domingo, 4 de novembro de 2007

"Poemalvorada"


AlvoreS

No alvor da aurora
abri os olhos, mas não acordei.
Sentia-me sorumbático,
perdido na imensidão
de um deserto de acalmia
de brisas suaves
de pensativos e expectantes
desejos incontidos
incontados
“in com tudos”.

Bateram, suavemente,
na madeira das minhas pálpebras
perguntando se morava,
naqueles “berlindes observantes”,
alguém.
Não, não morava lá ninguém.
Perdão!
Morava um... invisual.

O meu mundo,
sempre com a luz eléctrica cortada
(maldita companhia,
só pensa em impostos)
era negro;
de um negro lindo,
para mim,
um negro acetinado
que me protegia.

Agradeci aos Céus
o facto de ser invisual.
Não, não é masoquismo!!!

Assim não sou obrigado
a ver violência,
miséria,
ódio, ...nada.

Chamam-me cego,
alguns ceguinho,
eu sei.
Quero que saibais,
irmãos:
- «Vejo melhor, eu,
na minha cegueira,
que vós na vossa verborreia prepotente».



(in “Poder da Díctamo”, José Amaral)

9 comentários:

Unknown disse...

cumprimentos.

Há realidades neste mundo que custam a ver e acreditar nelas.
Este poema é uma forma ímpar de descrever muitas realidades, que por vezes custa a acreditar que ainda existam.

um abraço

Amaral disse...

João
Penso que faz uma leitura correcta do poema. Espero que tenha gostado.
Abraço

Meg disse...

Mas os con-tudos resumem aquilo que sinto também. Uma onda de incredulidade. Olhos abertos para quê, se com eles fechados a visão da realidade nos acompanha inexorávelmente, violenta e amarga.

Um abraço amigo

Meg disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isabel Filipe disse...

"
«Vejo melhor, eu,
na minha cegueira,
que vós na vossa verborreia prepotente».

fantástico ...



beijinhos

Amaral disse...

Meg
Tem toda a razão quando fala dessa perseguição malfadada, amarga e violenta, que nos aterroriza de olhos fechados.
Abraço

Amaral disse...

Isabel
Ainda bem que gostou.
Bjinho

A. João Soares disse...

Os olhos da alma, muitas vezes, vêm mais do que os «berlindes observantes». De olhos fechados, atentos às radiações cósmicas, mas alheios aos ruídos circunstanciais, podemos ver as realidades de forma mais profunda.
Invisual, mas não «ceguinho».
Um abraço

Amaral disse...

João
Muito bem, gostei do invisual, mas não "ceguinho".
Abraço