História Antiga
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Coimbra, 12/10/1937
4 comentários:
Grande "Torga" que em minha humilde opiniao, merecia melhor o "nobel" do que o Saramago, mas ele nunca deixou o seu pais, nem quiz a uniao iberica!
Al Cardoso
Merecia sim... quanto ao resto são politiquices.
Abraço
Um belo poema sem dúvida! Adequado à quadra natalícia.
Desde já, votos de um bom Natal e melhor 2011!
"Quinta do cochel"
Sem dúvida um excelente poema. Agradeço os votos e retribuo.
Bom Natal.
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