sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sabedoria Popular

António Aleixo, poeta popular português, nasceu em Vila Real de Santo António, a 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé, a 16 de Novembro de 1949. As suas quadras são de uma sabedoria profunda. Popular? Certamente, mas nem por isso de se deitar fora. Muito pelo contrário. Como dizia Gil Vicente “ridendo castigat mores”. Também as quadras aleixianas nos dizem verdades a rir.
Aqui ficam alguns exemplos:



P'ra mentira ser segura

e atingir profundidade,

tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

Entre leigos ou letrados,

fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados,
dizemos mais que falando.

Sei que umas quadras são conselhos
que vos dou de boa fé;
outras são finos espelhos
onde o leitor vê quem é.

Quando não tenhas à mão
outro livro mais distinto,
lê estes versos que são
filhos da mágoa que sinto.

Mentiu com habilidade,

fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz

Sei que pareço um ladrão...

mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.

Não sou esperto nem bruto,

nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Vemos gente bem vestida,

no aspecto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada.

Peço às altas competências

Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter.

Quando os Homens se convençam

Que à força nada se faz,
Serão f’lizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.

Julgando um dever cumprir,

Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!

(José Amaral)

1 comentário:

Anónimo disse...

gosto muito, parabéns :)