domingo, 10 de maio de 2009

Restolho


RestolhO



Era noite.
Noite de breu medonho.
Acometia a nossa pequeneza.
Caminhávamos, passos periclitantes,
através dos atalhos dos campos.

Atravessámos um restolho.
A lua, alta, começou a vislumbrar-se,
e, foi quando, ao largo,
ressaltou o restolho,
negro, ao luar.

O trigo fora já cortado;
naquele campo – que outrora
fora um mar dourado –
apenas, e só, algumas espigas caídas
deixadas ao abandono,
prenhes de sementes,
esperando que alguma pobre viúva
as viesse recolher em seu regaço,
ou quiçá,
algum animal as transportasse
para servirem
de lauto sustento
aos seus rebentos.

Ao largo do restolho,
do lado direito,
árvores – penso que choupos,
quais guardiões –
demasiado esguias e esbeltas,
estrategicamente posicionadas,
guardavam o seu tesouro.

Os campos cheiravam
a rosmaninhos;
os grilos entoavam
uma melodia monocórdica
que se “espraiava”
ao longo do restolho.

De repente,
um pio, horripilante,
de um mocho
acordou a noite.
Fez-nos avivar o passo
e atravessar, quasi a correr...
...o restolho.


(José Amaral, in "Poder da Díctamo")

10 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Definitivamente, fizeste-me lembrar Cesário Verde, mas nem te sei explicar bem porquê!
Achei o poema uma doçura....
Abraço

Amaral disse...

Delfim
Bem ele, como eu, também se chamava José Joaquim.
Ainda bem que gostaste.
Abraço

Morgado disse...

Pois, a mim fez-me lembrar outra coisa, Os trabalhos no campo nas férias do verão nos anos 80. Tempos em que estudavamos em Fornos, lembras-te?
Uma delícia este poema!
Um abraço

Amaral disse...

Morgado
Claro que me lembro desses tempos. Obrigado pelo elogio ao poema.
Abraço

Meg disse...

Amigo Amaral,

Belo poema, testemunho de memórias doces, em palavras sentidas, digo eu!
Adorei, meu amigo.

Um abraço

Amaral disse...

Meg
Fico contente por ter sido capaz de lhe agradar. Obrigado.
Abraço

GeoBlog disse...

Um poema muito bonito do teu livro "Poder da Díctamo" que adquiri em Maio de 2003, na feira do livro, em Resende...
Contém a seguinte dedicatória: "à simpática colega Adelaide com estima e consideração do autor..."
Foram simpáticas palavras!
Bjos

Amaral disse...

Adelaide
Foram simpáticas? Diria, antes, merecidas.
Bom fim-de-semana
Bjo

Deusa Odoyá disse...

Meu amigo poeta.
Que poema lindo...
Pelo que lí em seus comentários esse poema está no livro que escrevestes.
Aonde poderei encontrar aqui no Brasil?
Beijinhos doces, meu querido amigo.
Fique na paz.
Uma semana de muita força, e fé.
Regina Coeli.

Amaral disse...

Regina
Para pena minha no Brasil o livro não foi editado.
Boa semana
Bjo