segunda-feira, 31 de março de 2008

Sugestão Literária

E, porque não há duas sem três, recomendo outro livro do escritor húngaro Sándor Márai. Depois de já ter sugerido, aqui no Ad Litteram, os romances A Mulher Certa e A Herança de Eszter, deste autor, sugiro desta feita As Velas ardem até ao fim. Mais um belíssimo romance que se lê com agrado redobrado.
Trata-se da história sobre a amizade de dois homens: Henrik e Konrad. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Esta espera de quarenta e um anos em nada, aparentemente, abalou esta amizade. Um (Konrad), passou muito tempo (“fugido”) no Extremo Oriente, o outro (Henrik) permaneceu na sua propriedade sempre perturbado por algumas questões. Ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular.
Passados quarenta e um anos depois de um jantar, como tantos outros (nessa altura na companhia, também, de Krisztina – mulher de Henrik), os dois velhos amigos sentam-se a conversar. É quase um monólogo, extenso, por parte de Henrik. Nas suas imensas questões, e no silêncio do seu amigo, vai encontrando as respostas que lhe tiravam a paz de espírito. Descobre que Konrad quis matá-lo, mas foi cobarde; que a mulher o traíra com o seu melhor amigo…
No entanto, isso para o presente nada interessa.
Um romance em tudo interessante, quanto perturbador. Uma reflexão, nua e crua, sobre a amizade, a paixão e o passado que não volta mais…

(José Amaral)

sábado, 29 de março de 2008

Mudança da Hora - HORA DE VERÃO

Esta madrugada os relógios adiantam uma hora!

Portugal vai entrar na Hora de Verão é por isso que esta noite, em todo o país, os relógios adiantam uma hora. Teremos, assim, menos uma hora de sono.
Desta forma, e para cumprir o início da hora de Verão, à 01h00 da madrugada de Domingo os relógios adiantam para as 02h00 em Portugal continental.
(Na Madeira o procedimento é igual ao do continente. Nos Açores, e de acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa, a hora muda às 00h00, devendo os relógios ser adiantados para a 01h00.
Esta mudança da hora deve-se a uma directiva comunitária que determina que os países da União Europeia devem entrar na Hora de Verão no último domingo de Março.

(José Amaral)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sugestão cinéfila

Hoje, numa incursão ao cinema fui ver (com o meu filho) o filme de animação: HORTON E O MUNDO DOS QUEM. É um filme muito bem conseguido com muita musicalidade, com desenhos animados de grande qualidade e com pormenores (visuais e a nível das falas) deliciosos.
Trata-se da história de um elefante com muita imaginação chamado Horton, que consegue ouvir um quase inaudível pedido de ajuda vindo de um grãozinho de pó que flutua pelo ar. Para Horton é certo que naquele grão de pó há vida e apesar da sua comunidade achar que ele perdeu o juízo, ele está determinado em salvar aquela pequena partícula.
Esse grãozinho é um planeta minúsculo, onde há uma cidade chamada "Quem Vila" habitada por seres de tamanho microscópico conhecidos por os "Quem".Os habitantes pedem ajuda ao elefante, que não os consegue ver, embora os consiga ouvir bastante bem, que os proteja do mal.
Embora ridicularizado e maltratado pelos outros animais da selva, por acreditar em algo que eles não conseguem ver nem ouvir, Horton assume essa função. Convicto que «uma pessoa é uma pessoa, independente do tamanho» Horton corre riscos, mas não deixa de acreditar.
No fundo, no fundo trata-se de acreditar nalguma coisa e lutar por ela. Aconselho vivamente este filme!

(José Amaral)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Leitura de Pasmar

Há catorze anos atrás li um livro do escritor espanhol Gonzalo Torrente Ballester que me deixou maravilhado. Depois vi o filme, inspirado nesse romance, que também estava muito bem conseguido. Agora, passados estes catorze anos apeteceu-me reler Crónica do Rei Pasmado (186 pág, “Narrativa Actual – RBA”).
É um divertido romance que foi um grande êxito em Espanha. Trata-se de um livro particularmente saboroso, hábil e irónico, narrado com a mestria e a sabedoria de um escritor como Ballester. Numa escrita fluente Ballester relata-nos uma história tão banal (talvez não para a época) como caricata.
O rei nunca tinha visto uma mulher nua, nem sequer a sua: a rainha. Ao ver pela primeira vez uma mulher nua (Marfisa) fica de tal maneira pasmado que lhe cresce o súbito desejo de querer ver nua também a rainha. Numa corte “controlada” uma intriga se tece, metendo nobres, inquisidores, uma afamada meretriz, um jesuíta português…
É partir deste pequeno (e hoje banal) acontecimento que se vai desenrolar a drama deste divertido romance. Não é tanto o problema da armada espanhola ser saqueada, mas é mais importante saber se deve ou não, o rei, ver a mulher nua. Uns dizem que sim, pois é sua mulher; outros que não, pois é contra as leis divina.


(José Amaral)

terça-feira, 25 de março de 2008

Dois Génios

Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn - Alemanha, a 16 de Dezembro de 1770 e faleceu em Viena, a 26 de Março de 1827. Este compositor erudito é considerado como um dos pilares da música ocidental.
Beethoven que era
canhoto, nunca teve estudos muito aprofundados, mas sempre revelou um talento excepcional para a música. Compôs as suas primeiras peças aos onze anos.
O infortúnio bate à porta de Beethoven e, por volta de seus 24 anos, sentiu os primeiros indícios de
surdez. Este problema levá-lo-ia a pensar no suicídio. Aos 46 anos estava praticamente surdo. Muitos anos a compor, entre problemas de saúde e familiares, chega a obra-prima de Beethoven: Sinfonia nº 9 em Ré menor Op.125 (“9ª Sinfonia” também conhecida por “Hino da Alegria”) que data de 1824.
Para se ver a popularidade deste compositor basta ver que, segundo se conta, cerca de dez mil pessoas compareceram ao seu funeral.



Walt Whitman nasceu em West Hills, Long Island, a
31 de Maio de 1819 e faleceu a 26 de Março de 1892. Walt Whitman foi um poeta norte-americano, descendente de ingleses e holandeses.
Em
1855 (Julho) publicou a primeira edição de "Leaves of Grass". A primeira edição desta obra – a mais importante da sua carreira - não mencionava o nome do autor, e continha apenas 12 poemas e um prefácio. A obra poética de Whitman centra-se nesta colectânea. Ao longo da sua vida o escritor dedicou-se a rever e completar aquela obra, que teve oito edições (a última datada de 1889) durante a vida do poeta.
Nos seus poemas, Walt Whitman elevou a condição do homem moderno, celebrando a natureza humana e a vida em geral em termos pouco convencionais. Os últimos anos de vida de Whitman foram marcados pela pobreza, atenuada apenas pela ajuda de amigos e admiradores americanos e europeus.
Walt Whitman ficou, ainda, mais conhecido mundialmente a partir das citações inseridas no enredo do filme
Clube dos Poetas Mortos. Quem não se lembra desse maravilhoso filme? Quem não se lembra do professor Keating (Robin Williams) a fazer referências a este poema de Whitman:


O CAPTAIN! MY CAPTAIN!

O Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up -- for you the flag is flung -- for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd wreaths -- for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his lips are pale and still,My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.


(José Amaral)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Leitura

Acabo de ler um pequeno livro (121 pág, editora Campo das Letras) de Miguel Real. O nome é tanto sugestivo quanto enigmático: A Morte de Portugal. Este livro requer uma leitura crítica, cuidada, ponderada e atenta. Uma leitura que nos faça pensar e repensar.
Na contracapa podemos ler: «Na linha de Eduardo Lourenço, este pequeno ensaio diligencia desenhar os quatro complexos culturais por que Portugal se foi concebendo a si próprio ao longo de 800 anos de História: ora um país gerado exemplarmente no mais remoto dos tempos e contra as mais difíceis circunstâncias (Viriato); ora um país que, durante e após os Descobrimentos, se vê a si próprio como nação superior às demais, sintetizada na majestática arquitectónica do Quinto Império de padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva; ora um país que, fracassado o sonho grandiloquente do Império, se lastima e se penitencia, considerando-se nação inferior, passível de máxima humilhação (Marquês de Pombal); ora, finalmente, país mesquinho, venenoso e bárbaro, permanentemente ansioso de purificação ortodoxa, no qual cada corrente política e intelectual tem sobrevivido da canibalização das correntes adversárias, negando-as e humilhando-as. Por efeito do ambiente educacional e social, cada português percorre na sua vida, recorrente e ciclicamente, estas quatro figurações da sua história e da sua cultura».
A Morte de Portugal não significa que desapareça enquanto espaço físico, mas talvez se constate a morte no sentido da perda de toda a originalidade portuguesa substituída (também se lê no livro) “pela vertigem estrangeira por uma «ditadura tecnocrática» instituída por «técnicos medíocres» para quem só conta «primeiro, a contabilidade das estatísticas, e, segundo, o sentido europeu das estatísticas»”. Portugal, como bom aluno, quer igualar-se aos ditames da Europa e não se importa, segundo a leitura do livro, de retirar curtos direitos ganhos pelas populações desde o 25 de Abril.

(José Amaral)

quinta-feira, 20 de março de 2008

BOA PÁSCOA!...


O AD LITTERAM deseja a todos os seus leitores uma Santa Páscoa!

(José Amaral)

Dia Mundial da Poesia

Com o objectivo primeiro de defesa da diversidade linguística, a UNESCO decidiu, em 1999, proclamar o dia 21 de Março Dia Mundial da Poesia.


poeta


“Poeta sou! Cumpro meu fado, estranho
como o dum Santo ou louco
só posso dar de mais ou muito pouco,
que é tudo quanto tenho”
(José Régio)



A pena traz-me
à memória
a hagiografia escrita louca,
que dei ao mundo
cumprindo meu fado
dos loucos Santos
e eu, em perdidos prantos,
encontro no mais fundo
de mim
uma resposta breve
para dar,
de mais ou muito pouco
dando-me a conhecer
ao mundo
como um Santo
...louco!





(in Oráculo Luminar, José Amaral)

Dia Mundial da Árvore

A 21 de Março comemora-se o Dia Mundial da Árvore. Parece que esta comemoração teve lugar, pela primeira vez, no Nebraska. O principal objectivo era plantar árvores para resolver a escassez de material lenhoso.
Em 1971 e na sequência de uma proposta da Confederação Europeia de Agricultores foi estabelecido este dia, com o objectivo de sensibilizar as populações para a importância da floresta na manutenção da vida na Terra.

Jacarandá

A Eugénio de Andrade
(MMV – VI – XVI)



Agora, na celeste atalaia,
à sombra azul
do teu jacarandá,
recitas os teus poemas
aos querubins.

Agora, que bebericas
o chá celestial
fica a música
que mais gostavas
de ouvir:
o correr da água!

Agora, o rio,
teu leito de morte,
corre para o mar
parecendo
ir à tua procura.

Agora,
desde a tua Póvoa
ao Parnaso da Atalaia,
e depois do derradeiro
mio do teu gato,
fez-se silêncio!


(in Outonalidades, José Amaral)

terça-feira, 18 de março de 2008

DIA DO PAI

O Dia do Pai teve origem, há mais de 4 mil anos, na antiga Babilónia. Um jovem chamado Elmesu moldou e esculpiu em argila o primeiro cartão. Desejava sorte, saúde e longa vida a seu pai. A tradição renovou-se, mais recentemente em 1909 nos EUA.
Em
Portugal comemora-se o Dia do Pai a 19 de Março, data em que se celebra também São José, o pai de Jesus.
José foi designado por Deus para se casar com
Maria, a mãe de Jesus, que era uma das consagradas do Templo de Jerusalém. Moravam em Nazaré, numa localidade da Galileia. Segundo a Bíblia, José era carpinteiro de profissão, ofício que teria ensinado seu filho.

Aqui presto homenagem ao meu e a todos os pais deste mundo.


PAI


No esplendoroso momento
do meu silencioso nascimento
vagidos de dor
esculpem-me em tua face,
meu progenitor

Em tuas nodosas mãos
acolheste-me, qual pepita dourada,
e com tuas lágrimas baptismais
minha natividade tornaste abençoada.

O meu primeiro choro/gemido
não passa de um imberbe ai
embora eu, convencido, o achasse
um indecifrável “père”, “father” ou PAI.

Teus olhos luzem comPAIxão!

Por isso, e só por isso,
fiquei logo com a sensação
que, olhando-me assim embevecido,
eu seria a tua grande PAIxão.



(in “Revista Escolar”, José Amaral)

sábado, 15 de março de 2008

Poema Labiríntico

certezas


Encaminho-me para uma casa
da qual não sei
em que rua fica
nem tampouco
o número da porta.
Sei que fica ali,
talvez além;
não será antes acolá?

Assim é!!!
Também a minha vida
se encaminha
não sei para
que direcção.
Só sei que segue
o rumo que escolhi
ou o destino por mim.

Este labirinto
traz-me perdido
de incertezas,
poisque
quando não temos certezas
a única certeza que temos
é que não temos...
certezas.


in Oráculo Luminar, José Amaral

quarta-feira, 12 de março de 2008

Giórgos Seféris nasceu em Esmirna, a 13 de Março de 1900 e faleceu em Atenas, a 20 de Setembro de 1971. Este escritor grego ganhou o Prémio Nobel de Literatura em 1963.
Confesso não conhecer o autor, nem a sua obra, mas numa pesquisa na Internet encontrei este poema da sua autoria e que muito me agradou.
Aqui o partilho:


Última Estação

Poucas foram as noites de luar de que gostei.
O a-bê-cê dos astros que se soletrata
como o traz o penar do dia que se fina,
dele se tirando novos sentidos e novas esperanças,
mais claramente pode ler-se.
Agora que aqui estou desocupado a meditar,
poucas luas me ficaram na memória;
as ilhas, a dorida cor da Virgem, o lento declinar
do luar nas cidades do norte, que por vezes lança
nas ruas agitadas, nos rios, nos membros dos homens,
um pesado torpor.
No entanto, ontem à noite, neste nosso último cais
onde aguardamos que amanheça a hora do regresso
como uma antiga dívida, uma moeda que ficasse durante anos
no cofre dum avarento, e por fim
chegasse o momento de pagar e se ouvissem
os cobres a tilintar na mesa,
nesta aldeia tirrena, por detrás do mar de Salerno
por detrás dos portos do regresso, no fim
duma borrasca de Outono, a Lua furou as nuvens
e as casas na encosta da outra margem fizeram-se esmalte.
Silêncios que a lua ama.

Giórgos Seferis,
(tradução Manuel Resende)
(José Amaral)

domingo, 9 de março de 2008

Não será, já, tempo?

O tema do momento é a problemática em torno da Educação. A Marcha da Indignação de ontem encheu as ruas com professores em protesto. Como sempre apareceram alguns “colas” para se promoverem. Como sempre a Ministra mostrou-se inflexível e imperturbável. Reconhece o descontentamento e diz que é necessário reganhar a confiança dos professores, mas não diz como espera fazê-lo. A Ministra apresenta alguns pressupostos, na sua linha orientadora, errados: nem todos os professores são sindicalizados, nem todos são ignorantes (mal informados como diz), nem todos têm filiação política, nem todos se contentam com manifestações e com barulhos…
Será que não está na altura de a Senhora Ministra parar para reflectir e para constatar que não é dona e senhora da verdade absoluta (nem tão pouco do ministério)? Parar para pensar que os professores também têm inteligência e vontade próprias e não precisam de andar a reboque? Não será altura de engolir o orgulho estúpido da política e dialogar, porque se cem mil protestam é porque algo está mal?
Não estará, também, na hora de mostrarmos o nosso descontentamento? A Sociedade assiste a tudo de braços cruzados?

Então eu pergunto: para que foi a Revolução dos Cravos?
A este propósito o “Jornal de Notícias” de hoje, 9Março08, na secção «O outro lado» traz um artigo de opinião (“A cultura é indomável) de Manuel Poppe que aqui partilho, pois vale a pena ser lido:
«1. Afirmaram-se, ontem os professores. Milhares. Não se manifestaram porque não têm nada que manifestar. Há mil gerações que ensinam as pessoas a serem pessoas. Afirmaram, ontem, a identidade - a vocação - contra o que este governo lhes tem retirado precisamente, a possibilidade de realizarem aquilo que os levou a serem professores: ensinarem. Humilhados, ofendidos, desacreditados, reagiram - felizmente, reagiram, que mestres covardes seria o fim da honestidade e o triunfo dos que nos convidam a aceitar a vigarice dos dias, em que o especulador vive sobre a miséria do próximo. Ao invés do que disseram os instalados e ambíguos, a reafirmação (revolta) dos professores não abre brechas, não os afasta dos alunos, nem os provoca: quem os ensina mostra aos alunos que não é pobre de pedir, "professoreco", agachado, hesitante, tíbio, com medo de perder o emprego. O professor é o amigo, que escolheu dar-se: entregar aos mais novos a experiência e o conhecimento. Transmitir-lhes a vida que viveu e quanto aprendeu com ela. E o que aprendeu, também, com eles, alunos, em sagrado convívio fraternal e solidário.
2. O espírito "corporativo" juntou os professores, dizem os ignorantes e os de má fé. Uniu-os o "corporativismo"?! É humor negro, comicidade revoltante. E não colhe os trabalhadores do mesmo ofício - como todos os trabalhadores - defendem a dignidade do seu ofício - e nenhum será mais nobre do que o de ensinar. "Corporativismo", no sentido pejorativo, arranjismo em comum, será o dos instalados no dinheiro, ou o dos serviçais políticos. Que, no próximo sábado, um partido dito socialista organize uma (contra) manifestação é deplorável. É paradoxal. É triste. É contraditório. O socialismo defende a liberdade, a iniciativa própria, o diálogo - não o autoritarismo dogmático. Que irá defender o partido dito socialista, (logo por azar na cidade do Porto, que sempre lutou pela democracia)? A indiscutabilidade da política desastrosa? Ou vai justificar o caos em que mergulharam as escolas? Os dois milhões de pobres? Os cem mil portugueses que emigram, anualmente? As crianças entregues à rua?
3. Uma coisa esta política de governo sem nexo - ou com a lógica carnífice do neo-liberalismo- não trava a força da Cultura. A vontade de saber. Ontem, os nossos professores, contra ventos e marés (e investigações policiais), provaram-no. Emprestaram-nos a voz - a nós, também abandonados e explorados, a ver a vida andar todos os dias para trás, em país doente

(José Amaral)

sábado, 8 de março de 2008

Lembrança Póstuma

Ontem tive conhecimento do desaparecimento de alguém que me marcou, que muito me ensinou e que se tornou (ainda que apenas através de correspondência escrita) meu amigo. O Professor Doutor Joaquim de Montezuma de Carvalho (que fez um comentário muito elogioso ao meu livro "Outonalidades") deixou de privar connosco. Contudo, a sua presença e sabedoria permanecerão entre nós. Vivas, assim o espero. O Ad Litteram reproduz aqui a notícia publicada ontem no jornal "O Primeiro de Janeiro".
A esse grande vulto da culturalidade, a minha Justa Homenagem. Até já amigo...
«Um mensageiro da universalidade
Joaquim Montezuma de Carvalho faleceu ontem, às 6h40, no Hospital S. José, em Lisboa, vítima de doença prolongada. O corpo estará hoje em câmara ardente a partir das 16h00 na Capela Nossa Senhora dos Remédios, em Alfama, donde sairá amanhã às 9h30 para o Cemitério do Alto de São João, onde se realiza o funeral pelas 10h00.
Ana Sofia Rosado

O filho Joaquim Montezuma de Carvalho, também advogado, falou ao JANEIRO do legado do seu pai – “um homem das letras, um filósofo que abominava a política”. Nascido na freguesia de Almedina, em Coimbra, no dia 21 de Novembro de 1928, Joaquim Montezuma de Carvalho licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra. No final dos anos 50, o jovem advogado partiu para Angola. Começou por ajudante de conservador em Nova Lisboa, cidade onde fez carreira nas conservatórias. Chegou a conservador do registo civil e comercial de Lourenço Marques, onde casou com Maria Júlia Neto da Silva, acumulando funções na magistratura. O filho único recorda, desde tenra idade, o gosto do pai pela escrita, pelos escritores e pela literatura, que considerava universal e una. “Não era pessoa de perder tempo a ver televisão ou a ir ao cinema. Os seus temas de conversa à hora da refeição eram um regresso aos escritores”, recorda. Amigo do poeta Jorge Luis Borges, que conheceu na Argentina, do escritor colombiano Gabriel García Marquez e do autor mexicano Octavio Paz, ambos prémios Nobel da Literatura, e de Aquilino Ribeiro, o pensador Joaquim Montezuma de Carvalho gostava de se isolar no meio dos livros, queria ter o essencial e era um homem de gostos muito simples: “O meu pai não se interessava pelas questões monetárias, apesar de ser advogado como eu”. O filho adianta: “Quando ele era novo teve autismo e fechava-se na biblioteca do meu avô, o filósofo e historiador figueirense Joaquim de Carvalho”. De regresso a Portugal, em 1976, exerce advocacia em Lisboa e dá início a uma carreira de escritor e de divulgador da cultura portuguesa. Os seus escritos, que versam sobre literatura, filosofia e história figuram principalmente no estrangeiro.
Colaborador com aprofundados ensaios do «das Artes das Letras» de O Primeiro de Janeiro desde 1999, “todas as segundas-feiras, pedia-me para o tirar da Internet”, recorda. Joaquim Montezuma de Carvalho despertou o interesse do filho por diversos autores. “Eu gostava muito de Júlio Verne, de Camilo Castelo Branco, de Eça de Queirós e ele apresentava-me os grandes autores mundiais”, partilha, lembrando que trocavam frequentemente impressões sobre o que estava a escrever.
Autor de vasta obra no campo do ensaio, Joaquim Montezuma de Carvalho foi distinguido com a Medalha José Vasconcelos, no México, atribuída pela Frente de Afirmación Hispanista, com sede em Nova Iorque, pelo volume «O Panorama das literaturas das Américas». Por ser autor de uma vasta bibliografia consagrada às culturas portuguesa e hispânica, foi designado, em 1999, Cavaleiro da Ordem de S. Eugênio de Trebizonde - de Espanha.


“Defensor da Lusofonia”
A directora do jornal O Primeiro de Janeiro, Nassalete Miranda, recorda que foi pela mão de José Augusto Seabra que Joaquim Montezuma de Carvalho se aliou ao suplemento literário «das Artes das Letras», desde a primeira hora: “Trouxe-nos semanalmente novos escritores e velhos escritores com palavras novas, de todo o mundo. Este é um exemplo de que a literatura não tem fronteiras”. “Defensor a tempo inteiro da Lusofonia”, acrescenta, “trouxe a este suplemento inúmeras vozes da América Latina, das mais conhecidas às que dão agora os primeiros passos, tanto na prosa como na poesia”.»


(in O Primeiro de Janeiro, edição online, 7MAR08)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Grandes Nomes

Cyrano de Bergerac nasceu em Paris, a 6 de Março de 1619 e faleceu em Sannois, a 28 de Julho de 1655. Contemporâneo de Boileau e Molière, este escritor, poeta e livre-pensador, assinava as suas obras com pseudónimos criativos escolhidos aleatoriamente.

Gabriel García Marquez nasceu em Aracataca, a 6 de Março de 1928. Este escritor colombiano é um dos maiores nomes do panorama literário mundial. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1982. Da sua extensa obra destacam-se: Cem anos de solidão, Crónica de uma morte anunciada, Amor nos tempos do cólera e Memórias de minhas putas tristes.

Pearl S. Buck nasceu em Hillsboro (Virgínia Ocidental-EUA), a 26 de Junho de 1892 e faleceu em Danby (Vermont-EUA), a 6 de Março de 1973. Mestre em Literatura na Universidade de Cornell, escreveu em 1930 Vento Leste, que obteve grande reconhecimento da crítica. Recebeu o Prémio Pulitzer em 1932 e o Prémio Nobel de Literatura em 1938.

Vieira da Silva nasceu em Lisboa, a 13 de Junho de 1908 (dia de Santo António, padroeiro da cidade de Lisboa) e faleceu em Paris, a 6 de Março de 1992. Pintora portuguesa, naturalizou-se francesa em 1956.
Vieira da Silva foi autora de uma série de
ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra.

(José Amaral)

terça-feira, 4 de março de 2008

Poema


Mimosa


Na berma da estrada
manchas verdes e amarelas,
de um vivo amarelo,
avivam a paisagem.

O cheiro intenso
diz-nos serem
mimosas.

Enfeitam os montes
e revelam
quão pálida
é a vivência
das terras
que as acolhem.

Em breve,
o amarelo
dará lugar ao verde
e a palidez
dará lugar à…
esperança.



(in Outonalidades, José Amaral)