liberdade
Passei por um rosmaninhal
e que bem que ele cheirava.
Cheirava a rosas
ou a corpos
acabados de lavar
em banhos perfumados.
Mas, o melhor cheiro
que de lá vinha
era o cheiro
a terra húmida
regada pelo orvalho
da manhã primaveril
de um qualquer
vinte e cinco de Abril.
Não, não cheirava a cravos
que esses,
houvera-os esgotado
a Revolução;
cheirava a rosmaninhos
lilases como o teu coração.
Esse teu coração
de pai austero
que vendo tão desgovernada
Liberdade
deixou de bater
e, ao anoitecer,
despigmentou-se
deixando-nos a todos
a sofrer.
Não quiseste
ficar atrás da Revolução
e criaste a tua própria
Liberdade.
Libertaste-te para a morte
renegando à vida.
Ali, naquele monte,
sepultura de teu corpo
inerte,
nasceu um rosmaninhal
que se mantém florido
tal e qual
como quando tu lá ias
colher rosmaninhos
para a fogueira
de S. João.
in Oráculo Luminar, José Amaral
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