quinta-feira, 5 de março de 2009

Selva

Desta feita regresso às sugestões literárias dos grandes clássicos da Literatura Portuguesa. Falo de um livro, de Ferreira de Castro, publicado em 1930: A Selva (Planeta DeAgostini, 249 páginas). Ferreira de Castro resgata as experiências vividas na Amazónia por Alberto, o herói deste romance. É um jovem monárquico que tinha saído de Portugal por ter participado na revolta de Monsanto. É um jovem que, pouco a pouco, transforma a sua visão do mundo, ao sofrer o embate da crueldade da vida, daquela vida que o espera no meio da selva.
No seringal, vigora a lei do mais forte, tanto no mundo vegetal como animal, inclusive entre os animais humanos. E é no mesmo seringal que a faceta animalesca do ser humano se manifesta nos impulsos mais bestiais, que vêm ao de cima e se sobrepõem à cultura, às normas sociais, à moral, à religião, à ética, à justiça. Na selva, só os seres mais fortes e mais aptos sobrevivem. Os capatazes Balbino e Caetano encarregam-se de “engajar” os trabalhadores agrícolas, que vivem em situação de extrema pobreza, nas regiões secas do Ceará. Estes empreendem uma viagem duríssima, muitos deles acabam, inclusive, por morrer no caminho. E os que chegam ao destino ficam endividados pelo resto da vida ao patrão que se oferece para custear as despesas da viagem e ao consumo de géneros na "venda" que o mesmo explora, junto ao seringal, praticando os preços correspondentes aos do mercado negro, ao vender as mercadorias por um valor cinco vezes superior àquele pelo qual as adquiriu.
Por outro lado, a ausência de elementos do sexo feminino dá azo ao eclodir, num lugar como este, dos mais bestiais impulsos nas bestas humanas. O ponto de viragem da história dá-se quando Alberto toma a cargo a gerência da loja. É nesta altura que o jovem se apercebe até que ponto a vida dos seringueiros está a ser vampirizada por Tristão.
Parece que somos levados através da Amazónia num qualquer episódio da National Geographic. Vale a pena ler/reler esta maravilhosa obra.

(José Amaral)

6 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Para mim, sempre e de sempre, "O" LIvro, "O" Escritor... amei este livro aos meus quatorze anos e uma vez por ano lei-o novamente bem como " Os Emigrantes"...
Abraço

Amaral disse...

Delfim
Sem dúvida um belíssimo livro, por tudo e mais alguma coisa: a escrita, as descrições, o suspense, o acumular do stress...
Bom fim-de-semana
Abraço

Isabel Filipe disse...

Parece ser bem interessante.
Vou tomar nota do teu conselho.

bjs
isabel

Amaral disse...

Isabel
É muito interessante mesmo, não percas.
Boa semana.
Bjo

João Paulo Lopes Clemente disse...

Obrigado, J. Joaquim por mais esta belíssima sugestão!
Tem uma óptima semana!
JPC

Amaral disse...

João Paulo
Mais um que não podes perder. Boa semana
Abraço