quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Deserto delicioso

Numa incursão, nestas férias, por uma livraria deparei-me, e em boa hora, com um expositor dedicado a Dino Buzzati. A escolha era variada, mas num primeiro momento chamou-me a atenção o livro O Deserto dos Tártaros (Cavalo de Ferro, 254 páginas). Refira-se que a obra de Dino Buzzati venceu entre outros os prémios Strega e Napoli.
Esta é uma daquelas obras aclamadas pela crítica e que lemos com agrado. Por vezes o relato parece cair numa monotonia, mas mesmo assim em momento nenhum pensamos em deixar a obra de lado. Bem pelo contrário, apetece-nos descobrir o que se seguirá.
A história ganha vida num deserto. Estamos na presença de Giovanni Drogo, recém-nomeado oficial. Destacado para a fortaleza Bastiani, Drogo aproxima-se com a sensação de que está prestes a casar-se com uma total solidão. Drogo deixa tudo para trás: a família, os prazeres da cidade, as mulheres… Drogo escolhe viver longe de tudo, embora, chegado à fortaleza quer “fugir de lá”. A fortaleza, enorme, amarela, situada nos limites do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros, acolhe-o na sua misteriosa imponência. Os anos vão passando e Drogo vai-se habituando àquele viver monótono, com um único pensamento: o dia em que o inimigo virá para atacar a fortaleza. Muitas vezes é com essa sensação que fica quem vive na fortaleza, pois são sombras e objectos fantasmagóricos que assaltam o dia-a-dia de quem ali vive. É neste pressuposto que Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a hipótese de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha. O tempo passa, os anos passam e a esperança de Drogo também passa. Drogo termina a sua existência humana e nós, leitores, sentimos um vazio, uma certa desilusão porque acabou aquela narrativa que nos fazia, por momentos, viver com Drogo na fortaleza Bastiani.

(José Amaral)

6 comentários:

Deusa Odoyá disse...

Olá meu querido e estimado amigo.

Estás sumido, tirou férias?.
Olha não conhecia esse livro, não sei se no Brasil existe, mas vou procurar ver se tem , e se tiver o lerei.
Adoro ler, mas leituras boas de tempos antigos.
Principalmente falando sobre a Grécia e Egito beijos amigo, e apareça em meu cantinho, tenho poesia nova.

fique na doce paz dessa musica.

Sua amiga que te adimira muito.
Regina Coeli.

Amaral disse...

Regina
Realmente estive de férias. Quando retomar o ritmo normal passarei no seu cantinho para ler a sua poesia que tanto gosto.
Bjinho

Paulo disse...

"O tempo passa, os anos passam e a esperança de Drogo também passa. Drogo termina a sua existência humana e nós, leitores, sentimos um vazio, uma certa desilusão porque acabou aquela narrativa que nos fazia, por momentos, viver com Drogo na fortaleza Bastiani."

Há obras assim. Obras que nos catapultam para lugares distantes. Obras que, de tal modo nos absorvem que, é, por vezes, difícil readaptarmo-nos à realidade do quotidiano real.


Havia muito tempo que não fazia uma visita a este espaço. Hei-de, porém, voltar.
Abraço
Paulo

Isabel Filipe disse...

Tomei nota da tua sugestão ...

então essas férias? já acabaram? ...

espero que tenham sido óptimas e repousantes.


beijinhos e boa semana

Amaral disse...

Paulo
Volte sempre que quiser, pois será sempre bem-vindo.
Realmente há obras assim... que valem a pena.
Abraço

Amaral disse...

Isabel
Pois é as férias já acabaram e forma boas, obrigado.
Este é um daqueles que é obrigatório ler.
Bjo