absintiar
Agora, só o absinto
- esse carrasco guilhotinesco -
é capaz de me expurgar da alma,
em jeito de estrupo,
os remorsos
que me consomem o corpo
e me dilaceram a alma.
Qual virgem violentada
sinto-me despido de mim
e, dia e noite, uma pérfida tentação
obriga-me a rever-me num louco
e faz-me tentar o suicídio.
Penso, no meio de dois copos
dessa execrável bebida,
na forma eufemística de o fazer:
? veneno ?
? afogamento ?
? forca ?
? pistola ?
Nem sequer ouso
pensar noutras hipóteses,
já que uma destas me é suficiente.
As soluções estão em cima da mesa
cabe-me, agora, corajosamente
escolher aquela que se orgulharia
de me ver estrebuchando por terra,
a boiar num poço,
dependurado de uma árvore
ou exangue.
Escolhi a pistola
e tentei a roleta-russa.
Primeira tentativa e... nada,
depois a segunda,
a terceira,
mais outra e ainda outra.
Nada, nem um só projéctil
conseguiu vencer-me.
Estaria eu sóbrio o suficiente
para a morte não ser capaz
de me olhar no fundo?
Num golo só, suicida,
esvaziei a garrafa absintiada.
Peguei na pistola e fiz girar
o tambor que continha
uma munição apenas.
Como um gambler
fiz rodar a pistola
no dedo indicador,
apontei-a à cabeça,
respirei fundo e...
click... disparei.
Nada!!!
A morte escondia-se atrás
daquela cobarde pistola,
deixando-me cego de raiva,
porque nem bêbedo
conseguia pôr termo à minha vida,
já que sóbrio era cobarde suficiente
para o fazer.
Agora, só o absinto
- esse carrasco guilhotinesco -
é capaz de me expurgar da alma,
em jeito de estrupo,
os remorsos
que me consomem o corpo
e me dilaceram a alma.
Qual virgem violentada
sinto-me despido de mim
e, dia e noite, uma pérfida tentação
obriga-me a rever-me num louco
e faz-me tentar o suicídio.
Penso, no meio de dois copos
dessa execrável bebida,
na forma eufemística de o fazer:
? veneno ?
? afogamento ?
? forca ?
? pistola ?
Nem sequer ouso
pensar noutras hipóteses,
já que uma destas me é suficiente.
As soluções estão em cima da mesa
cabe-me, agora, corajosamente
escolher aquela que se orgulharia
de me ver estrebuchando por terra,
a boiar num poço,
dependurado de uma árvore
ou exangue.
Escolhi a pistola
e tentei a roleta-russa.
Primeira tentativa e... nada,
depois a segunda,
a terceira,
mais outra e ainda outra.
Nada, nem um só projéctil
conseguiu vencer-me.
Estaria eu sóbrio o suficiente
para a morte não ser capaz
de me olhar no fundo?
Num golo só, suicida,
esvaziei a garrafa absintiada.
Peguei na pistola e fiz girar
o tambor que continha
uma munição apenas.
Como um gambler
fiz rodar a pistola
no dedo indicador,
apontei-a à cabeça,
respirei fundo e...
click... disparei.
Nada!!!
A morte escondia-se atrás
daquela cobarde pistola,
deixando-me cego de raiva,
porque nem bêbedo
conseguia pôr termo à minha vida,
já que sóbrio era cobarde suficiente
para o fazer.
(in "Oráculo Luminar", José Amaral)
4 comentários:
Um poema bonito, triste e realista!
Bem haja pela divulgacao.
Um abraco beirao d'Algodres.
Al Cardoso
Ainda bem que gostou. Bom fim-de-semana.
Abraço
esconde-se a morte à espera do tempo que a sorte traçou. vivamos pois antes que ela chegue
muito bom. adorei ler neste meu regresso aos desalinhos
beijo
Carla
Folgo em saber que está de regresso. Fico contente por ter apreciado.
Bjo
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