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da contribuição para esta revista, ainda escreveu para vários jornais, como por exemplo o Diário de Notícias e o Comércio do Porto. Fez também frente ao Estado Novo, tendo sido membro do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e apoiado a candidatura do General Humberto Delgado. Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio. A sua obra é fortemente marcada por conflitos entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica da solidão e das relações humanas. Como ensaísta, dedicou-se ao estudo de Camões e Florbela Espanca, entre outros.

Fonte Wikipédia

José Régio é um dos meus poetas portugueses favoritos. Morreu no ano em que eu nasci. Coincidências! A sua poesia preenche-nos a vários níveis. Faz-nos pensar que, enquanto homens, nada somos; “somos pó e ao pó voltaremos”.

Como refere Eugénio Lisboa “A obra de Régio não nos deixa esperança. Não é uma obra optimista. Nada resolve. Mas enche-nos de uma estranha felicidade e mesmo alegria, pelo simples facto de ser uma grande obra”. Essa falta de esperança e de optimismo é uma constante na obra de Régio como podemos constatar neste seu poema:

Epitáfio para um poeta

As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.
Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Não vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?
Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!

Também para mim, Régio, serviu de fonte de inspiração para alguns poemas. Os poemas “poeta” e “ignorância” (publicados em “Oráculo Luminar”) são disso exemplo.

poeta

“Poeta sou! Cumpro meu fado, estranho

como o dum Santo ou louco

só posso dar de mais ou muito pouco,

que é tudo quanto tenho”

(José Régio)


A pena traz-me

à memória

a hagiografia escrita louca,

que dei ao mundo

cumprindo meu fado

dos loucos Santos

e eu, em perdidos prantos,

encontro no mais fundo

de mim

uma resposta breve

para dar,

de mais ou muito pouco

dando-me a conhecer

ao mundo

como um Santo

...louco!

ignorância


“Não sei para onde vou;

sei que não vou por aí!”

(José Régio)

Encontro-me na encruzilhada

desta vida maldita

- para minha desdita -

que se mostra enigmática

a ponto de sofrer,

sem saber

aquilo que vou ser

(ou simplesmente dizer).

Não sei que caminho seguir

e só a Ti,

Deus meu,

posso pedir

para me mostrares

o caminho

- o mais certinho -

a seguir,

e, assim, descansado

poder adormecer

e ...sorrir!

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