sábado, 26 de maio de 2007

Obra Prima

Acabei de reler (tinha-o lido pela primeira vez o ano transacto) o livro de Gonçalo M. Tavares, “Jerusalém”. É um livro interessantíssimo e que recomendo vivamente.
A forma como Gonçalo M. Tavares escreve, primeiro surpreende, mas depois torna-se familiar. Uma escrita melíflua. A exemplo da ideia de Fernando Pessoa, acerca de determinada bebida, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Esta obra, qual íman, prende-nos num fôlego de leitura e quase nos obriga a adiar tarefas hodiernas, para chegar ao final. Para descobrir qual o fim de Mylia e demais personagens desta sociedade em crise. Para reflectir sobre as coisas mundanas que nos escapam, por vezes, numa despreocupação desmedida. É preciso parar, nas linhas deste livro, para ler nas entrelinhas do mesmo e, para ler as linhas da vida.
O leitor é convocado para um tipo de humor ao bom estilo pastiche (não que Gonçalo M. Tavares queira imitar alguma obra, tem um estilo bem próprio), uma tentativa de desdramatizar o social. Um humor intelectual que provoca o riso ou a gargalhada certos.
Há tentativas em tornar os indivíduos alegres, não-tensos ou não-deprimidos. Talvez Hinnerk na sua relação com a prostituta seja o expoente mais visível. A prostituta suporta-o, talvez por caridade, mas para que ele não cometa nenhuma loucura. Porém, também ela começa a interiorizar as obsessões dele, talvez para aguentar a pressão da profissão.

Aqui fica uma breve sinopse:
"Num universo dominado pela loucura, entrecortado por reemergências subliminares de experiências de guerra, Jerusalém, a cidade e o lugar mítico, funcionam neste livro como metáfora para a construção de uma possível (e prometida) "terra dos homens" em que se debate o conhecimento do humano, se testa a pulsão ideológica e o determinismo comportamental. Numa técnica que se aproxima da teatral - através dos títulos dos capítulos que nomeiam as personagens que entram nos mesmos - o narrador vai construindo um discurso e entrecruzando cronologicamente os factos para a criação de um todo que, entre a ficção e o ensaio, encena o confronto do homem na interrogação sobre o Destino, o Acaso, o Absurdo. Actual e universal, num domínio claro das técnicas da narrativa, Jerusalém de Gonçalo M. Tavares, convida à reflexão e transporta para a ficção as bases de um ensaio."


(José Amaral)

4 comentários:

A. João Soares disse...

Uma apresentação atraente de um livro que se adivinha interessante.
Venho aqui agradecer a sua visita e o comentário que deixou no Do Mirante, esperando que apareça mais vezes.

Um abraço

Amaral disse...

João Soares
Obrigado e faço votos para que também apareça por aqui.
Eu tenho ido muitas vezes ao mirante.
Abraço

Isabel Filipe disse...

"...
É preciso parar, nas linhas deste livro, para ler nas entrelinhas do mesmo e, para ler as linhas da vida.
...
"

Um belo texto o teu ... mais uma vez consegues aguçar a minha curiosidade e fico com vontade de ler o livro ...
a continuar assim ... não sei o que me vai acontecer ... a bolsa não dá para tudo ...


bjs

Amaral disse...

Isabel
é esse o meu grande lamento. a bolsa não dá para tudo, mas vale a pena. este livro é maravilhoso.
Bjo