Numa incursão, nestas férias, por uma livraria deparei-me, e em boa hora, com um expositor dedicado a Dino Buzzati. A escolha era variada, mas num primeiro momento chamou-me a atenção o livro O Deserto dos Tártaros (Cavalo de Ferro, 254 páginas). Refira-se que a obra de Dino Buzzati venceu entre outros os prémios Strega e Napoli.
Esta é uma daquelas obras aclamadas pela crítica e que lemos com agrado. Por vezes o relato parece cair numa monotonia, mas mesmo assim em momento nenhum pensamos em deixar a obra de lado. Bem pelo contrário, apetece-nos descobrir o que se seguirá.
A história ganha vida num deserto. Estamos na presença de Giovanni Drogo, recém-nomeado oficial. Destacado para a fortaleza Bastiani, Drogo aproxima-se com a sensação de que está prestes a casar-se com uma total solidão. Drogo deixa tudo para trás: a família, os prazeres da cidade, as mulheres… Drogo escolhe viver longe de tudo, embora, chegado à fortaleza quer “fugir de lá”. A fortaleza, enorme, amarela, situada nos limites do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros, acolhe-o na sua misteriosa imponência. Os anos vão passando e Drogo vai-se habituando àquele viver monótono, com um único pensamento: o dia em que o inimigo virá para atacar a fortaleza. Muitas vezes é com essa sensação que fica quem vive na fortaleza, pois são sombras e objectos fantasmagóricos que assaltam o dia-a-dia de quem ali vive. É neste pressuposto que Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a hipótese de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha. O tempo passa, os anos passam e a esperança de Drogo também passa. Drogo termina a sua existência humana e nós, leitores, sentimos um vazio, uma certa desilusão porque acabou aquela narrativa que nos fazia, por momentos, viver com Drogo na fortaleza Bastiani.
(José Amaral)
Esta é uma daquelas obras aclamadas pela crítica e que lemos com agrado. Por vezes o relato parece cair numa monotonia, mas mesmo assim em momento nenhum pensamos em deixar a obra de lado. Bem pelo contrário, apetece-nos descobrir o que se seguirá.
A história ganha vida num deserto. Estamos na presença de Giovanni Drogo, recém-nomeado oficial. Destacado para a fortaleza Bastiani, Drogo aproxima-se com a sensação de que está prestes a casar-se com uma total solidão. Drogo deixa tudo para trás: a família, os prazeres da cidade, as mulheres… Drogo escolhe viver longe de tudo, embora, chegado à fortaleza quer “fugir de lá”. A fortaleza, enorme, amarela, situada nos limites do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros, acolhe-o na sua misteriosa imponência. Os anos vão passando e Drogo vai-se habituando àquele viver monótono, com um único pensamento: o dia em que o inimigo virá para atacar a fortaleza. Muitas vezes é com essa sensação que fica quem vive na fortaleza, pois são sombras e objectos fantasmagóricos que assaltam o dia-a-dia de quem ali vive. É neste pressuposto que Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a hipótese de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha. O tempo passa, os anos passam e a esperança de Drogo também passa. Drogo termina a sua existência humana e nós, leitores, sentimos um vazio, uma certa desilusão porque acabou aquela narrativa que nos fazia, por momentos, viver com Drogo na fortaleza Bastiani.
(José Amaral)