Cancioneiro

Investigadora recupera cancioneiro português do século XVI

Uma investigadora espanhola recuperou um cancioneiro espiritual do poeta e escritor português Jorge de Montemaior, publicado pela última vez em 1558 e que caíra no esquecimento por ter sido proibido pela Inquisição.

María Dolores Esteva considera que a edição do «Segundo Cancioneiro Espiritual», publicada pela editora alemã Reichenberger, pretende «recuperar o papel de Montemaior como um autor significativo da Reforma religiosa».
Já em 1998 a mesma investigadora tinha «desenterrado» uma outra obra inédita de Montemaior, o «Diálogo Espiritual», que estava conservado na Biblioteca de Évora.
No «Segundo Cancioneiro», e segundo a investigadora barcelonesa, o escritor português usa uma obra devota que «não segue exactamente a Erasmo» mas que «se liga ideologicamente com ordens vinculadas à Reforma, como os franciscanos ou os dominicanos».
Do ponto de vista estilístico, Montemaior «incorpora todos os metros italianistas - endecassílabos - mas como bom poeta de cancioneiro, também segue a métrica espanhola tradicional - octossílabos».
«Ainda que longe da elegância estilística e poética da sua novela pastoral, este »Segundo Cancioneiro Espiritual«, como na sua primeira obra, traz luz à história do pensamento religioso nas letras da altura», defende a autora.
O escritor é, para esta especialista espanhola, «um pioneiro da Reforma », situando-se em linha com «autores laicos e detém um conhecimento profundo dos textos bíblicos».
A investigadora desmente especialistas que atribuem a Montemaior um carácter luterano ou iluminista, afirmando que o escrito «detém uma visão cristã mais moderna que a heterodoxia dominante, ao ponto de falar da moral aplicada à política».
Para chegar ao texto definitivo do «Segundo Cancioneiro Espiritual», a especialista contrastou todas as versões da obra, conservadas nas bibliotecas nacionais em Lisboa e Madrid e na de Coimbra.
Depois de mais de 20 anos investigação, Esteva reuniu já em dois volumes a totalidade da obra religiosa de Montemaior, pretendendo agora analisar em maior pormenor a ideologia política do escritor.


in Diário Digital / Lusa (edição online) 17AGO2006