segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"Malhadinhas"

Acabei de ler “O Malhadinhas”, de Aquilino Ribeiro, numa edição da Bertrand Editora, que contempla ainda “Mina de Diamantes” (a ler). Não o li, por Aquilino estar na moda (como já vi escrito por alguns opinion makers) e mesmo que o fizesse o problema era meu. Li-o, porque me apeteceu e para recordar esta belíssima história que já havia lido há muito tempo.
Trata-se da história de um almocreve, contada por ele mesmo, à volta da qual giram homens, mulheres, animais…
Aquilino relata-nos os usos e tradições dos habitantes da serra na região de Viseu (Beira Alta). O Malhadinhas, almocreve, estabelece as comunicações entre o interior (“onde Judas perdeu as botas”) e o litoral, o campo e a cidade, levando e trazendo produtos essenciais.
O AD LITTERAM deixa aqui uma passagem desta belíssima obra:

« - Porque reza tanto, tio Malhadas? – perguntou-me um dia destes, ao sair de casa, o Albino alfaiate, que é vizinho. – Dá com o juízo em droga…
E para judeu… - Vossorias conhecem-lhe o código civil? Artigo primeiro: Albino, trata de ti; artigo segundo: trata de ti, Albino; artigo terceiro: está revogada a legislação em contrário. – Pois para judeu, resposta de judeu:
- Rezo pelos teus pecados, pelos do próximo… Carrasco, trazes aí tanto menino sem pai!...
- Aí vem o tio Malhadinhas! E pelos seus pecados não reza? Dizem que você não foi boa bisca…
- Os meus de tão pouca monta eles são que já passaram ao rol do esquecimento. Que fiz eu, Albino? Arranhaduras. Mais fez S. Pedro, que cortou a orelha do capitão, e é um dos pilares da Igreja e chaveiro do céu.»

(José Amaral)

6 comentários:

Meg disse...

É desta escrita do Aqilino que eu gosto... da nossa língua.
E não entendo porque é que os nossos jovens não lêem Aquilino.

Um abraço

Al Cardoso disse...

-Pois para judeu, resposta de judeu:

Eu logo vi que o Albino alfaiate tinha que ser judeu!

Eu tambem tive um tio-avo, que tal como eu se chamava Albino e era alfaiate, dele herdei o nome devido ao facto do seu irmao meu; avo e padrinho, o querer homenagear quando recem falecido, eu nasci.

Bem haja por partilhar conosco este pedaco do "Malhadinhas".

Um abraco do Albino d'Algodres.

Amaral disse...

Meg
Não lêem porque não conhecem. Nos manuais escolares não há Aquilino. Nem ele, nem outros nomes que mereciam lá estar e o ME não os "obriga" a constar.
Abraço

Amaral disse...

Al Cardoso
Com o devido respeito, ALbino, este excerto foi à sorte. Partilho convosco, porque sei que lêem e que gostam.
Abraço

Isabel Filipe disse...

interessante o excerto que aqui colocas ... aguça o apetite para a leitura completa ...

e digo-o, repetindo-me: pena que não possamos comprar todos os livros que gostaríamos de ler...

bjs

Amaral disse...

Isabel
Vá lá, este livro até está muito barato. Acredite!
E a leitura vale mesmo a pena.
Bjo