segunda-feira, 26 de julho de 2010

com este calor...


onda



As ondas
esbranquiçadas de raiva,
babavam-se contra
as rochas inamovíveis.
Neste primeiro assalto
a calma atirou ao tapete
a raiva que,
sem hesitar,
foi buscar forças
aos quintos dos infernos
e lançou-se,
num gesto suicida,
contra a macieza áspera
das adamastoras rochas.

Neste processo de lapidação
contra as próprias rochas,
um ronco ondeante
fez tremer
uma “casca de noz”
que bailava perdida
na imensidão oceânica.

A leviandade do comandante
contrastava com a pragmática
decisão lusitana
de descobrir novas paragens.

Ali, naquele quadro luso,
uma vez mais o cabo
foi dobrado
e o Adamastor
se mostrou irado.
Agora sim, a calma
enfureceu-se e a ira
amansou.


(in "Oráculo Luminar", José Amaral)

terça-feira, 20 de julho de 2010

PAN 8

No encontro transfronteiriço de Morille (PAN 8), já aqui divulgado, pude privar com alguns colegas. O fotógrafo de qualidade elevada Belarmino Lopes (gentilmente ofertou-me os livros "Sentidos - Fotobiografia Serra da Maúnça" e "O Mistério do Poço do Caldeirão"), um homem "dos sete instrumentos" (homem do teatro, jornalismo, escrita...) Leandro Vale (também me ofertou gentilmente os livros "8 Dias nos 80 de Fidel" e "Sós em Miami") e a poetisa Catarina Crocker (que igualmente me ofertou o livro "Montras de Amor Partido").
Além disso, acompanharam-nos nas nossas tertúlias o Carlos d'Abreu, o Jose (um amigo espanhol) e a Amélia (mulher do Belarmino).
Este post é uma pequena homenagem à amizade que se gerou entre nós. Num escrito meu (em papel de guardanapo que ficou depositado no bolso do Leandro) ficou registado: «A amizade faz-se/ caminhando/ o caminho estreito. Até para o ano».
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Há distâncias
E distâncias...
E o que é a distância
Na amizade que liga
Aqueles que se encontram
Na distância da amizade.
São duas palavras
Distantes
Mas amigáveis
Numa linha que separa
Uma unidade irmã.
Ibéria.
É só uma.
A tal da jangada
Que Saramago nos conta.
E que bom
Sobrevivermos à deriva
Nesta distante jangada
De pedra dura
Mais dura
Do que aquilo que nos separa
No sonho que nos leva
Na fronteira transponível
De uma distância
Inexiste na amizade
O dia-a-dia mais improvável
De uma Europa una
Essa sim distante
Cada vez mais provável
Na amizade inexistente.
Companheiros
Sou eu que vos digo
A distância só existe
Na imaginação
Daqueles que sem amizade
Criam fronteiras
Irreais
Quando a realidade
Fica tão próxima
Na possibilidade concreta
De sermos
Desde sempre
Ao longo dos tempos
Dois povos irmãos.
(Poema da autoria de Leandro Vale)
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(Foto da autoria de Belarmino Lopes)

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Sem Abrigo

Levantem esse Homem!
Não, não é pesado…
Leve como um anjo, anda muito cansado.
É ele o mendigo da rua que todos vêem passar…
Afastam-se de quem em criança quiseram beijar.

Levantem esse Homem! Cheiros podres sem destino.
Dêem-lhe água e perfume, carícias de bebé esquecido,
agora cão maltratado.
Mágoas em álcool afundadas num percurso de culpas carregado.
Abrigo em esquinas calcetadas, obstáculo em ruas apinhadas…

Levantam-no por baixo: duas mãos e uma atenção.
Icem-no bem alto.
Encham-lhe o coração!

(Poema da autoria de Catarina Crocker)

(José Amaral)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Tudo o que eu tenho...

Mais uma sugestão literária para as férias. Trata-se de um livro do Prémio Nobel da Literatura 2009, Herta Müller. O livro é Tudo o que eu tenho trago comigo (Dom Quixote, 290 páginas). Não conhecia a escrita desta autora, mas surpreendeu-me pela positiva. Como livro de férias, quanto ao conteúdo não é muito “ligeiro”, mas compensa pela história, pela forma de escrever e de descrever pormenorizadamente as realidades. Vale por isso uma leitura, mesmo que em férias.
Para abrir o apetite aqui fica um breve resumo:
«Roménia no fim da guerra. A população alemã vive com medo. "Eram 3 da madrugada do dia 15 de Janeiro de 1945 quando a patrulha me foi buscar. O frio apertava, estavam -15º C". O jovem narrador começa assim o seu relato. Tem cinco anos diante de si, dos quais ainda nada sabe. Cinco anos, ao fim dos quais regressa um homem diferente. Herta Müller relata experiências que marcam os sobreviventes para toda a vida. Foi a partir de muitas conversas com Oskar Pastior, e outros sobreviventes do campo de trabalho, que a escritora reuniu o material que está na base deste grande romance. «Os livros de Herta Müller desencadeiam uma torrente poética que arrebata a mente do leitor», escreveu Andrea Köhler no jornal Neue Zürcher Zeitung, «a sua linguagem é talhada numa outra cepa, diferente da plantinha mimada que caracteriza largos sectores da literatura alemã contemporânea.» Através da história profundamente individual de um homem jovem, consegue narrar-nos, com a força de imagens inesquecíveis, um capítulo ainda quase desconhecido da história europeia».

(José Amaral)

sábado, 17 de julho de 2010

forever

Hoje foi dia de cinema na companhia do meu filho. O filme escolhido foi Shrek Forever After (Shrek – O Capítulo Final). O filme, em 3D, está muito bem conseguido, com efeitos especiais de grande nível.
Vale a pena ver!
Aqui fica a sinopse do filme:
«Shrek é agora um pai de família “domesticado”. Em vez de assustar aldeões, Shrek dá autógrafos. O que terá acontecido ao seu famoso rugido? Saudoso dos dias em que se sentia um Ogre de verdade, Shrek é levado a assinar um pacto com o eloquente e sorrateiro duende Rumplestiltskin e subitamente vê-se numa versão alternativa e deturpada do reino de Far, Far Away, onde Ogres são caçados, Rumplestiltskin é rei e ele e Fiona nunca sequer se conheceram. Agora Shrek precisa desfazer tudo o que fez se quiser salvar os amigos, restaurar o seu mundo e recuperar o seu amor».

(José Amaral)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

a leitura evapora-se

Já aqui publicitei algumas obras (“Kafka à Beira-mar”, “Em busca do Carneiro Selvagem” e “A Rapariga que inventou um sonho”), porque meritórias, de Haruki Murakami. Hoje volto a sugerir mais uma obra deste autor: O Elefante Evapora-se (Casa das Letras, 351 páginas). O livro lê-se facilmente, mas com muito agrado. São dezassete contos que nos prendem do princípio ao fim.
Aqui fica a Sinopse:
«Num sufocante dia de Verão, um advogado põe-se à procura do seu gato e dá de caras com uma estranha rapariga num jardim abandonado nas traseiras de casa. Mais adiante, as dores provocadas a meio da noite pela fome levam um jovem casal de recém-cadasos a fazer uma incursão nocturna e a assaltar um McDonald’s para conseguir deitar a mão a trinta hambúrgueres Big Mac, realizando assim um secreto desejo que já vinha dos tempos da adolescência. Um homem fica obcecado pela misteriosa e incrível saga de um elefante que se desvanece em fumo e desaparece da noite para o dia sem deixar rasto. Sem esquecer as confidências de uma mulher casada e jovem mãe com insónias que passa as noites em claro, a ler Tolstoi, e acorda para a vida num mundo indefinido de semiconsciência em que tudo se afigura possível - até mesmo a morte. Ao longo de dezassete pequenas histórias aparentemente banais, das muitas que povoam o nosso quotidiano, Haruki Murakami transporta o leitor à dimensão paralela de um imaginário delicioso e bizarro ao mesmo tempo, percorrendo um Japão que tem tanto de nostálgico como de moderno». Muitas vezes divertidos, sempre comoventes», os dezassete contos desta colectânea são prova da extraordinária capacidade narrativa de Haruki Murakami».
Uma sugestão literária bem saborosa para as férias. Vale a pena ler!

(José Amaral)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

eu vou lá estar


PAN 2010

POETAS PARTICIPANTES

Carlos d´Abreu
Borja Aguiló
José Amaral
Chus Arellano
Víctor Balcells
Nuria Benito Manjón
Carmen Camacho
Andrés Catalán
Ben Clark
Catarina Dionísio Crocker
Tiago Gomes
Antonio Gómez
Koji
Arturo Ledesma
José Luís Lima Garcia
LuisMi
Cristina Martín
João Mendes Rosa
Hugo Milhanas Machado
Ignacio Miranda
Américo Rodrigues
Rafael Saravia
Eduardo Scala
Javier Siedlecki
Victoria Siedlecki
Luis Somoza
Eugenio Tisselli
Leandro Vale
(José Amaral)