Dez réis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
(António Gedeão)
(António Gedeão)
3 comentários:
Se não fosse a vontade... o que nos moveria?
Belo poema
Matos
É verdade... aliás, como diz este poeta... "o sonho é uma constante da vida".
Bom fim-de-semana
Abraço
Olá amigo Amaral!.
Se não fossem os sonhos, que seria da tal realidade?
Os sonhos, são a combustão de uma vida.
O complemente de nossa alma.
Beijos e uma semana:
Recheada de muita paz, amor e luzes.
Beijinhos da sua amiga do lado de cá.
Regina Coeli.
Enviar um comentário