domingo, 9 de março de 2008

Não será, já, tempo?

O tema do momento é a problemática em torno da Educação. A Marcha da Indignação de ontem encheu as ruas com professores em protesto. Como sempre apareceram alguns “colas” para se promoverem. Como sempre a Ministra mostrou-se inflexível e imperturbável. Reconhece o descontentamento e diz que é necessário reganhar a confiança dos professores, mas não diz como espera fazê-lo. A Ministra apresenta alguns pressupostos, na sua linha orientadora, errados: nem todos os professores são sindicalizados, nem todos são ignorantes (mal informados como diz), nem todos têm filiação política, nem todos se contentam com manifestações e com barulhos…
Será que não está na altura de a Senhora Ministra parar para reflectir e para constatar que não é dona e senhora da verdade absoluta (nem tão pouco do ministério)? Parar para pensar que os professores também têm inteligência e vontade próprias e não precisam de andar a reboque? Não será altura de engolir o orgulho estúpido da política e dialogar, porque se cem mil protestam é porque algo está mal?
Não estará, também, na hora de mostrarmos o nosso descontentamento? A Sociedade assiste a tudo de braços cruzados?

Então eu pergunto: para que foi a Revolução dos Cravos?
A este propósito o “Jornal de Notícias” de hoje, 9Março08, na secção «O outro lado» traz um artigo de opinião (“A cultura é indomável) de Manuel Poppe que aqui partilho, pois vale a pena ser lido:
«1. Afirmaram-se, ontem os professores. Milhares. Não se manifestaram porque não têm nada que manifestar. Há mil gerações que ensinam as pessoas a serem pessoas. Afirmaram, ontem, a identidade - a vocação - contra o que este governo lhes tem retirado precisamente, a possibilidade de realizarem aquilo que os levou a serem professores: ensinarem. Humilhados, ofendidos, desacreditados, reagiram - felizmente, reagiram, que mestres covardes seria o fim da honestidade e o triunfo dos que nos convidam a aceitar a vigarice dos dias, em que o especulador vive sobre a miséria do próximo. Ao invés do que disseram os instalados e ambíguos, a reafirmação (revolta) dos professores não abre brechas, não os afasta dos alunos, nem os provoca: quem os ensina mostra aos alunos que não é pobre de pedir, "professoreco", agachado, hesitante, tíbio, com medo de perder o emprego. O professor é o amigo, que escolheu dar-se: entregar aos mais novos a experiência e o conhecimento. Transmitir-lhes a vida que viveu e quanto aprendeu com ela. E o que aprendeu, também, com eles, alunos, em sagrado convívio fraternal e solidário.
2. O espírito "corporativo" juntou os professores, dizem os ignorantes e os de má fé. Uniu-os o "corporativismo"?! É humor negro, comicidade revoltante. E não colhe os trabalhadores do mesmo ofício - como todos os trabalhadores - defendem a dignidade do seu ofício - e nenhum será mais nobre do que o de ensinar. "Corporativismo", no sentido pejorativo, arranjismo em comum, será o dos instalados no dinheiro, ou o dos serviçais políticos. Que, no próximo sábado, um partido dito socialista organize uma (contra) manifestação é deplorável. É paradoxal. É triste. É contraditório. O socialismo defende a liberdade, a iniciativa própria, o diálogo - não o autoritarismo dogmático. Que irá defender o partido dito socialista, (logo por azar na cidade do Porto, que sempre lutou pela democracia)? A indiscutabilidade da política desastrosa? Ou vai justificar o caos em que mergulharam as escolas? Os dois milhões de pobres? Os cem mil portugueses que emigram, anualmente? As crianças entregues à rua?
3. Uma coisa esta política de governo sem nexo - ou com a lógica carnífice do neo-liberalismo- não trava a força da Cultura. A vontade de saber. Ontem, os nossos professores, contra ventos e marés (e investigações policiais), provaram-no. Emprestaram-nos a voz - a nós, também abandonados e explorados, a ver a vida andar todos os dias para trás, em país doente

(José Amaral)

6 comentários:

vieira calado disse...

Já fui professor.
Mas conheço os problemas actuais porque a minha mulher ainda o é.
Se a ministra tivesse um pouco de vergonha e dignidade, demitia-se.
Um abraço

Amaral disse...

Vieira Calado
Eu nem pediaria a demissão da ministra, se bem que neste momento era o melhor. Só pedia que ela se dignasse dialogar com os professores, que não entrasse em conflito aberto com os professores tomando-os a todos como sindicalistas.
Abraço

Meg disse...

Caro amigo,

Está neste momento a decorrer uma reunião com o PM... vamos ver quais são as conclusões.
Não queria ser professora, hoje em dia, é só o que lhe digo.

Um abraço

Amaral disse...

Meg
Está evidente que tem que haver abertura ao diálogo e flexibilidade. Parece que estão a recuar. A mim não me interessa se recuam ou não, não me importa ser avaliado.
O que quero é que se façam as coisas como deve ser: com tempo e com justiça.
Abraço

Juno disse...

Fui professora durante toda a minha vida. Se é verdade que foi um emprego que me deu estabilidade económica para criar quatro filhos, também é verdade que foi sempre uma paixão. Vivi a paixão em todos os meus dias, recordo emocionada, principalmente aqueles alunos que nada tinham, segregados pela sociedade e que fiz sentirem-se gente. Não admito que apaguem o passado, nem que me digam que não há futuros nas nossas mãos.

Amaral disse...

Luísa
Penso que o seu exemplo é bem sugestivo. Talvez falte um grupo de ex-professores (professores aposentados) que façam a ponte (se é que o ministério quer que se faça).
Bom fim-de-semana