terça-feira, 1 de agosto de 2006

Liberdade


liberdade

Passei por um rosmaninhal

e que bem que ele cheirava.

Cheirava a rosas

ou a corpos

acabados de lavar

em banhos perfumados.

Mas, o melhor cheiro

que de lá vinha

era o cheiro

a terra húmida

regada pelo orvalho

da manhã primaveril

de um qualquer

vinte e cinco de Abril.

Não, não cheirava a cravos

que esses,

houvera-os esgotado

a Revolução;

cheirava a rosmaninhos

lilases como o teu coração.

Esse teu coração

de pai austero

que vendo tão desgovernada

Liberdade

deixou de bater

e, ao anoitecer,

despigmentou-se

deixando-nos a todos

a sofrer.

Não quiseste

ficar atrás da Revolução

e criaste a tua própria

Liberdade.

Libertaste-te para a morte

renegando à vida.

Ali, naquele monte,

sepultura de teu corpo

inerte,

nasceu um rosmaninhal

que se mantém florido

tal e qual

como quando tu lá ias

colher rosmaninhos

para a fogueira

de S. João.

in Oráculo Luminar, José Amaral

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