terça-feira, 27 de novembro de 2007

Foi há um ano...

Por ter estado ausente deixei passar a data do primeiro aniversário da morte de Mário Cesariny. Este pintor e poeta português nasceu em Lisboa, a 9 de Agosto de 1923 e faleceu igualmente na capital portuguesa, a 26 de Novembro de 2006. Considerado o principal representante do surrealismo português adopta uma atitude estética de constante experimentação nas suas obras.
Aqui fica um belíssimo poema da sua autoria retirado de “O Virgem Negra”

Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor! -
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

(José Amaral)

4 comentários:

Meg disse...

Homem insubmisso e ireverente, que dizia aquilo que entendia e até se atrevia a dizer o que supostamente não devia.
Políticamente incorrecto, é mais um que não morreu ... ele está aí, na nossa memória.

Um abraço

Amaral disse...

Meg
Muito bem observado.
Acho que o país precisa de mais homens como este.
Abraço

martapontes disse...

Olá Amaral!

Antes de mais, parabéns pelo teu blog! É uma fonte tão rica, que dá sede de cá vir beber!...

Quanto a este autor, confesso que não o conheço, mas reconheço neste poema algo simples e genial. É muito directo!

Quanto ao assunto transmitido...
muitas vezes o silêncio é mais revelador, mais sensato e harmonioso, verdadeiro e até mais necessário do que as próprias palavras... principalmente aquelas que não são filtradas!!...

...E a propósito disto, lembrei-me de te presentear com este excerto de mais um escritor inconformado dos nossos tempos:

No silêncio dos olhos

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?


José Saramago
Os Poemas Possíveis
Lisboa, Caminho, 1999

martapontes disse...

PS: ...Já para não dizer que o silêncio é a forma mais profunda do conhecimento e da cumplicidade!

Bjos!