sábado, 25 de agosto de 2007

Interrupção das férias

Um sucesso de bilheteiras, que vi recentemente e que recomendo vivamente é Ratatouille. Este filme dos estúdios Disney (Pixar) é um dos melhores filmes de animação que já vi. Trata-se da história de Remy que tem um dom: um olfacto apuradíssimo. O pai quer que ele cheire os alimentos para ver se contêm veneno, mas Remy considera-se um criador. O destino fá-lo cair na cozinha de Gusteau, um restaurante mundialmente famoso do seu ídolo em Paris. Remy vive o seu sonho de cozinhar, embora de forma pouco convencional, numa cozinha de verdade. Vai ser ele que ajuda o desajeitado Linguini a tornar-se num afamado chef.
Filme de animação a não perder.

Outro livro (este premiado com a Carnegie Medal) que li foi Tamar, de Mal Peet (Gailivro, 432 pág). Trata-se de uma história dupla e nela se cruzam o passado e o presente. É uma história recheada de factos reais e ficcionais. Encontramo-nos na presença de um complexo enredo de paixão, ciúme e tragédia. No presente, marcado pelo terror do quotidiano e, no passado, por episódios de horror que ocorreram na Segunda Guerra Mundial (nomeadamente as barbáries do nazismo).
Um livro muito bom, que recomendo, pois a sua leitura vicia e a(s) história(s) bem urdida(s) prende(m)-nos.



Outra leitura destas férias foi Ópio, de Maxence Fermine (Quetzal Editores, 165 pág.). Conta-nos a história de Charles Stowe, um inglês, que vai aventurar-se e seguir a rota do chá, decidido a descobrir o segredo dos chás. Durante a viagem várias peripécias acontecem e conhece várias pessoas. Entre elas, Loan, uma chinesa de olhos verdes e uma papoila branca tatuada no ombro. Por fim, consegue aceder aos jardins secretos, onde, uma flor perigosa o espera. Nada mais que... a flor do ópio e a mulher que lhe pertence.
Um livro de leitura fácil e agradável que se recomenda. Faz-nos recordar um pouco o “Perfume” de Suskind.


As férias serviram, também, para ir ao cinema. Destaco Dia de Surf, realizado por Ash Brannon e Chris Buck. Esta comédia de animação mostra os bastidores do emocionante mundo do surf de competição. O filme apresenta o perfil do pinguim Cody Maverick, um prometedor surfista que está a iniciar o seu primeiro ano no circuito profissional. Este pinguim deixa a família e aventura-se para concorrer ao Memorial Big Z. Conhece um inseparável companheiro: Chicken Joe.
A versão portuguesa está bem dobrada e destacam-se as vozes de Tiago Castro (Cody) e de António Feio (Chicken).


Nestas férias o primeiro livro que li foi Pânico, de Jeff Abbott (Civilização Editora, 468 pág.). Chamou-me à atenção a publicitação feita, baseada em críticas bastante favoráveis. Li-o e não desgostei, mas não passa de um thriller mais ou menos bem conseguido. Conta a história de Evan Casher, realizador de documentários, que está em plena ascensão e a sua relação com a namorada Carrie não podia correr melhor. Um telefonema urgente da mãe vem alterar o rumo da história e o inesperado acontece. Encontra a mãe brutalmente assassinada e escapa por pouco a uma tentativa de homicídio. Depois Evan é raptado, descobre que a sua vida é uma falsidade e para sobreviver tem de esconder o passado da sua família.
(José Amaral)

sábado, 4 de agosto de 2007

FÉRIAS!...


O AD LITTERAM VAI DE FÉRIAS E APROVEITA PARA DESEJAR A TODOS OS SEUS AMIGOS/LEITORES UMAS BOAS FÉRIAS. PARA AQUELES QUE JÁ AS GOZARAM, BOM TRABALHO!...


(José Amaral)

Poema para as férias


Luar

Um ominoso luar

quebrava,

enigmaticamente,

a calma celestial

daquela noite estival.


O piar

de um mocho

confunde-se

com o uivo

de um lobo que,

por sua vez,

se confunde

com o som do amanhecer

e o espreguiçar

de plantas e animais.


(in Outonalidades, José Amaral)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Homenagem às Mulheres

Mais uma sugestão de leitura para as férias. Acabei de ler o livro Peito Grande, Ancas Largas (602 pág., “Ulisseia”) do chinês Mo Yan (nascido a 5 de Março de 1955) que tem sido várias vezes mencionado como candidato ao Nobel da Literatura. Segundo Mo Yan, se quisermos podemos ignorar todos os seus livros, mas é obrigatório que leiamos “Peito Grande, Ancas Largas”, pois é um romance sobre a história, a guerra, a política, a fome, a religião, o amor e o sexo.Quando foi publicado em 1995 este romance causou grande polémica, devido ao teor sexual que percorre todo o livro e por apresentar uma versão da luta de classes diferente da do PC Chinês.
Este é um Romance épico sobre mulheres, num país dominado por homens, cujo expoente máximo é Shangguan Lu, a protagonista. Casa-se com dezassete anos e teve nove filhos. Para sua infelicidade só teve filhas, mas o último (gémeo da oitava) nasceu varão. Nenhum dos filhos é, contudo, do seu marido. O rapaz é inseguro e fraco ao contrário das irmãs. Este romance retrata e percorre a China do século XX. O livro está muito bem escrito e lê-se com bastante agrado. O único senão – aliado à totalidade das páginas – é o tamanho da letra e o espaçamento entre linhas. Nada que não se supere, pois o livro prende-nos a atenção.

O AD LITTERAM deixa aqui um pedacinho da história:

«A minha segunda irmã afastou então as pernas, dobrou-se pela cintura, e largou a correr, descrevendo um círculo completo. Os seus membros eram flexíveis como o ramo do salgueiro, os seus passos serpentes ondulando entre espigas finas. Era uma noite sem vento, porém de um frio penetrante, mas a minha irmã trazia apenas roupa fresca. A Mãe olhava pasmada; o corpo da minha irmã desenvolvera-se depressa depois de ela comer a enguia; tinha os seios como duas peras, graciosamente torneados, e viria a perpetuar, sem dúvida, a tradição gloriosa das mulheres Shangguan, todas com peito grande e anca larga. Depois do círculo completo a correr, nem sequer estava ofegante, mantendo uma postura inalterada».

(José Amaral)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Adolfo Correia da Rocha (1907-1995)

No ano do centenário de Miguel Torga (nasceu em 1907) e no mês do seu nascimento (12 de Agosto), aqui vos deixo um belíssimo poema:

bula da fábula

Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.

E realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.

(Miguel Torga)