quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Cântico

Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins do mundo.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.

(José Régio)

5 comentários:

Meg disse...

Amaral,

Poema erótico... quem diria escrito há tanto tempo!
José Régio também aqui nos mostra um outro lado da sua poesia... quanto a mim.

Um abraço

Amaral disse...

Meg
José Régio é um excelente poeta, mas infelizmente é desconhecido da maioria dos portugueses.
Abraço

Delfim Peixoto disse...

Só podia ser de Régio!
Abraço

Amaral disse...

Delfim
É mesmo isso. Um poema régio.
Abraço

Rui Lopes disse...

É bom que todos aqueles que escrevam neste post, saibam, antes de comentar, que isto é proveniente de muitos anos atrás na literatura portuguesa. Isto é como uma transformação das cantigas de amor e amigo.