SobriedadE
A minha vagamunda vida
tornara-se num “sonhadelo”,
de noite sonho era,
de dia pesadelo.
Os meus dias,
ébrios,
passava-os a sorver um néctar
familiar a Baco.
Agora, este farrapo humano,
caía nos passeios,
dormia nos bancos do jardim,
vomitava entranhas pecaminosas.
A minha condição humana esvaíra-se!
A minha auto-estima ria-se,
descaradamente,
de mim e flagelava-me a cada passo.
Estava ali, eu!?
Outro dia
outra noite
outro copo
outra bebedeira
outro banco do jardim
outra vergonha
outro vómito.
Procurei levantar-me,
mas as raízes da fraqueza
cresciam-me nas ruas.
Aquelas pedras velhas e gastas
eram pedaços de mim.
Socorro!!!
Gritei tão surdamente
que ninguém me ouviu.
A multidão ria-se,
passava a meu lado,
desviava-se, meneando
negativamente
a cabeça.
Chorei!
Lágrimas salgadas,
fermentadas pelo vinho;
lágrimas odorantes,
com odor a vómito.
Tive vergonha!
Quis erguer-me.
Caí.
Já era tarde.
Aquele vício mitológico
levara-me tudo
e destruíra-me para
...sempre.
in “Poder da Díctamo” (José Amaral)
2 comentários:
Olá Zezé! Só para dar 1 abraço amigo.
João Gonçalves
Excelente!!! Tens de divulgar mais poemas "online" ;)
Enviar um comentário