sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Poema


LuZ

A rua deserta
apadrinhava uma escuridão,
que apenas era atenuada
pela cintilante luz
de uma vela, na janela,
daquele humilde casebre.

Rosita,
uma pobre viúva,
que trajava de preto,
carregado,
sentido,
intentava, assim,
afastar o medo dos filhos
e “distrair-lhes” a fome.

O toco de vela
tinha o pavio
já quase gasto.
A cera escorria
(como as lágrimas dos catraios)
pela parede enegrecida.

Não havia pão
naquela casa,
só fome... e...
uma luz.

Essa luz,
de uma vela amarela,
lembrava-me a mim
que passava naquela rua,
quão inumeráveis
são as casas
onde não há um naco de pão
para enganar a miséria.

Mas dizia-me que
naquela casa
a Esperança
assim como a Luz
(da vela amarela)
era a última a morrer.



(in “Poder da Díctamo”, José Amaral)

4 comentários:

Meg disse...

Meu caro Amigo

Gostei muito do poema... li e voltei a ler, porque foi tão difícil considerar que ali ainda há esperança...num toco de vela,
onde não há um naco de pão para enganar a miséria
Quantas casas como esta, quantas crianças, quanta pobreza
ainda hoje!
E a luz amarela, tal como a esperança pode acabar de um momento para o outro.

Um abraço



Ps:estou há 4 dias com a net aos soluços, e só com muita paciência consigo entrar na maior parte dos blogues. E nos comentários então é de perder a cabeça.
Até a Clix me resolver o problema vou andar meio à toa...não estranhe!

E vamos ver se consigo publicar agora...

Amaral disse...

Meg
Fico feliz por ter gostado do meu poema. Infelizmente nos dias que correm continua a haver muita pobreza. Em Portugal também.

Quanto às visitas esperemos que seja resolvido o problema com a sua Internet. Gosto de vê-la por cá.
Bom fim-de-semana
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Um belo poema que é um libelo à injustiça social e à má distribuição da riqueza nacional. Há muita gente a que vive muito abaixo do PIB per capita enquanto uns tantos vivem escandalosamente acima.
Aqui fica também um ponto para reflexão. A força de um símbolo, uma chama de vela, ténue e que pode apagar-se ao fim de pouco tempo mas que dá força à ESPERANÇA de momentos melhores. E, enquanto há vida, há esperança.
Abraço

Amaral disse...

João
Obrigado pelos elogios ao poema.
O ponto de reflexão que aqui nos deixa está cheio de "entrelinhas" assim queiramos debruçar-nos sobre ele.
boa semana
Abraço