A morte é um tema que assusta o Homem. Há pessoas que, pura e simplesmente, se recusam a falar sobre o tema, considerando-o um tema tabu. Hoje, 1 de Novembro, celebra-se a festa do Dia de Todos-os-Santos (do latim Festum omnium sanctorum). Amanhã, 2 de Novembro, celebra-se o Dia dos Fiéis Defuntos (também conhecido por Dia dos Finados). Estas celebrações têm mais simbolismo no mundo católico-cristão. Nestes dias recordam-se os que já partiram deste mundo (“memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” – lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar). As pessoas nestes dois dias recordam os seus mortos de forma mais saudosa. Os cristãos rezam pelos seus mortos e também por aqueles por quem, habitualmente, ninguém reza. O tema da morte é fonte infindável de criações literárias. Também a nível poético o tema é fonte inspiradora. Aos que já partiram (“requiescat in pace”, “rest in peace” ou simplesmente R.I.P.) e aos que partiremos um dia:
Remember
Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando não te tiver mais ao meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.
Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado
Delícia do presente por agora.
No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares
Um resto houver de afecto que em mim viste,
- Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.
(Christina Rossetti, tradução de Manuel Bandeira)
A Sepultura
Já tinhas pronta uma casa
inda estavas por nascer;
não é alta nem folgada,
mal te podes estender;
o tecto não se alevanta,
fica em cima do teu peito;
é à justa o comprimento
por tua medida feito;
as paredes são de terra
talhadinha com cautela;
não tem postigo nem porta
nem poderás sair dela;
chamas pelos teus amigos,
nenhum quedou a teu lado;
ninguém virá de mansinho
ver se dormes descansado:
pois só os vermes, aí
não terão nojo de ti
e te farão companhia.
(Anónimo séc. XIII, tradução Luiz Cardim)
carrasco
Quem és tu,
carrasco maldito,
que escavas
sete palmos de terra
e que depois
os aconchegas
às tábuas
do meu caixão?
Dá-te prazer?
É-te difícil?
Não invejo a tua sorte,
contudo peço-te
um favor:
atira brandamente
a terra para cima
do meu esquife.
Obrigado!
(José Amaral, in “Oráculo Luminar”)
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