quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Última sugestão de leitura 2007

Quase, quase a terminar este ano não poderia deixar “cair o pano” sem deixar aqui uma última sugestão de leitura. Desta feita trata-se de uma obra de Sándor Márai: A mulher certa (edições Dom Quixote, 424 páginas).
Uma obra sedutora e que nos prende da primeira à última letra. Uma escrita densa, bem cinzelada e esculpida a golpes de genialidade. O livro divide-se em três partes mais o epílogo.
Em Budapeste uma mulher (Marika), numa qualquer trivial conversa entre amigas, relata como um certo dia descobriu que o seu marido tinha uma paixão secreta. Desde essa altura ele não era o mesmo e ela, em vão, tentou conquistá-lo. Nessa mesma noite o homem (Péter) que foi seu marido em conversa, em jeito de confissão, diz a um amigo como deixou a mulher pela mulher (Judit) que desejava há anos. Contudo, depois de se casar com ela perdeu-a para sempre. Antes da consumação da separação este casal ainda teve de sofrer a dor da perda do filho de ambos. Este facto talvez os tenha separado para sempre.
Em Roma, numa pequena pensão, uma mulher conta ao seu amante como ela (empregada de servir em casa de uma família rica) se casou com o filho dos patrões. Este casamento acabou por ser uma forma de ressentimento e vingança.
A história destas três personagens cruza-se numa história repleta de amor, amizade, ciúme, solidão e morte.

O Ad Litteram deixa aqui um pequeno excerto para abrir o apetite:
«Disse o nome. Soou-me tão familiar! Havia nele algo de sacrificial, algo de festivo. E também o nome de baptismo, Judit, era um nome bíblico. Como se essa rapariga emergisse do passado, de um mundo de bíblica simplicidade e intensidade, de outra vida, eterna e verdadeira. Como se não viesse da sua aldeia, mas de uma dimensão mais profunda da existência. Não me preocupei em saber se o que eu fazia era justo; aproximei-me da porta e acendi a luz, para a ver melhor. Nem este meu gesto súbito a surpreendeu. Solícita e docilmente – mas não como criada, antes com um movimento de uma mulher que, sem palavras, obedece à única pessoa com direito a dar-lhe ordens -, virou-se de lado, voltando o rosto para a luz, para eu a ver melhor. Como quem diz: “Por favor, observe-me bem. Sou assim. Sei que sou linda. Observe-me com atenção, não tenha pressa. Este rosto vai recordá-lo para sempre, mesmo no leito de morte”. Ali estava, iluminada, serena e imóvel, com a pequena trouxa na mão, como um modelo face ao pintor, silenciosamente condescendente».


(José Amaral)

4 comentários:

A. João Soares disse...

E para encerrar o ano, apresentou mais um dos seus contributos para a nossa cultura. Fecha com chave de ouro.
Feliz Natal e as melhores entradas no 2008
Abraço de amizade
João

Amaral disse...

João
Por acaso é mesmo chave de ouro. Este livro é simplesmente fabuloso, uma maravilha, dá gosto lê-lo, vicia-nos e mostra-nos muito do que é o ser humano, em todos os seus aspectos.
Abraço

Isabel Filipe disse...

Amaral,

Não há limites para o homem que possui a capacidade de sonhar. É necessário muito pouco para provocar um sorriso e basta um sorriso para que tudo se torne possível.
Descobrimos que o Ano que termina vale a pena, quando começamos a enviar e receber os cartões de Natal. Afinal, de algum modo, aprendemos que o que realmente importa são os sentimentos, é o amor... É estarmos ligados, unidos. É isto que comemoramos: O nascimento da esperança de um mundo melhor. Muita paz, alegria e amor na tua vida e de todos que te são queridos. Feliz Natal! Feliz 2008.
Beijinhos
Isabel Filipe

Amaral disse...

Isabel
Está tudo dito, mais palavras para quê? Só se for para estragar o teu comentário. LOL
Bjo