quinta-feira, 26 de abril de 2007

M S C


Salomé


Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...
 
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minha´alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...
 
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
 
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo... 
 
(
Lisboa 1913 - Novembro
Mário de Sá-Carneiro “Poemas Completos”)

(Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa, a 19 de Maio de 1890. Faleceu em Paris, a 26 de Abril de 1916. Poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do Modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.)


(José Amaral)


8 comentários:

Isabel Filipe disse...

Não conhecia este poema.
Gostei muito.

Bj

Amaral disse...

Isabel
ainda bem que gostou do poema. Faço sempre os possíveis para agradar aos leitores adlitterianos.
Bjo

Al Cardoso disse...

E lindo esse poema sim senhor!

Saudacoes d'Algodres.

Amaral disse...

Al Cardoso
O poema é mesmo belo. Obrigado por mais esta visita.
Bom fim-de-semana
Abraço

Anónimo disse...

Belo "jogo de xadrez" de palavras...
metamorfoses de tudo e de nada...
as palavras são sempre poderosas...

Amaral disse...

Inconformist
O seu comentário faz-me lembrar aquela máxima "tenho mais medo da pena do que da espada".
Bom fim-de-semana

Anónimo disse...

Não conheço a máxima,mas talvez consiga deduzir que o meu comentário não foi feliz

Amaral disse...

Inconformist
nada disso, bem pelo contrário o seu comentário foi perspicaz. As palavras são realmente poderosas são mais cortantes que a espada.
Bom fim-de-semana