segunda-feira, 3 de julho de 2006

alterações

No futuro,

se o houver,

viveremos de alterações.

O Pólo Norte

encontrar-se-á a Sul

e este talvez desapareça.

O Verão será

antes da Primavera

e o Inverno

antes do Outono.

O Arco-íris

será a preto-e-branco.

O fim-de-semana

será a meio.

Os rios nascerão

nos estuários

e desaguarão

nas nascentes.

O Sol nascerá

a Oeste

e terá o seu ocaso

a Este.

Perderemos o Norte

e acharemos que o Sul

fica para o lado

da Estrela Polar.

Das pedreiras extrairemos

homens.

Colocaremos os submarinos

em cima de carris,

e debaixo da água do mar

foguetões;

iremos à lua de comboio,

andaremos de barco

nas auto-estradas

e o carro servirá

para fazer cruzeiros

no alto mar.

Os desertos

serão cultivados

e os campos de cultivo

desertificados.

As cidades tornar-se-ão

selvas,

as selvas aldeias

e as aldeias

cidades.

Os reis nascerão do povo

e os governos

serão eleitos

por braço no ar.

Os parlamentos

serão constituídos

por ignorantes,

as assembleias

reunir-se-ão

na rua e o povo,

aí sim,

decidirá em favor

e respeitará

os interesses gerais

de todos os cidadãos

do estado.

Tudo sofrerá alterações!

Nada ficará como dantes!

Apenas as crianças,

que continuarão

a ser o futuro do Futuro

[ esse Futuro

adiado “sine die” ]

e as flores

que continuarão

a ser belas,

coloridas e perfumadas.

in Oráculo Luminar, José Amaral

1 comentário:

Anónimo disse...

O efémero e a alteridade...são o ferro em brasa que nos tem marcado nos nossos tempos onde tudo flui vertiginosamente...mas há sempre uma semente que permaneçerá.. a descendência..as crianças e a natureza na plenitude da sua beleza..talvez na imagem duma pequena flor!Gostei do que li,é provocador ,questiona mas faz-nos apreciar o pouco que temos!