quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Dez réis de esperança


Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

(António Gedeão)

3 comentários:

CMatos disse...

Se não fosse a vontade... o que nos moveria?

Belo poema

Amaral disse...

Matos
É verdade... aliás, como diz este poeta... "o sonho é uma constante da vida".
Bom fim-de-semana
Abraço

Deusa Odoyá disse...

Olá amigo Amaral!.
Se não fossem os sonhos, que seria da tal realidade?
Os sonhos, são a combustão de uma vida.
O complemente de nossa alma.
Beijos e uma semana:
Recheada de muita paz, amor e luzes.
Beijinhos da sua amiga do lado de cá.

Regina Coeli.